Mike Davis procura investidores para “vestir” mais lojas
Após perder na pandemia quase 50% das vendas e o acordo com um fundo de investimento, Mike Davis volta ao mercado para “levantar" três milhões de euros e financiar plano de crescimento a cinco anos.
Uma década depois de assumirem o controlo partilhado da Mike Davis, que até 2013 tinha Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Club de Portugal (ACP), como maior acionista, Filipe Soares Franco e Luís Aranha preparam-se para lançar uma operação para financiar o crescimento da empresa de vestuário. Uma “pretensão antiga” e que esteve quase a avançar antes da pandemia – chegou mesmo a ter “um acordo assinado com um fundo de investimento” –, mas “a Covid-19 e as condições de mercado” acabaram por cancelar essa primeira iniciativa.
“Durante o ano de 2023 iremos estabilizar uma parte importante da operação e pretendemos levantar um valor importante, que nos permita financiar capital fixo e circulante para os próximos cinco anos. Temos neste momento o objetivo de levantar três milhões de euros, e em breve iremos estruturar as condições desta operação”, avança ao ECO o presidente executivo, Luís Aranha, sublinhando que estão igualmente “abertos a parcerias estratégicas que [lhes] permitam acelerar a expansão e o crescimento” da empresa do Porto, fundada em 1976.
Foi em 2013, quando a Mike Davis estava mergulhada num ciclo negativo, de vendas a cair, lojas desatualizadas, dívidas à banca a crescer e prejuízos a acumularem-se, que este empresário que iniciou a carreira na Vista Alegre e viveu mais de duas décadas na Ásia – liderou as operações da Pernod Ricard e da Nina Ricci no Japão –, se aliou ao amigo de infância e ex-presidente do Sporting, que já detinha uma quota de 17%. Nos primeiros cinco anos, atesta, a Mike Davis conseguiu registar “um crescimento notável”, chegando a 2017 com quase 15 milhões de euros de faturação.
No entanto, as más notícias voltaram no ciclo seguinte. Primeiro, a retalhista atravessou “um período muito difícil em resultado de problemas do fornecedor de malha circular em 2018 e 2019”. “Depois de organizada uma nova recuperação, fomos apanhados pela Covid e em 2020 e 2021 perdemos quase 50% da faturação, com sete meses com as lojas fechadas e os restantes a trabalhar com as limitações que são conhecidas”, prossegue Luís Aranha.
E em 2022, quando esperava uma “recuperação mais forte”, as restrições pandémicas impostas pelo Governo e o início da guerra na Ucrânia vieram causar “perturbações de monta no mercado”. Apesar de o arranque do ano passado ter sido “muito fraco” em termos comerciais, conseguiu recuperar parte do negócio nos meses seguintes e chegou ao fim do último exercício a aproximar-se novamente dos dez milhões de euros de vendas. Acima do patamar dos sete milhões para que tinha caído nos dois anos anteriores, mas ainda abaixo do registo pré-pandemia.
Os prejuízos [nos anos de pandemia] foram avultados porque não tivemos quase nenhuma ajuda do Estado, à exceção de um pequeno apoio ao layoff simplificado. Pelo contrário, neste percurso difícil, o Estado afastou-se da resolução do problema dos lojistas, em particular no caso dos shoppings, e beneficiou os grandes grupos imobiliários.
“Sobrevivemos [nos últimos três anos] porque temos um grupo de fornecedores que nos apoiou e porque os acionistas apoiaram também a empresa, mantendo o investimento em lojas novas, em renovação de lojas e coleções, e protegendo os colaboradores da empresa. Os prejuízos foram avultados porque não tivemos quase nenhuma ajuda do Estado, à exceção de um pequeno apoio ao lay-off simplificado. Pelo contrário, neste percurso difícil, o Estado afastou-se da resolução do problema dos lojistas, em particular no caso dos shoppings, e beneficiou os grandes grupos imobiliários, sediados na sua maioria fora de Portugal”, critica Luís Aranha.
A Mike Davis tem atualmente seis lojas em centros comerciais e quatro em outlets, que seguem o mesmo tipo de contratos. E os valores dessas rendas continuam a aumentar, continua, porque os shoppings têm “o controlo do negócio”. O empresário denuncia que “são propriedade de grandes empresas que gerem a fiscalidade como melhor lhes convém e mantém horários que prejudicam de forma clara o comércio de rua e os pequenos comerciantes”. “Mas ninguém faz nada. Estão aliados aos grandes grupos e marcas internacionais, como a Inditex, a H&M e outros, o que lhes permite gerir o negócio de forma parcial”, desabafa.
“Duas a quatro novas lojas por ano” até 2027
Depois de no ano passado ter fechado os dois espaços que tinha nos principais shoppings de Braga (Braga Parque e Nova Arcada) e ter aberto uma loja de rua na mesma cidade minhota, uma em Lisboa (Rua Nova do Almada, no Chiado) e outra em Loulé (Outlet do Mar Shopping), a empresa terminou 2022 com um total de 27 lojas em Portugal: 22 próprias e cinco franquiadas, e emprega 110 pessoas. Tem igualmente clientes com espaços multimarca, mas o peso na faturação é “pequeno”.
Luís Aranha assegura ao ECO que a Mike Davis tem em curso um plano de expansão – o mesmo que já tinha em 2019, mas que teve de interromper por causa da Covid –, que prevê a abertura de “duas a quatro novas lojas por ano nos próximos cinco anos”. “E pensamos duplicar a faturação durante este período e melhorar a performance financeira da empresa, mas precisamos igualmente de encontrar parceiros”, acrescenta.
Nascida num clube de ténis da Foz, na cidade Invicta, e registada com o nome de um emblemático tenista galês, a marca tem cerca de 80% do vestuário na linha masculina e contabiliza que 98% das peças de vestuário são fabricadas em Portugal – “somos a única marca no mercado que pode fazer esta afirmação e essa é uma questão estratégica”. Ainda com poucas vendas no estrangeiro, o porta-voz conta que está a “trabalhar na implementação do negócio B2B [business-to-business] através de marketplaces que possam ajudar”.
Aliás, o comércio eletrónico, que neste momento representa apenas 5% das vendas totais, é uma das áreas em que pretende “investir mais” para continuar a crescer. “Em 2023 pretendemos melhorar estes valores, como consequência do alargamento das equipas de apoio e do investimento em marketing digital. É uma área muito complexa e que exige competências muito específicas, e a contratação de colaboradores com características muito particulares”, conclui Luís Aranha.
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