EDP lança nova estratégia. Conheça os destaques
Aumentos de capital, reforço do investimento, críticas a políticas europeias, novas políticas de dividendos... a apresentação da nova estratégia da EDP teve de tudo um pouco.
Guerra na Ucrânia. Inflação. Taxas de juro em níveis recorde. Desafios na cadeia de abastecimento. É neste contexto económico que a EDP anunciou a sua estratégia e plano de investimento para os próximos anos, até 2026. Tem metas mais ambiciosas, grandes operações de angariação de capital, um reforço no investimento.
Para a empresa, esta é a abordagem que melhor se adequa à realidade. “Estamos perfeitamente conscientes do que está a acontecer. É por isso que apresentamos este plano”, atirou o CEO da EDP, Miguel Stilwell de Andrade, na apresentação que fez destes planos, no Capital Markets Day.
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Investimento reforçado e renováveis em foco
Entre 2023 e 2026, a EDP vai investir 25 mil milhões de euros, dos quais 21 mil milhões de euros em renováveis — 85% do total — e quatro mil milhões de euros (15%) em redes de eletricidade. Estas intenções de investimento representam um reforço de 30% face ao plano de negócios anterior.
O crescimento acelera para mais de 4 gigawatts (GW) por ano, o que totaliza 17 GW no final dos três anos até 2026. Em 2026, a energia com maior peso será a eólica (46%), seguida da solar (24%) e pela energia hídrica (17%). Com uma representatividade mais curta deverá estar o solar distribuído (9%), o eólico offshore (2%) e o armazenamento e hidrogénio (outros 2%).
A empresa afirma que já está presente nos territórios que lhe suscitam maior interesse, pelo que espera essencialmente “aprofundar e consolidar” a operação onde já está presente. E o mesmo se passa com as tecnologias. “Vamos manter os olhos abertos, mas já estamos em todas as tecnologias que queremos agora estar”, afirmou Stilwell.
No entanto, além de renováveis e das redes, existem mais duas categorias de investimento que mereceram destaque na apresentação. A digitalização do negócio, que “merece” dois mil milhões de euros, e a inovação (quer interna quer em venture capital, por exemplo), que capta mil milhões.
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Dois aumentos de capital e uma OPA no Brasil
A EDP anunciou que irá fazer um aumento de capital de mil milhões para financiar uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre o total do capital social da EDP – Energias do Brasil. Como consequência, esta empresa deixará de estar cotada em bolsa, à partida no segundo semestre deste ano. Ao final da tarde, a empresa comunicou que o primeiro passo para a operação já foi dado. Já há um parecer prévio favorável do Conselho Geral de Supervisão, e o aumento de capital deverá ser aprovado esta sexta-feira.
Esta aquisição “cria valor, permite ganhos a ambas as partes e simplifica as operações no Brasil”, explicou o CEO da EDP. Neste território, a aposta será sobretudo nas redes elétricas e no solar distribuído.
Em paralelo, e após o anúncio na segunda-feira da intenção de um aumento de capital de 275 milhões na sequência de uma nova política de remuneração acionista, a EDP Renováveis terá também direito a um aumento de capital de mil milhões de euros, com o objetivo de financiar novos investimentos. A GIC, um fundo soberano de Singapura, comprometeu-se a subscrever aproximadamente mil milhões de euros, embora a EDPR possa não atribuir à GIC o montante total. Pode realocar até 150 milhões.
“Uma das forças da EDP é a estrutura de acionistas. Uma base diversificada e internacional. Permite-nos continuar a crescer e fazer este tipo de aumentos de capital”, defendeu o líder da elétrica. Referiu ainda que, uma vez que a China Three Gorges pretende manter a posição que tem atualmente na EDP, vai avançar com uma fatia de 21% no aumento de capital, do qual a GIC vai também fazer parte, com cerca de 150 milhões de euros, e há ainda o contributo da ADIA, de 150 milhões de euros. No total, cerca de 600 milhões estão assegurados.
Além destes “impulsos” financeiros, o CEO relevou ainda que a empresa vai continuar a apostar na estratégia de rotação de ativos, e tem como objetivo manter 70% da sua base e vender os restantes 30% para financiar novos investimentos. Com esta estratégia, entre 2021 e 2022, a EDP diz ter conseguido ganhos, em média, de 40%.
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EDP adianta-se nas metas da folha de balanço, operacionais e ambientais
A empresa espera impulsionar os lucros recorrentes para o patamar dos 1,4 mil milhões a 1,5 mil milhões em 2026, quando no anterior plano estratégico previa ficar pelos 1,2 mil milhões de euros em 2025. Agora, esta fasquia deverá ser atingida, ou mesmo os 1,3 mil milhões, já em 2024.
E a mesma tendência verifica-se com o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Em 2026 está projetado para chegar aos 5,7 mil milhões de euros, atingindo os 5,4 mil milhões já em 2024, quando no plano anterior o objetivo eram os 4,7 mil milhões em 2025.
Na operação, a implementação de 4 gigawatts por ano que estava prevista no documento estratégico de 2021-2025, dá lugar a 4,5 GW anuais entre 2023 e 2026.
No que diz respeito ao ambiente, aos antigos objetivos de terminar as operações com base no carvão junta-se a da neutralidade carbónica em 2040.
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EDP mais generosa nos dividendos
O Capital Markets Day, na sua génese virado para os investidores, marcou o “grande final” nas novidades quanto à remuneração acionista, que já vinham a acumular-se desde o início da semana. A EDP anunciou a implementação de uma nova política de dividendos, com um rácio de payout entre 60-70% e um aumento do dividendo mínimo para 20 cêntimos por ação em 2026. Entre 2024 e 2025, o esperado é que o dividendo suba já para os 19,5 cêntimos, 0,5 cêntimos acima do patamar atual, que se tem mantido constante.
Dias antes, a empresa já havia anunciado que a subsidiária EDP Renováveis vai propor que, em vez de dividendos, passem a ser dados direitos sobre a emissão de novas ações, o que se traduz, na prática, num aumento de capital de 275 milhões de euros, a concretizar-se este ano. O payout ratio, neste caso, situa-se no intervalo entre 30 a 50%.
As alterações em termos da política de dividendos são justificadas pelo gestor da seguinte forma: “Estamos a alinhar o payout ratio com as empresas comparáveis. Foi uma lógica de benchmarking”.
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Dívida sobe, com promessas de disciplina
Ao longo do dia, foi reiterada vezes sem conta a mensagem de que, apesar dos vários anúncios em termos de investimento e angariação de capital, há um “compromisso absoluto” por parte da EDP em manter a dívida no rating BBB.
Promete a manutenção de um balanço sólido, suportado pelo fluxo de caixa orgânico e pela rotação de ativos, apesar de prever um aumento da dívida líquida de 4 mil milhões, para os 17 mil milhões, contrariando a trajetória de redução que tinha vindo a verificar-se desde 2013.
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Estados Unidos passam a perna à Europa nos incentivos
Geograficamente, os investimentos da EDP até 2026 vão distribuir-se em partes iguais pela América do Norte e a Europa: uma fatia de 40% para cada lado. A terceira maior fatia, de 15%, cabe à América do Sul, e os últimos 5% dirigem-se à Ásia.
Mas, embora o líder da EDP tenha tecido repetidos elogios ao plano através do qual o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pretende impulsionar as energias renováveis no seu país – o Inflation Reduction Act (IRA), o mesmo não aconteceu em relação ao cenário europeu, que mereceu algumas críticas.
“Se mudamos as regras a cada três meses, não é bom para investimentos a longo prazo. Não é bom quando não existe previsibilidade, um dos problemas da Europa no último ano. Gerou uma incerteza regulatória. É uma das razões para a Europa estar a perder alguma competitividade em relação aos Estados Unidos”, discorreu.
Na opinião do gestor, a Europa tem de fazer “algo parecido” com os Estados Unidos, em vez de apostar em novos impostos. Em Espanha, estima um impacto entre 40 a 50 milhões de euros, decorrente do novo imposto sobre as energéticas e a banca. Na Polónia e Roménia, o impacto inicialmente estimado em 300 milhões, com o imposto clawback, já desceu para 100 milhões, e Stilwell diz-se confortável em relação à Polónia, embora a questão na Roménia ainda esteja sob avaliação.
Confrontado acerca da posição relativamente ao mecanismo ibérico, Stilwell remata que “a Europa devia ter um modelo consistente e igual para todos os países” e as exceções “começam a fragmentar a Europa”.
A jornalista viajou a Londres a convite da EDP.
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