Fundos de tesouraria estão de regresso. Valem a pena?

A confiança regressou em força aos fundos de tesouraria em 2016. Não renderam muito, mas ajudaram a contornar os baixos juros dos depósitos e os custos de manutenção das contas bancárias.

Os fundos de tesouraria voltaram a brilhar em 2016. Foi esta a classe de fundos que mais cresceu o ano passado, registando subscrições líquidas de cerca de 270 milhões de euros, um desempenho que permitiu contrariar a maior fuga de capitais que os fundos nacionais observaram desde o resgate da troika. A baixa remuneração dos depósitos bancários e os custos de manutenção nas contas bancárias ajudam a explicar por que motivo estes fundos de curto prazo voltaram a merecer a confiança das famílias portuguesas, após o papel comercial do BES ter provocado uma razia na capitalização nesta classe de fundos no final de 2014. Ainda assim, extrair rendibilidades atrativas destes fundos vai continuar a ser desafiante em 2017.

“Os aforradores estão a inclinar-se para os fundos de tesouraria, não só como alternativa de baixo risco num contexto em que os depósitos a prazo quase não geram rendimento, mas também como forma de não pagar custos de manutenção de conta“, explica Steven Santos, do Banco BiG.

Diogo Teixeira salienta a diversificação e segurança que estas formas poupança e investimento conferem. “Não nos podemos esquecer do facto de os fundos serem instrumentos diversificados, que não dependem da solidez de uma única instituição como são os depósitos. (…) São por construção instrumentos que oferecem uma boa proteção do património investido”, diz o presidente da gestora de fundos Optimize.

"Os aforradores estão a inclinar-se para os fundos de tesouraria, não só como alternativa de baixo risco num contexto em que os depósitos a prazo quase não geram rendimento mas como forma de não pagar custos de manutenção de conta.”

Steven Santos

Banco BiG

Em 2016, a indústria nacional de fundos de investimento perdeu brilho. Sofreu resgates líquidos próximos dos mil milhões de euros no ano passado, tratando-se do nível de saídas mais elevado desde 2011, ano em que Portugal pediu assistência financeira à troika, de acordo com os dados da associação que agrega a maioria das gestoras nacionais de ativos (APFIPP).

Mas esse não foi o caso dos fundos curto prazo euro, anteriormente denominados fundos de tesouraria, e que apostam sobretudo em títulos de grande liquidez (depósitos a prazo, papel comercial). Entre as subscrições de 680 milhões de euros e os resgates de 411 milhões, fecharam o ano com saldo positivo de 268,6 milhões de euros — o mais elevado entre as quatro classes de fundos que escaparam à maré de resgates.

A verdade é que se a procura se revelou sólida, não foram as rendibilidades destes fundos a chamar a atenção dos aforradores nacionais. Os fundos Banco BIC Tesouraria e NB Tesouraria Activa até alcançaram um retorno acima de 1%, mas a maioria dos fundos de tesouraria apresentaram rendibilidades que não terão sequer compensado a subida generalizada dos preços.

Tesouraria rende mas pouco

Fonte: APFIPP (valores em percentagem)
Fonte: APFIPP (valores em percentagem)

Diogo Teixeira refere que “os fundos de tesouraria só podem ser considerados enquanto instrumentos de proteção contra a inflação, e não como formas de rentabilização do património, já que raramente conseguem oferecer rentabilidades superiores à inflação”. Uma afirmação que o gestor leva a concluir: “Daqui para a frente essa realidade irá manter-se”.

E num enquadramento de taxas de referência negativas e inflação crescente no centro da Zona Euro, “alcançar rentabilidades positivas acima de 1% poderá afigurar-se como um desafio para 2017“, diz Steven Santos. Ainda assim, são uma alternativa válida face às baixas taxas dos depósitos a prazo. Maiores retornos só mesmo assumindo maiores níveis de risco.

“Os produtos de poupança do Tesouro, os depósitos especiais (estruturados) e os fundos de investimento mais defensivos são as alternativas a considerar, todos com características diferentes, nomeadamente ao nível da rentabilidade, garantias e liquidez”, aponta Filipe Garcia, economista da IMF.

Confiança pós-BES restabelecida

A ano de 2016 ficará também marcado pela recuperação gradual do montante de ativos sob gestão destes fundos de tesouraria depois da crise do Grupo Espírito Santo (GES) ter provocado uma razia nesta classe de fundos no final de 2014. O que aconteceu?

Ativos sob gestão dos fundos de tesouraria recuperam da crise do BES

Fonte: APFIPP (valores em mil milhões de euros)
Fonte: APFIPP (valores em mil milhões de euros)

Uma parte significativa do financiamento das empresas do GES foi realizado, até ao final de 2013, através da emissão de papel comercial que se encontrava na carteira dos fundos de tesouraria geridos pela sociedade gestora do grupo, a ESAF.

Diogo Teixeira lembra que foram estes “excessos cometidos” que levaram a uma imposição da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) em 2013, seguida de uma alteração legislativa em 2014, e que vieram introduzir limites à exposição de fundos que eram detidos por sociedades gestoras que faziam parte de grandes grupos.

"A intervenção do regulador permitiu que os clientes do fundo de tesouraria gerido pela ESAF não sofressem nenhuma perda, e veio reforçar de uma forma mais genérica a proteção dos investidores em fundos de tesouraria.”

Diogo Teixeira

Presidente da Optimize

No caso da ESAF, que hoje em dia opera com o nome GNB Gestão de Ativos, teve de reduzir uma exposição a sociedades do GES até 20% do total de ativos, depois de ter chegado a atingir 90%. As imposições vieram em bom tempo.

“A intervenção do regulador permitiu que os clientes do fundo de tesouraria gerido pela ESAF não sofressem nenhuma perda, e veio reforçar de uma forma mais genérica a proteção dos investidores em fundos de tesouraria“, explica o responsável da Optimize. Steven Santos concorda: “A recuperação sustentada dos ativos sob gestão por fundos de tesouraria denota um aumento da confiança neste tipo de produto, além de um incremento na liquidez dos aforradores”.

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