Cinco alternativas para rentabilizar o reembolso do IRS
As Finanças já começaram a proceder ao reembolso do IRS relativo a 2016. Esta é a altura certa para pensar na melhor aplicação das quantias recebidas. Conheça cinco alternativas de baixo risco.
“Palavra dada é palavra honrada”. Tal como previsto, 15 dias depois do arranque do prazo para a entrega das declarações de IRS relativas a 2016, o Governo já começou a reembolsar os contribuintes que fizeram o IRS automático. Na passada quarta-feira, o ministro das Finanças, Mário Centeno, confirmou que o seu ministério iria liquidar até à passada quinta-feira o IRS de 55 mil contribuintes. Para estes contribuintes, e outros que entretanto se juntarem, isto significa que deverão ver as suas contas bancárias engordarem nos próximos dias. Uma das questões que se impõe é qual será o melhor destino a dar ao imposto devolvido pelo Estado?
Para muitas famílias, a quantia a amealhar não será muito elevada, mas tal não significa que não mereça uma boa aplicação. O ECO mostra-lhe cinco formas distintas de rentabilizar 1.000 euros de reembolso. Seja através da amortização de dívidas, da constituição de poupanças de curto a médio prazo, seja a pensar na reforma. Conheça-as.
1. Pague-se primeiro
Muitas famílias têm por hábito usar o reembolso de IRS para fazer face a despesas extraordinárias, como pagar o seguro do carro ou o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), ou então para ajudar a compor o orçamento das férias. Mas para quem tenha entretanto acumulado créditos, liquidar ou, pelo menos, amortizar uma parte as quantias em dívida promete ser a escolha acertada. Ao fazê-lo irá conseguir aliviar o fardo do pagamento de juros.
No caso do crédito à habitação, esta opção não oferece grande vantagem. Por um lado, o valor do reembolso tende a ser uma quantia demasiada baixa para que a sua utilização na amortização do crédito à habitação tenha um impacto relevante em termos de poupança com juros. Por outro lado, o nível historicamente baixo das Euribor faz com que também não compense realizar amortizações de empréstimos da casa. Esta amortização apenas valerá a pena nos casos em que a taxa de juro associada ao empréstimo da casa seja superior àquela de que beneficiaria ao aplicar o dinheiro num produto financeiro.
No caso do crédito ao consumo ou dos cartões de crédito, o cenário já será distinto, tendo em conta que as taxas de juro que lhe estão associadas são habitualmente bastante elevadas. Ou seja, aí já valerá a pena liquidar ou amortizar quantias em dívida. No que respeita aos cartões de crédito, por exemplo, as taxas de juro que os bancos cobram pela ultrapassagem do prazo de reembolso da quantia emprestada, facilmente os juros cobrados poderão chegar aos 17%. Já no caso do crédito pessoal sem finalidade específica, os custos com juros podem aproximar-se dos 14%.
A título de exemplo, um crédito pessoal de 10 mil euros por um prazo de 60 meses que tenha associada uma taxa de juro na ordem dos 14%, uma amortização de mil euros irá permitir uma poupança de 136 euros no primeiro ano e de cerca de 413 euros ao fim dos 60 meses de vida do crédito.
2. Investir a prazo
Para quem pretenda colocar o seu dinheiro a render, os depósitos a prazo são a alternativa mais popular, apesar do potencial de retornos não ser muito apelativo. A responsabilidade cabe ao nível historicamente baixo dos juros que afeta a remuneração desta classe de produtos financeiros. Os bancos estão a remunerar as novas aplicações em depósitos a prazo, à taxa de juro média mais baixa desde pelo menos os últimos 14 anos. Em fevereiro, os bancos pagaram uma taxa de juro bruta de 0,33%, em média, neste tipo de produtos financeiros.
As melhores taxas de juro estão disponíveis para aplicações de valores mais altos, sendo que para uma poupança de mil euros e um prazo de um ano, apenas um produto consegue remunerar acima de uma taxa bruta de 1%, entre um conjunto de 16 instituições financeiras cuja oferta foi analisada pelo ECO. É o caso concreto do BNI Europa que paga uma taxa de juro bruta de 1,85%, a 12 meses, na subscrição do depósito “BNI Europa”. Em termos práticos, essa aplicação irá permitir um retorno líquido de 13,32 euros, no fim do prazo.
Os depósitos a 12 meses mais rentáveis em cada banco
Contudo, na generalidade das instituições o retorno possível é bastante baixo. Na análise da oferta de depósitos a prazo de 16 bancos a operar em Portugal, não se consegue encontrar, tendo em conta o cenário considerado, aplicações que paguem, em termos brutos, mais de 0,65%. No caso do BPI, colocar o dinheiro num depósito a prazo não rende qualquer juro.
3. Rentabilizar à boleia do Estado
Outra solução de baixo risco para aplicar o valor do reembolso serão os produtos de poupança do Estado. Mais em concreto, os Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM). Mil euros é precisamente a quantia mínima para poder investir neste produto, sendo que o seu principal inconveniente é o facto de não ser possível resgatar o dinheiro durante o primeiro ano de aplicação, algo que também acontece com alguns depósitos a prazo.
Quando comparado com a maioria dos depósitos a prazo disponíveis do mercado, a opção pelos CTPM é mais vantajosa em termos de retornos. Estes são remunerados a taxas crescentes: 1,25% no primeiro ano, 1,75% no segundo, 2,25% no terceiro, 2,75% no quarto ano e 3,25% no quinto ano, em termos brutos. Ou seja, apontam para uma taxa de juro bruta média de 2,25% ao final dos cinco anos. Todavia, caso a economia portuguesa apresente um crescimento real no quarto e no quinto ano após a subscrição, é acrescentado um prémio aos juros desses períodos. Aplicar mil euros em CTPM irá assim render nove euros, em termos líquidos, ao fim do primeiro ano. Já no final dos cinco anos, o retorno será no mínimo de 81 euros, em termos líquidos.
Quando comparados com o universo de depósitos a prazo considerados, há apenas um depósito a 12 meses que oferece uma taxa de juro mais elevada do que os CTPM. Trata-se do depósito “BNI Europa”, do banco BNI Europa, que oferece uma taxa de juro bruta de 1,85%. Ou seja, aplicar o valor do reembolso de IRS em CTPM tenderá a compensar mais do que na generalidade dos depósitos a prazo.
Também os certificados de Aforro atualmente disponíveis para subscrição — a série D — oferecem taxas de juro mais atrativas quando comparadas com os depósitos a 12 meses considerados. Este produto de poupança do Estado está disponível para aplicações mínimas de 100 euros, sendo que as subscrições realizadas neste mês de abril oferecem uma taxa de juro bruta de 0,671%.
4. Fundos para concorrer com os depósitos
Os fundos de Tesouraria têm vindo a conquistar o interesse dos investidores como forma de diversificarem as suas aplicações, sobretudo numa altura em que os depósitos a prazo apresentam retornos muito baixos. Para quem pretenda escolher um produto de baixo risco para aplicar o valor do reembolso de IRS, esta classe de fundos de investimento podem também ser uma boa via. Estes fundos apostam sobretudo em títulos de grande liquidez (depósitos a prazo, papel comercial), o que à partida oferece um bom grau de segurança. Esta segurança é ainda cimentada pela diversificação de investimento que está associada aos fundos de investimento. Muitos aforradores também têm recorrido a este instrumento como forma de escapar ao pagamento das comissões de conta.
Os fundos de tesouraria mais rentáveis no último ano
Em termos de retornos, não é possível antecipar o que irão oferecer no futuro. É apenas possível olhar para as rentabilidades passadas, que não oferecem nenhuma garantia de retornos futuros. No último ano, o melhor produto ofereceu uma rentabilidade de 1,25%, que é superior à taxa de muitos dos depósitos a prazo.
5. De olho na reforma
Outra das soluções para rentabilizar o reembolso do IRS é investi-lo a pensar no futuro. Ou seja, aplicá-lo num plano poupança reforma (PPR). Tendo em conta a crise demográfica, a alteração à fórmula de cálculo do valor da reforma em Portugal, e a expectável quebra do valor das reformas, usar o valor do subsídio para aplicar num PPR ganha ainda mais força. De acordo com um estudo recente do BBVA Pensões, o valor que os portugueses consideram necessitar para se manterem após a idade da reforma é o triplo do valor da pensão média.
A aposta no reforço da reforma poderá ser feita, por exemplo, através de fundos PPR. Estes produtos são disponibilizados pelas gestoras de ativos, sendo possível escolhê-los de acordo com o perfil de risco do aforrador. Os fundos PPR são segmentados por níveis diferentes de risco, de acordo com o grau de exposição ao investimento em ações.
Os fundos PPR com menor risco mais rentáveis no último ano
No caso de um aforrador que esteja mais próximo da idade da reforma será mais vantajoso optar por um fundo de investimento PPR com um grau de risco mais baixo, tendo em conta que nessa fase é aconselhado a evitar perdas. Ou seja, fundos com maior exposição ao mercado acionista são menos aconselhados. Já se o aforrador for mais jovem e estiver disposto a assumir um grau de risco mais elevado, a opção por um fundo PPR mais agressivo poderá ser vantajosa, já que o espaço temporal para compensar eventuais perdas que possa sofrer é mais dilatado.
Os fundos PPR agressivos mais rentáveis no último ano
Apesar de as rentabilidades passadas não serem garantia de retornos futuros no que também diz respeito aos fundos PPR, independentemente do nível de risco associado, houve vários produtos que ofereceram retornos acima dos 5% no último ano.
Para além da vantagem de ajudar a fomentar a poupança para a reforma, a subscrição ou reforço de um PPR apresenta benefícios fiscais. É possível deduzir no IRS 20% das contribuições realizadas. No caso de indivíduos com menos de 35 anos essa dedução tem um limite de 400 euros, entre os 35 e os 50 anos, o limite são 350 euros, enquanto para idades acima de 50 ano, o limite é de 300 euros. Ou seja, assumindo um aforrador que aplique mil euros num PPR irá ver deduzidos 200 euros no global das deduções à coleta. No entanto, é necessário ter em consideração que o contribuinte só pode tirar partido desse benefício caso o limite máximo de deduções previsto pelo Fisco com as despesas de educação, saúde e habitação não tenha sido atingido.
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