“Queremos ser uma escola que escreve os livros que os outros utilizam”

"Gostaria que fosse o MIT e Harvard a utilizar a referência dos nossos professores", diz Pedro Oliveira, em entrevista. Diretor da Nova SBE defende que as propinas deviam depender do rendimento.

Pedro Oliveira é desde este ano o diretor da Nova School of Business and Economics. Além de continuar a subir a posição da escola de negócios nos rankings internacionais, o sucessor de Daniel Traça quer dar muita importância à vertente académica, afirmando a universidade como “líder intelectual nalgumas áreas”.

A fasquia é alta: “A maior parte dos nossos professores utiliza nas suas aulas e na sua investigação muitos materiais, muitas referências bibliográficas que são dos professores do MIT e Harvard. O que gostaria era que num futuro próximo fosse um bocadinho ao contrário, que fosse o MIT e Harvard a utilizar a referência dos nossos professores“, afirma o novo dean, que foi até há muito pouco tempo professor da Copenhaga Business School.

A faculdade tem planos para estabelecer programas conjuntos com algumas das mais prestigiadas universidades americanas, como a New York University, Carnegie Mellon e Cornell, que contam com muitos estudantes asiáticos e que Pedro Oliveira acredita poder aliciar, desta forma, para Portugal. Nos planos está também a criação de novos institutos, com o apoio de empresas portuguesas e estrangeiras.

Quer colocar a Nova SBE no “top 10” do ranking de escolas de negócios europeias do Financial Times. Na última edição ficou no 24.º lugar. Como tenciona subir tantas posições?

Isto implica alguma engenharia de rankings para se perceber a resposta. O ranking das Best European Business Schools é uma combinação de quatro rankings: o do mestrado em Gestão, onde estamos em 15.º, os da formação de executivos e depois os rankings do MBA. Basicamente, tem de se atuar nestes quatro programas para garantir que, no ranking combinado, conseguimos estar nesta posição. Esse objetivo de chegar ao “top 10” é um bocadinho complicado, principalmente por causa do nosso MBA, que é partilhado com a Católica, o que significa que dividimos os pontos. Torna o objetivo uma prova mais difícil.

Tirando essa engenharia, o que vai a Nova SBE fazer para subir posições?

Temos de melhorar todos os programas, incluindo o Lisbon MBA, que também tem de subir significativamente no ranking. Ele tinha saído e acabou de entrar agora para a 24.ª posição. Mas não me vou restringir apenas aos rankings, estou preocupado com a qualidade geral da escola, que pode beneficiar muito de parcerias internacionais com escolas de topo. Temos neste momento planos para estabelecer alguns double degrees, parcerias para programas conjuntos, com escolas como a New York University, Carnegie Mellon, Cornell e já temos um programa em parceria com o MIT [Massachussets Institute of Technology], que é o nosso MBA. Acredito que se fizermos parcerias com escolas melhores do que nós, isso vai nos obrigar a tornarmo-nos cada vez melhores.

Temos neste momento planos para estabelecer alguns double degrees, parcerias para programas conjuntos, com escolas como a New York University, Carnegie Mellon, Cornell e já temos um programa em parceria com o MIT, que é o nosso MBA.

Há outras metas do plano estratégico que valha a pena destacar?

Queremos ser uma escola bastante inclusiva, garantindo que entram na Nova todos os que têm condições académicas para entrar e que ninguém fica de fora por razões económicas. Temos vindo a aumentar significativamente o número de bolsas. Este ano vamos dar dois milhões de euros, o que representa um aumento de 42% em relação aos anos anteriores. Uma parte significativa das nossas receitas é retornada desta forma à sociedade.

A ideia é continuar a aumentar este bolo?

A ideia é aumentar cada vez mais este bolo. Somos também uma escola muito internacional: 66% dos alunos do mestrado são estrangeiros e vemos isso como bastante positivo. No fundo encontra aqui quase umas Nações Unidas, com preponderância de europeus. Achamos que estes programas, em parceria com escolas americanas, vão trazer mais asiáticos. Ligamos aqui bem duas coisas: os americanos estão interessados em ter mais alunos europeus e nós temos interesse em diversificar ainda mais e atrair alunos de fora da Europa. Ao fazermos uma parceria com escolas como a New York University, que tem muitos indianos e chineses, podemos garantir que alguns deles acabam por vir para cá.

Um estudo da OCDE encomendado pelo Governo, divulgado no final do ano passado, defende que devia haver um sistema de propinas por escalão, em função do rendimento do agregado familiar. Por outro lado, temos partidos, e o próprio Governo também o fez no passado, a defender que não existam propinas. De que lado está nesta discussão?

Os modelos que fazem depender o pagamento de propinas dos rendimentos tendem a ser mais justos. O que acontece neste momento no ensino superior em Portugal é que existe uma taxa fixa, o que significa que há um valor que é irrisório para uma boa parte da população portuguesa, que podia pagar mais, e continua a ser caro para uma parte da população que, mesmo assim, não consegue mandar os filhos para a universidade. Esses sistemas tendem a não ser muito justos.

O que acontece neste momento no ensino superior em Portugal é que existe uma taxa fixa, o que significa que há um valor que é irrisório para uma boa parte da população portuguesa, que podia pagar mais, e continua a ser caro para uma parte da população que mesmo assim não consegue mandar os filhos para a universidade.

Concordaria então com uma alteração do sistema?

Fazer depender o pagamento de propinas do rendimento faz sentido. Venho da Dinamarca, onde não há propinas e esse também é um modelo justo. A grande diferença é que, não havendo propinas, as universidades têm muitos financiamentos, que é uma coisa que não existe em Portugal. Como o Estado é muito rico, como o país tem muitos recursos, a universidade têm frequentemente o problema de não conseguir gastar todos os recursos que tem.

Pedro Oliveira, diretor da Nova SBE, em entrevista ao ECO - 14FEV23
Pedro Oliveira, diretor da Nova SBE, em entrevista ao ECO Hugo Amaral/ECO

A Nova SBE tem uma visão mais empresarial e não estritamente académica. Esse modelo vai manter-se?

Há uma visão mais empresarial do que na generalidade das escolas em Portugal. E nesse sentido é uma visão mais parecida com as top business schools um pouco por esse mundo fora. Esse modelo vai manter-se.

Ainda assim, está a planear fazer alterações à forma como a universidade está organizada.

Sinto que temos de dar muita importância à parte académica. A escola neste momento já é líder num conjunto de áreas. Por exemplo, no que respeita à formação, as nossas licenciaturas são claramente líderes em Portugal. Os nossos programas de mestrado são claramente líderes a nível internacional. Temos de nos afirmar agora com uma escola que é líder intelectual nalgumas áreas.

Líder intelectual em que áreas?

Finanças talvez seja a área em que já somos “top 5” na Europa, pensando na investigação que os nossos cursos produzem. Há um conjunto de investimentos que temos de fazer para criar na Nova liderança em áreas como análise de dados, ciência de dados, inovação e empreendedorismo, sustentabilidade, gestão de tecnologia, public policy. São algumas das áreas onde temos possibilidade de nos afirmarmos como uma escola líder a nível global.

Ser não apenas uma escola que é muito boa a produzir e a disseminar o conhecimento que é produzido por outros, mas uma escola que escreve os livros que os outros utilizam.

Fazer isso também na parte da investigação.

Ser não apenas uma escola que é muito boa a produzir e a disseminar o conhecimento que é produzido por outros, mas uma escola que escreve os livros que os outros utilizam. Nalguns casos já será verdade, mas a maior parte dos nossos professores utiliza nas suas aulas e na sua investigação muitos materiais, muitas referências bibliográficas que são dos professores de MIT e Harvard. O que eu gostaria era que num futuro próximo fosse um bocadinho ao contrário, que fosse MIT e Harvard a utilizar a referência dos nossos professores.

Isso passa também pelos seis novos institutos que querem criar?

Temos de aumentar a quantidade de publicações em revistas de topo que fazemos aqui na Nova. Mas, por outro lado, há um conhecimento que também tem de ser aplicado. Tem de haver uma transformação da nossa investigação em utilidade económica e prática. As empresas têm de sentir que aquilo que estamos a fazer cá é particularmente útil.

Os institutos vão contribuir para essa vertente?

Esperamos que não sejam apenas centros de investigação, mas também são centros de interface com a sociedade onde vamos poder experimentar. Muitas vezes esses institutos são formados em colaboração com empresas.

Vão reforçar esse modelo? Já há empresas pensadas para esses institutos?

A ideia é expandir o modelo. Já há empresas que poderão assinar connosco contratos num futuro próximo, mas não posso adiantar. Já o fazemos com o Westmont Institute for Hospitality e o Haddad Entrepreneurship Institute, que é um instituto de empreendedorismo em que uma das iniciativas é um acelerador de empresas.

Pedro Oliveira, diretor da Nova SBE, em entrevista ao ECO - 14FEV23
Pedro Oliveira, diretor da Nova SBE, em entrevista ao ECO Hugo Amaral/ECO

Estas novas parcerias vão ser com empresas portuguesas e estrangeiras?

Os dois casos. À partida vamos ter algumas empresas internacionais. Temos outras empresas portuguesas que vão fazer connosco alguns destes institutos. E depois há um conjunto de institutos nos quais ainda não sabemos exatamente o que é que vai acontecer. Mas neste momento estamos a falar com organizações portuguesas e internacionais.

Se há uma coisa que me caracteriza, até porque também é o que estudo, é tender a ser colaborativo, a trabalhar com outros, a não tomar as decisões sozinho e gostar de ouvir o que os outros têm para me dizer.

Há algum estilo de liderança que o caracteriza e que vai adotar como diretor da Nova SBE?

Se há uma coisa que me caracteriza, até porque também é o que estudo, é tender a ser colaborativo, a trabalhar com outros, a não tomar as decisões sozinho e gostar de ouvir o que os outros têm para me dizer. Estudo inovação e aquilo a que chamamos cocriação. Em vez de tentar desenvolver sozinho um qualquer produto ou serviço beneficio, por exemplo, se trouxer os utilizadores para me ajudarem a perceber qual é o melhor design, qual é a melhor tecnologia para desenvolver este produto.

Como é que isso se vai traduzir na gestão da universidade?

Por exemplo, na forma como estamos a fazer o processo de desenvolvimento da estratégia da escola. Vai ser um processo aberto. Numa fase inicial tive de fazer uma candidatura com aquilo que era a minha visão para a escola e em que defini 60 medidas que achava que fazia sentido avançar. Depois criámos 12 grupos de trabalho que vão trabalhar cada uma das dez áreas que tínhamos definido e vão ou refinar aquilo que está no documento ou propor alterações. Teremos discussões mais alargadas com a escola sobre cada um destes temas. A escola não é uma pessoa, é uma grande organização e uma grande comunidade. No fim do dia, não é o dean que vai fazer as coisas acontecerem. Quando se tenta desenvolver uma estratégia há sempre um trabalho que passa por garantir que as pessoas estão envolvidas e que sentem que aquilo é delas. Porque se não for delas e não estiverem verdadeiramente motivadas, depois não acontece.

Tem algum autor ou alguma máxima de gestão preferida?

Tenho de ser otimista. Há um provérbio indiano que diz qualquer coisa do género “Everything will be all right in the end”. No fim, vai tudo correr bem. Se as coisas não estão a correr bem é porque não estamos bem no fim. A outra que gosto é aquela frase que sugere que se queremos ir longe, devemos ir juntos. Sozinho chego mais depressa aos objetivos, mas não consigo ir tão longe.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“Queremos ser uma escola que escreve os livros que os outros utilizam”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião