Inflação vai continuar a cair “nos próximos meses” devido ao efeito de base, antecipa INE

Os preços subiram tanto no último ano que as subidas vão parecer mais modestas nos próximos meses. A inflação vai continuar a desacelerar, mas muito por culpa do chamado efeito de base.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) antecipa “uma redução progressiva” da taxa de inflação nos próximos meses, uma trajetória que será essencialmente explicada como “consequência aritmética do chamado efeito de base”.

O que acontece é que, uma vez que os preços aceleraram tanto na primeira metade do ano passado – tendo estabilizado no segundo semestre –, a inflação começar a sentir o impacto do “efeito de base”, refletindo-se em subidas dos preços não tão intensas como tivemos até agora.

Este fenómeno já se fez sentir na evolução da inflação em março, em que a taxa registou uma desaceleração para 7,4% em relação ao valor registado em fevereiro. Se não houver um “novo choque que implique aumentos significativos de preços”, o efeito de base deverá continuar a ter impacto na inflação “nos próximos meses”, aponta o INE numa caixa explicativa onde alerta para este efeito de “modo a ser possível interpretar corretamente a evolução das taxas de variação homóloga”.

Para uma melhor compreensão do efeito de base, o INE publicou um gráfico em que mostra a diferença (zona sombreada) entre o índice de preços do mês corrente (linha laranja) e o índice do mesmo mês do ano anterior (linha roxa). Quanto maior for a diferença, mais elevada será a taxa de inflação homóloga.

Estes efeitos de base têm particular impacto quando ocorrem eventos fora do normal, podendo levar a interpretações que, embora correspondendo aos números, não capturam verdadeiramente a realidade. Como aconteceu durante a pandemia e que praticamente fechou o mercado do turismo. No ano seguinte, e porque comparava com um período em que o número de turistas foi anormalmente inferior, as taxas de crescimento de dormidas e hóspedes dispararam – justamente por causa do efeito de base. Para ultrapassar este efeito, muitas comparações são feitas em relação a 2019, antes do impacto da pandemia.

Nos preços, o choque ocorrido em 2022 – com o início da invasão russa na Ucrânia – levou a um pico da inflação, com os preços a registarem taxas de crescimento acima de 10% (observada em outubro).

Mas agora “começa a evidenciar-se o impacto do efeito de base no comportamento das taxas de variação homóloga”, indica o INE. “Em particular nos meses de fevereiro e março, nos quais houve um aumento do nível absoluto de preços (0,3% e 1,7%, respetivamente) que, por serem menos intensos que em fevereiro e março de 2022 (0,4% e 2,5%, pela mesma ordem), resultaram numa redução da variação homóloga do índice de preços no consumidor”.

Isto significa que, embora se tenha registado um abrandamento da inflação, “o nível médio dos preços tem mantido uma trajetória e subida, atingindo em março de 2023 o valor mais elevado da série, 12,5% superior a 2021”.

O INE acrescenta que para que o nível de preços regressasse a valores comparáveis aos de 2021, “teria de se verificar um período com taxas de variação negativas”. Numa altura em que os bancos centrais continuam a luta contra a alta inflação, o efeito de base vai dar uma ajuda nessa batalha.

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