Ordem dos Médicos do Centro discorda de gestão conjunta de hospitais de Coimbra e Cantanhede
Teixeira Veríssimo não vê que a fusão do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra com os Hospitais de Cantanhede e Rovisco Pais possa ser "uma mais-valia".
O novo presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) não vê com bons olhos a eventual fusão do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) com os Hospitais de Cantanhede e Rovisco Pais, da Tocha.
“O CHUC já é uma mega fusão, com vários hospitais, e juntar-se dois hospitais pequenos, um deles generalista, mais de proximidade, que é Cantanhede, e outro um hospital central especializado, numa estrutura tão grande, em princípio só os vai fazer perder importância“, disse Manuel Teixeira Veríssimo à agência Lusa.
Eleito, em janeiro, Teixeira Veríssimo não vê que a fusão atualmente em análise possa ser “uma mais-valia, nomeadamente para os hospitais mais pequenos e especialmente para o Hospital Rovisco Pais”, que é um Centro de Medicina Física e Reabilitação da Região Centro.
Para Manuel Teixeira Veríssimo, “os hospitais pequenos vivem muito do amor à camisola, da autoestima dos seus profissionais e, ao juntarem-se a uma grande estrutura, isso perde-se um pouco, até porque as decisões que antes eram tomadas localmente acabam por se perder”.
“Veria como mais lógico, mesmo assim, a haver fusão, que o Hospital Rovisco Pais pudesse ser fundido com o Hospital Distrital da Figueira da Foz. Seriam muito mais complementares, porque são mais próximos, ou então fazer mesmo um centro hospitalar com Cantanhede, Rovisco Pais e Figueira da Foz“, sublinhou.
“Ou então, se quisermos ser ainda mais completos, agora que estamos na onda das Unidades Locais de Saúde, fazer-se uma estrutura destas que englobasse a Figueira da Foz, Tocha e Cantanhede e os cuidados primários. Seria uma estrutura diferente, mais individualizada, que provavelmente responderia melhor às necessidades da população e seria uma mais-valia”, defendeu.
No dia 10 de dezembro de 2022, a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) anunciou a elaboração do plano de negócios para CHUC, o Hospital Arcebispo João Crisóstomo — Cantanhede e o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro — Rovisco Pais, “visando aumentar o acesso e a eficiência”.
Alguns dias depois, o presidente do conselho de administração do CHUC considerou positivo que esta estrutura venha a integrar o Hospital de Cantanhede e o Centro de Medicina Física e Reabilitação Rovisco Pais.
“A decisão da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de integrar o Hospital Arcebispo João Crisóstomo (Cantanhede) e o Centro de Medicina Física e Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais no CHUC é vista como positiva por todas as entidades envolvidas”, referiu, na altura, à agência Lusa, Carlos Santos.
Fusão dos Hospitais de Coimbra foi mal planeada
A fusão dos hospitais em Coimbra, iniciativa que em 2011 criou o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), foi mal planeada e não ofereceu vantagens para os doentes.
A opinião é do novo presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos (SRCOM) que, em entrevista à agência Lusa, defendeu que, na altura, devia ter sido elaborado um plano “das mais-valias que daí pudessem advir, que teriam de ser seguramente para a população, em primeiro lugar, mas também para os profissionais e para o erário público”.
“Era isso que se esperava que uma fusão trouxesse e pelo que me vou apercebendo não trouxe nenhuma dessas melhorias – nem poupança de dinheiro, nem benefícios para os profissionais de saúde nem para os doentes”, afirmou Manuel Teixeira Veríssimo.
Médicos do Centro consideram reforma dos cuidados primários o desafio do SNS
O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos considerou esta segunda-feira que a reforma dos cuidados de saúde primários é o desafio que se coloca à direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Para Manuel Teixeira Veríssimo, o SNS “não voltará a recuperar fôlego se não houver essa reforma de fundo, que não são pensos rápidos, em que tem de haver um fortalecimento dos cuidados de saúde primários e o desvio da centralidade do sistema de saúde para os cuidados primários”.
O médico, que desde janeiro dirige a SRCOM, explicou que esta é a forma de “retirar um pouco a dependência ‘hospitalocêntrica’ que sempre houve, precisamente para que os doentes deixem de ir à urgência”.
“A ida dos doentes para as urgências centrais é uma questão de organização. O sistema está mal organizado, de modo que não permite ou não dá condições para que os cuidados de saúde primários possam reter os doentes e evitar que caiam num serviço de urgência”, salientou, em entrevista à agência Lusa.
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