Como é que a igualdade de género acelera a agenda ESG?

  • Alice Khouri, Filipa Pantaleão e Rita Rendeiro
  • 12 Janeiro 2023

Para algo ser sustentável no tempo (ou seja, durável e com eficiência), seja o meio ambiente ou as próprias empresas, é necessário uma estrutura sólida e salutar, e isso pressupõe igualdade de género.

A promoção da diversidade de género e a aceleração de uma transição sustentável em todos os três eixos ESG – E (environmental), S (social) e G (governance) – são desafios prementes da nossa sociedade.

Não é novidade que, relativamente ambos, Portugal tem ainda caminho a trilhar, mas menos discutida é a forma como estes desafios podem impulsionar-se mutuamente, e ser catalisadores um do outro.

Num domínio em que a quantificação é rainha, apontamos para o European Gender Equality Index, ocupando Portugal um pouco lisonjeiro 16º lugar, com desfasamentos notórios particularmente quanto à discriminação salarial e à sobrecarga de trabalhos domésticos na população feminina.

Abunda informação, de elevada qualidade, relativa à diversidade de género e a fatores ESG. O que acreditamos ser uma das chaves estratégicas e menos explorada nesta sede é: a igualdade de género não se resume a um pilar do “S” (Social), mas é intrínseca aos fatores ESG em várias dimensões, funcionando como um facilitador, e a redução do gap existente em termos de posição, cargo e remuneração entre géneros contribui diretamente para a implementação efetiva de uma cultura sustentável em todas estas vertentes. Senão, vejamos:

  1. Conhecimento. Em Portugal, há mais de 30 anos que as mulheres superam os homens em formação académica, e desde há 10 que possuem mais doutoramentos. Assim, em Portugal, em média, elas apresentam mais competências académicas nas áreas essenciais para o desenvolvimento de cada uma das vertentes Ambiental, Social e Governança. Ignorar, portanto, esse conjunto de expertises técnicas tão presentes no género feminino é travar o desenvolvimento em geral.
  2. Complementaridade. A Segunda Guerra motivou (criou a oportunidade!) da entrada das mulheres no mercado de trabalho, impactando o desenvolvimento económico de então. Hoje diríamos que, expectavelmente, a diversidade entre executivos e líderes com experiência e vivências transversais nas organizações permite a tomada de melhores decisões sob prismas diferentes e complementares, sendo possível agregar mais valor a partir de backgrounds diversificados, o que impulsiona de forma decisiva o crescimento das organizações e a sua sustentabilidade económica duradoura.
  3. Cooperação. Historicamente, a sociedade (e o mercado) atribuem certas características ao género masculino, tidas como essenciais para atingir resultados e alcançar crescimento: assertividade, competitividade, controlo. Características como organização, cooperação e ponderação, por outro lado, são atribuídas ao género feminino, e tendencialmente menos valorizadas na cultura corporativa. Contudo, na era do reconhecimento do desenvolvimento sustentável, focado na incontornabilidade dos fatores ESG para o crescimento económico e a prosperidade global, muitas destas características passam a ser decisivas, e exigidas por investidores e stakeholders, seja na vertente do “E” (a preocupação com o ambiente, a noção de cuidado e preservação), “S” (preocupação com os outros) ou “G” (preocupação com a reputação e estrutura).

À semelhança das Nature Based Solutions celebrizadas no contexto do “E”, é tempo de abraçar Human Based Solutions para quebrar as barreiras já identificadas na paridade de género, e aproveitar todo o potencial que a complementaridade entre géneros pode trazer. O foco em fatores ESG reforça esta necessidade, evidenciando que, se as empresas e a sociedade não adotarem valores e fundamentos sustentáveis a longo prazo, não se conseguirão comprometer com objetivos globais de sustentabilidade ambiental, climática, financeira, nem qualquer outra. Para algo ser sustentável no tempo (ou seja, durável e com eficiência), seja o meio ambiente ou as próprias empresas, é necessário uma estrutura sólida e salutar, e isso pressupõe igualdade de género e inclusão.

(Nota: esta é a primeira coluna do Women in ESG Portugal para o ECO/Capital Verde, e por meio deste canal, pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres que detêm expertise técnica na área. Para mais informações, acesse o site: www.winesgpt.com)

  • Alice Khouri
  • Women in ESG Portugal
  • Filipa Pantaleão
  • Secretária-geral do BCSD Portugal
  • Rita Rendeiro
  • Advogada na CCSL e Sustainable Finance

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