Circo Hub Portugal aposta no “ecodesign” circular com 77 empresas , e quer chegar às 100
Iniciativa nascida nos Países Baixos, chegou em 2021 a Portugal pelas mãos do LNEG. Objetivo é levar 100 empresas a adotar modelos de negócio que promovam uma maior circularidade de produtos.
O Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) quer potenciar a economia circular em Portugal tendo como objetivo formar 100 empresas portuguesas em ecodesign, uma vez que é na fase de conceção do produto que se podem tomar decisões críticas a nível do impacto ambiental. Seja apostando num design que garanta uma maior durabilidade, reparação, reutilização, manutenção, recondicionamento ou reciclagem do produto.
“Mais de 80% dos impactos ambientais de um produto estão relacionados com o seu ciclo de vida e são determinados logo na fase de design. Não temos um problema de resíduos, temos um problema de design“, apontou Cristina Rocha, investigadora da Unidade de Economia de Recursos do LNEG e responsável pela área de Economia Circular, durante a apresentação, esta quarta-feira, no âmbito de uma sessão dedicada à economia circular e organizada pelo movimento Women in ESG, em parceria com a Deloitte.
Com esta preocupação em conta, nasceu, em 2021, o Circo Hub Portugal (Creating Business through Circular Design), uma iniciativa com origem nos Países Baixos, em 2015, e que após a sua internacionalização, em 2019, já está implementada em mais de 13 países.
Chegada a Portugal, pelas mãos do LNEG, da Agência Portuguesa do Ambiente e da Agência para a Competitividade e Inovação, e financiada pelo Fundo Ambiental, a iniciativa pretende ajudar a criar modelos de negócios para as empresas, promovendo o design circular numa altura em que a taxa de circularidade a nível mundial tem vindo a diminuir. Segundo Global Circularity Gap Report, relatório divulgado anualmente pelo Fórum Económico Mundial, em 2023 essa taxa era de 7,2% — valor que fica abaixo dos 8,6% e 9,1% registados em 2022 e 2021, respetivamente.
Nesta iniciativa formativa, as empresas e os designers inscritos trabalham em conjunto para desenvolverem produtos, serviços e modelos de negócio circulares. “Este é um projeto de capacitação, que está orientado para a ação “, frisou Cristina Rocha, durante a apresentação dos resultados de um inquérito colocado em curso junto das empresas que participaram nas formações.
Os trabalhos são compostos por três sessões de workshops — identificação do produtos e oportunidades; elaboração de uma nova proposta de valor e a implementação dessa estratégia — que culmina com a apresentação de um pitch final.
Desde 2021, já foram formados pelo Circo Hub Portugal 23 designers e 77 empresas (68% são PME), sendo estas organizações representativas de vários setores como o setor dos têxteis, produtos metálicos, papel e cartão e imobiliário. O objetivo é chegar aos 60 designers e às 100 empresas, até junho.
As próximas sessões de capacitação do Circo Hub Portugal estão agendadas para o mês de maio e serão direcionadas para a circularidade das embalagens na cadeia de valor dos vinhos verdes. As inscrições estão abertas e são gratuitas.
Empresas querem explorar valor económico do fim de vida dos produtos
Segundo Cristina Rocha “há imensas tipificações de modelos de negócios circular” às quais as empresas em formação foram expostas de forma a desenharem e adotarem estratégias de design de produto associados. Entre elas, o modelo clássico e híbrido que passa por colocar no mercado produtos e os respetivos consumíveis que embora sejam tendencialmente mais caros, garantem uma maior durabilidade e maior circularidade.
Também existem os exploradores de lacunas, que estudam o potencial do produto quando chega ao fim de vida. Seja através da reparação, recondicionamento e revenda ou a recuperação de componentes. “Desta forma, consegue-se manter um valor económico”, explica a investigadora.
Por sua vez, e chegando aos serviços, existem os modelos de acesso e desempenho que procuram facilitar o acesso dos consumidores finais ou profissionais a produtos sem haver necessidade de o adquirir, através do aluguer ou reserva de produtos.
Terminada a primeira fase de formação em julho de 2022, 55 empresas foram convidadas a responder a um inquérito, no qual se apurou que 72% adquiriu novos conhecimentos de economia circular e tenciona alastrar este conceito a outros cantos da empresa. O maior interesse recaiu sobre os modelos ligados à exploração de lacunas.
Apesar das intenções, os inquiridos apontam que existem dificuldades a nível da implementação, entre elas, barreiras regulatórias e a falta de indicadores para monitorizar o progresso de economia circular.
“Vale a pena continuar a apostar neste tipo de formação. Recebemos recomendações para repetir esta iniciativa”, revelou Cristina Rocha, partilhando que, entre as conclusões deste inquérito salienta-se a necessidade de serem criados ecossistemas de apoio à implementação de soluções circulares.
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