Empresas portuguesas estão mais alinhadas com limite de 1,5ºC do que média europeia, mas não por muito

Até 2050, governos devem limitar o aquecimento global em 1,5ºC, mas até agora, só 5% das empresas na UE revela ter uma estratégia clara nesse sentido. Em Portugal, a percentagem sobe para 6%.

Brevemente, entrará em vigor uma lei europeia que obrigará a todas as empresas no bloco não só a comunicar um plano de transição climática rumo ao objetivo de limitar o aquecimento global em 1,5°C, como também a divulgar os impactos da sustentabilidade no seu relatório anual de gestão. Mas enquanto a diretiva Dever de Diligência da Sustentabilidade Empresarial não é transposta, as empresas devem começar a preparar este caminho.

A estratégia, embora pareça óbvia, ainda não é uma realidade universal no tecido empresarial. Na verdade, cerca de metade das empresas europeias assumem ter planos de transição climática para cumprir a meta do aquecimento global abaixo dos 1,5°C — mas apenas 5% mostram progressos significativos no desenvolvimento de um plano para atingir esse objetivo.

Em Portugal, as empresas portuguesas parecem ter um desempenho ligeiramente melhor do que a média europeia, com 6% das empresas consideradas “avançadas” e mais 49% em “desenvolvimento” e as restantes 45% com progressos “limitados”. As conclusões surgem no relatório divulgado esta quinta-feira publicado pelo Carbon Disclosure Project (CDP), organização sem fins lucrativos, e pela consultora Oliver Wyman.

“As empresas europeias estão a ficar aquém do desenvolvimento de planos eficazes de transição climática para cumprirem a meta de aquecimento global de 1,5°C, de acordo com a análise de empresas que representam cerca de 75% dos mercados bolsistas europeus”, começa por alertar o comunicado das duas entidades enviado às redações.

Todas as empresas que têm impacto no nosso ambiente precisam não só de objetivos claros, mas também de planos claros para a sua concretização e de provas de que o estão a fazer. A regulamentação da UE irá apertar em breve: passará a ser obrigatório as empresas terem planos claros que façam a transição dos seus modelos de negócio para uma meta de 1,5 °C.

Maxfield Weiss, Director Executivo do CDP

No entanto, olhando para o desempenho das empresas, a CDP e a Oliver Wyman concluem que a maioria dos planos carece de ambição e transparência em áreas-chave, tais como a governação, o planeamento financeiro, e o envolvimento na cadeia de valor.

Das empresas inquiridas, só 5% têm simultaneamente um objetivo de redução de emissões de carbono alinhado com a meta de aquecimento global de 1,5°C e reportam informação em dois terços dos indicadores-chave, confirmando ter “um plano de transição credível”.

O número cresce para entre 30 a 45% quando se consideram os esforços “em desenvolvimento”, que, de acordo com a CDP, “significa que têm objetivos de emissões menos ambiciosos” e potencialmente alinhados com a meta de 2°C. Nestes casos, estas organizações reportam informação sobre pelo menos metade dos indicadores. A maioria das empresas europeias mostrou progressos “limitados”.

Bancos já estão a avaliar estratégias rumo à meta de 1,5°C

O Dever de Diligência das Empresas e Sustentabilidade Empresarial prevê que as organizações que operem no espaço europeu (quer estejam estabelecidas ou não) sejam obrigadas a rastrear a cadeia de valor, até à sua origem, e analisar o seu impacto no meio ambiente, ao mesmo tempo que avaliam se os seus fornecedores respeitam as normas ambientais e não usam trabalho escravo ou infantil.

Embora 9 em cada 10 tenham iniciativas para reduzir as emissões, o relatório também encontra claras lacunas nas ações necessárias para a transição numa trajetória de 1,5°C. Por exemplo, apenas 26% avaliam até que ponto as despesas ou receitas se alinham com as metas de 1,5°C, e menos de 40% estão a levantar preocupações climáticas nos contactos com os fornecedores.

Certo é que, pelo menos, 8 em cada 10 instituições financeiras que reportam para o CDP já estão a avaliar os seus clientes na sua estratégia rumo à meta de 1,5°C em pelo menos alguns setores chave.

Como resultado, o relatório estima que até 40% de toda a dívida empresarial pendente das empresas analisadas (cerca de 1,8 triliões de euros) financia atualmente aquelas que não têm objetivos claros ou provas do desenvolvimento de planos de transição credíveis.

“O acesso ao financiamento pode tornar-se mais desafiante à medida que os bancos procuram atingir objetivos líquidos zero através da descarbonização dos seus livros de empréstimos”, defende o relatório da CDP e Oliver Wyman.

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