Há 123 anos que os investidores perdem dinheiro em obrigações do Tesouro

As obrigações e os Bilhetes do Tesouro registaram perdas reais nos últimos 123 anos. Portugal é um dos 6 países (em 21) onde os títulos de dívida pública geraram prejuízos para os seus investidores.

Investir em dívida pública não é um bom investimento. Nos últimos 123 anos, as obrigações do Tesouro registaram uma rendibilidade real média de -1,7% e os Bilhetes do Tesouro perderam, em média, 1,1% por ano.

Isto significa que desde 1900, os investidores que emprestaram dinheiro à República perderam dinheiro. Entre os 21 mercados analisados ao longo dos últimos 123 anos por Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton da London Business School para o Credit Suisse, Portugal é um dos seis países que se encontra nesta situação.

No entanto, Portugal é o único país em que os títulos de dívida de longo prazo (obrigações do Tesouro) renderam menos que os títulos de dívida de curto prazo (Bilhetes do Tesouro) entre 1900 e 2022.

Em teoria, esta dinâmica revela que nos últimos 123 anos, os investidores consideraram que Portugal tinha mais risco em pagar a sua dívida de curto prazo do que a dívida de longo prazo. Num ambiente saudável das finanças públicas, a relação seria exatamente a oposta.

Porém, não é indiferente a ocorrência de vários eventos ao longo de todo este tempo que podem impactar estes resultados. Basta lembrar que Portugal viveu em ditadura durante 48 anos (1926 a 1974). Por essa razão, João Duque, economista e presidente do ISEG, nota que “convém desagregar por períodos pois as médias escondem as realidades.”

Fazendo esse exercício, retalhando o desempenho dos títulos de dívida pública em outros dois períodos, a conclusão não é diferente.

Entre 1973 e 2022, por exemplo, os Bilhetes do Tesouro continuaram a gerar perdas para os investidores, contabilizando uma rendibilidade real média (já descontando o efeito da inflação) anual de -0,8% e as obrigações -0,5%. E mesmo quando se considera apenas os últimos 20 anos, verifica-se que os Bilhetes do Tesouro continuam a gerar perdas para os investidores (-0,9%).

“Esse raciocínio implica que os investidores estão expostos à inflação em Portugal”, lembra Filipe Garcia, economista da IMF, destacando que “investidores a comprar dívida pública nacional, incluindo Banco Central Europeu, permite emitir a yields baixas.”

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As ações são os ativos que mais rendem no longo prazo

A análise de Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton mostra claramente que os títulos de dívida pública estão longe de serem uma solução para quem quer investir no longo prazo. Mas não se fica por aqui. Revela também que Portugal é dos países onde o investimento em ações mais compensa face ao investimento em títulos de dívida pública.

Se por um lado os títulos de dívida pública revelam-se continuamente uma má solução para a carteira dos investidores, as ações são continuamente os ativos mais rentáveis para investir no longo prazo: se nos últimos 123 anos as obrigações e os Bilhetes do Tesouro geraram prejuízos para a carteira dos investidores, as ações ofereceram uma rendibilidade real média anual de 3,7%.

Na prática, significa que enquanto os investidores em títulos de dívida nacional observaram um definhamento das suas poupanças entre 1900 e 2022, os investidores em ações duplicaram o seu investimento a cada 20 anos.

E isto sucedeu mesmo sendo o mercado de ações português o mais volátil entre os 21 analisados. Segundo cálculos de Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton, as ações nacionais apresentaram uma volatilidade média anual de 33,5%, cerca do dobro das restantes bolsas.

“Portugal, Alemanha Áustria, Finlândia, Japão e Itália “foram os países mais seriamente afetados pelas depredações da guerra, pelos conflitos civis e pela inflação” nos últimos 123 anos, referem os académicos no “Credit Suisse Global Investment Returns Yearbook 2023“, publicado na quinta-feira.

Esta realidade não é exclusiva de Portugal. As ações superaram as obrigações e os títulos de dívida de curto prazo em todos os mercados. Desde 1900, as ações mundiais superaram, por ano, em 4,6% a rendibilidades dos títulos de dívida de curto prazo e em 3,3% as obrigações. E esta dinâmica não se altera reduzindo o período de investimento.

Em Portugal, por exemplo, mesmo encurtando o período do investimento para os últimos 20 anos (de 2003 a 2022), as ações revelaram-se também no ativo mais rentável. Enquanto os Bilhetes do Tesouro continuaram a apresentar uma rendibilidade real média anual negativa (-0,9%) e as obrigações do Tesouro renderam 2,6% por ano, as ações valorizaram 3,3% por ano.

Pode até parecer pouca a diferença entre os ganhos oferecidos pelas ações e pelas obrigações do Tesouro neste período, mas num investimento de 1.000 euros, a diferença de 70 pontos base por ano traduz-se numa diferença de 225 euros ao final de 20 anos, com as ações a gerarem ganhos 14% acima do que foi oferecido pelos Bilhetes do Tesouro.

Fonte: ECO e Credit Suisse Global Investment Returns Yearbook 2023.

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