Estratégia de descarbonização do Japão em contraciclo com restantes membros do G7

G7 reúne-se este fim de semana no Japão. País anfitrião apresentará nova estratégia, que em vez de reforçar a aposta nas renováveis, admite recorrer ao amoníaco e captura de carbono.

Os países com as sete economias mais avançadas no mundo (G7) vão reunir-se este fim de semana no Japão para debater os assuntos mais prementes da atualidade, entre eles a crise climática, isto numa altura em que a estratégia de neutralidade carbónica de Tóquio fica aquém dos objetivos climáticos. Em vez de reforçar a aposta na energia solar e eólica, a nação asiática admite recorrer a tecnologias como a captura de carbono e o amoníaco para prolongar a utilização de combustíveis fósseis.

A relutância da nação asiática em afastar-se das fontes de energia de intensivas em carbono intensivas refletiu-se nos documentos distribuídos entre os restantes membros do G7, a que a Bloomberg e a Reuters tiveram a acesso. No documento, o Japão admitiu ter reservas quanto à fixação de um prazo para a eliminação gradual do carvão, enquanto admite reforçar o apoio à produção e recurso do hidrogénio, reforçar os investimentos em gás natural e aumentar a aposta na captura de carbono.

A mesma reflexão indica que o país irá apostar no amoníaco para reduzir as emissões das centrais elétricas alimentadas por combustíveis fósseis, mas apenas sob certas condições. Esta proposta levanta algumas preocupações, uma vez que os benefícios climáticos do amoníaco podem ser limitados dado que a queima deste combustível pode gerar óxido nitroso, um gás com efeito de estufa significativo.

Especialistas ouvidos pela Bloomberg Green alertam que o recurso a este combustível, tal como a captura de carbono e a produção de hidrogénio, exige um avanço e investimento significativo no desenvolvimento tecnologias, que, atualmente, são mais caras do que a energia limpa, como a solar e a eólica e que produzem efeitos mais evidentes nos esforços para reduzir as emissões.

O Reino Unido, apoiado pela França, terá sugerido acrescentar ao texto do Japão que o amoníaco só poderia ser utilizado se estivesse alinhado com a descarbonização do setor energético até 2035 e uma redução do aquecimento global para 1.5 graus Celsius. Mas esta condição não terá sido bem aceite pelo governo japonês. Já o Canadá opôs-se a descrever o hidrogénio e o amoníaco como instrumentos “eficazes” de redução de emissões e insistiu em descrevê-los apenas como “potenciais”.

Alguns dos maiores produtores de amoníaco são também os maiores emissores de dióxido de carbono do Japão, tais como a Mitsubishi Heavy Industries, a IHI, fabricante industrial de baterias, compressores e turbinas e a energética Jera.

De acordo com os dados compilados pela Bloomberg Green e a Network for Greening the Financial System, uma organização de bancos mundiais que visa acelerar a aposta em finanças “verdes”, o plano do Japão para descarbonizar o setor energético é o menos objetivo entre os seus pares do G7. A atual trajetória de redução de emissões do país asiático revela alguma distância dos esforços necessários para alcançar as metas mundiais para 2030, os primeiros passos para que a neutralidade carbónica seja concretizada 20 anos mais tarde, em 2050.

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