“BCE tem de ser mais previsível”, alerta Centeno

Governador do BdP sinaliza que é preciso cautela com os efeitos do desfasamento das políticas monetárias. Centeno defende também replicar mecanismo da emissão de dívida conjunta da UE.

Mário Centeno defende que o Banco Central Europeu (BCE) “tem de ser mais previsível”, sendo que “a política monetária atua com um desfasamento muito grande no tempo”. Numa entrevista no Podcast “E se falássemos da Europa”, o Governador do Banco de Portugal considera ainda que o NextGenerationEU, isto é, a emissão de dívida conjunta da UE que permitiu financiar os Planos de Recuperação e Resiliência, é um “Tesouro europeu”.

À conversa com a eurodeputada Margarida Marques, Centeno alerta que é necessária cautela com o efeito que o desfasamento no tempo das subidas de juros que o BCE está a determinar pode trazer à economia. Isto até porque tinha “muitas almofadas financeiras, porque a poupança tinha crescido na Covid-19 e é isso que também está a sustentar um pouco a resiliência da economia”.

O antigo ministro das Finanças ressalva que “não podemos ser complacentes com a inflação”, mas também é necessário equilíbrio: É uma trajetória estreita que tem que contar com a política orçamental”, argumenta. Mesmo assim, o governador do BdP admite que a inflação está a abrandar, pelo que “se não houver mais nenhum choque estamos num bom caminho”.

Já no Fórum Económico Mundial, em Davos, Centeno se tinha mostrado otimista face à economia da Zona Euro e a evolução da inflação, admitindo que se poderá escapar à recessão. Mas mantém o alerta para uma coordenação das políticas monetárias e orçamentais, para que os objetivos sejam alcançados.

No âmbito da recuperação económica, Centeno destaca também a importância da emissão de dívida conjunta da UE, que diz ter sido “um dos maiores saltos de integração europeia num momento muito difícil: Temos um Tesouro europeu”, afirma. O ex-ministro diz que o bloco se “está a endividar em nome de todos os países da Europa com um rating que muitos não conseguem ter para si de triple A”.

Apesar de ser um “instrumento criado para uma única utilização”, a resposta à pandemia, “vai ficar connosco muitas décadas porque a dívida que está a ser emitida vai ter que ser paga até 2058″. “É bom que nos habituemos a ele, que aprendamos a respeitá-lo e quase que a honrá-lo para poder ser replicado no futuro“, diz.

Margarida Marques e Mário Centeno, na gravação do podcast

O governador admite assim mais emissões de dívida conjuntas, apontando que “se demonstrarmos a valia deste tipo de intervenções, teremos muito mais facilidade em convencer-nos a nós próprios a replicar esta experiência”. Uma das formas de mostrar que o instrumento valeu a pena é conseguir a implementação dos PRR, que é importante para cada país e também para a Europa como um todo, defende.

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