O presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, afirma em entrevista ao ECO que o Governo deve vender 100% do capital da TAP. "Depois do espetáculo a que estamos a assistir..." E tem reservas à Iberia.
Na avaliação da Iniciativa Liberal, a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, e o chairman Manuel Beja deveriam ser demitidos por justa causa, como foram, ou deveriam continuar em funções face aos resultados apresentados?
Creio que não se trata puramente da questão dos resultados, houve uma avaliação política, sim, e aquilo que temos que ver agora é como é que essa avaliação e decisão política foram tomadas. Aparentemente…
…já lá vamos. A Iniciativa Liberal mantinha aqueles gestores, ou não?
Os resultados, aparentemente, não são maus. Também temos a evidência de que são empolados, por via fiscal, que permitem apresentar um resultado…
…esse benefício serviu a todas as empresas…
…mas já não é para todas as empresas o corte de salários. Ou seja, a TAP, desse ponto de vista, com um corte de salários na ordem dos 25%, teve condições que não são sequer condições aceitáveis em empresas. Há um conjunto de questões que são específicas da TAP e que alimentam, de alguma maneira, esse resultado.
Agora, o que digo é o seguinte: Não conhecemos o suficiente sobre as condições em que foi tomada a decisão política de demissão [dos dois gestores] gestão. Elas têm vindo a ser conhecidas progressivamente e aquilo que se sabe é que, no dia 5 de março, Fernando Medina tentou que a própria CEO se demitisse, no dia 6 de março o Governo demite os dois gestores numa conferência de Imprensa, dizendo-se então que o fazia com justa causa. No dia 7 de março, aparentemente, começa à procura de motivos e da referida justa causa, e percebe-se ainda que, nesse período dessa semana, há ainda desinteligências entre gabinetes ministeriais sobre a existência ou não das condições para o despedimento. Portanto, temos que apurar o que falta de toda esta evidência para perceber o que é que aconteceu, o que é que estava em causa para tomar uma decisão sobre a existência ou não dessa justa causa.
O que sabemos neste momento, e isso já é uma avaliação política, é que Fernando Medina é um dos ministros que, aparentemente, mentiu em todo este processo. E na verdade, diria que já são cinco ministros a mentir, e apenas um desses cinco já não está em funções, que é Pedro Nuno Santos. Há quatro ministros em funções que mentiram neste processo. Uns mentiram ao Parlamento, outros mentiram aos portugueses e, portanto, isto é um castelo de cartas que está a desmoronar-se.
O que sabemos neste momento, e isso já é uma avaliação política, é que Fernando Medina é um dos ministros que, aparentemente, mentiu em todo este processo. E na verdade, diria que já são cinco ministros a mentir, e apenas um desses cinco já não está em funções, que é Pedro Nuno Santos. Há quatro ministros em funções que mentiram neste processo. Uns mentiram ao Parlamento, outros mentiram aos portugueses e, portanto, isto é um castelo de cartas que está a desmoronar-se.
Não me respondeu. Se a Iniciativa Liberal fosse Governo, demitiria aquela equipa de gestão por justa causa?
Face ao que ao que é conhecido hoje, creio que não é sensato fazer de Christine Ourmières-Widener uma mártir, nem dizer que fez um trabalho extraordinário. Eu avalio as questões que estão em cima da mesa e fico com muitas dúvidas sobre determinados métodos e determinadas condutas que teve e, portanto, não se pode ir para nenhum dos extremos. Parece- me que foram tomadas pela própria CEO da TAP nas decisões e às vezes. A gestão da CEO da TAP não está isenta de críticas, há matéria para a questionar, mas preciso de saber mais para saber se essa questão é suficiente para a demitir ou não. Tenho encontrado momentos em que me parece que a gestora não exerceu de forma devida as suas funções, em que cedeu às interferências políticas, em que permitiu que elas acontecessem. Isso não é um bom sinal.
Em alguns momentos, do que sabe, foi conivente com a tutela política…
…agora, o que me parece é que a justa causa invocada pelo Governo não seria aquela que eu eventualmente utilizaria para a justificar. Provavelmente, justificaria porque cedeu às interferências do poder político, alinhou com as interferências do poder político e parece-me que, isso sim, é muito grave. Quanto ao mais, quanto à justa causa que o governo supostamente tinha e agora está em dificuldades para provar que existia, temos que esperar pelos próximos tempos.
A Iniciativa Liberal defendeu, desde sempre, a privatização da TAP…
…é um património da Iniciativa Liberal…
…ainda falta pelo menos uma tranche dos 3,2 mil milhões de fundos públicos a injetar na TAP, da ordem dos 700 milhões. Considera que há condições para travar essa última injeção de fundos?
Na medida em que isso seja possível, o Estado deveria resistir à injeção de 700 milhões e, portanto, na negociação da privatização isso deveria estar presente. Mas não sei se, no limite, não sei se o efeito útil será muito. Portanto, o problema está na decisão inicial.
Em que condições é que deve ser feita a privatização da TAP?
Ainda não conhecemos o caderno de encargos, foi anunciado ontem [quinta-feira] que o processo está em marcha e que o conheceremos nos próximos meses. Teremos que avaliar qual é o caderno de encargos. Eu creio que não podemos dizer muito face ao conhecemos, mas, obviamente, a privatização tem de suceder pelo melhor preço possível. Não sei de quanto estaremos a falar… Fala-se, nuns casos, de 900 milhões de euros, também já se falou de 300 milhões, veremos, sendo certo que, depois, também é preciso ver o que é que está dentro desse envelope [financeiro]. Quais são as responsabilidades que se assumem para futuro? E creio que também há outra coisa, que é que é muito importante, que é a questão do ‘Hub’. Ou seja, haverá seguramente uma desvalorização do contexto económico em Portugal se não for possível que o ‘Hub’ se mantenha em Lisboa. Na medida em que a negociação permita, o melhor preço possível…
…o ‘Hub’ é mais importante do que o preço oferecido?
Diria que o ‘Hub’ é muito importante. Não consigo quantificar exatamente quantos milhões é que o ‘Hub’ vale, mas diria que é preferível, até porque temo que haja uma inflação do preço de venda para efeitos mediáticos, com muitas garantias e muitas responsabilidades do Estado incluídas no meio do negócio.
Depois do espetáculo a que estamos a assistir, tenho muita dificuldade em entender que haja qualquer vantagem, seja ela qual for, na permanência do Estado no capitão da TAP. Quanto menos o Estado tiver a ver com a TAP, melhor. aqui. A Iniciativa Liberal acredita muito no princípio dos lucros privados, prejuízos privados, e o histórico da TAP é o que é.
Para proteger o ‘Hub’, como defende, o Estado deve manter uma participação minoritária na TAP?
Depois do espetáculo a que estamos a assistir, tenho muita dificuldade em entender que haja qualquer vantagem, seja ela qual for, na permanência do Estado no capital da TAP. Quanto menos o Estado tiver a ver com a TAP, melhor. A Iniciativa Liberal acredita muito no princípio dos lucros privados, prejuízos privados, e o histórico da TAP é o que é. Quanto mais depressa o Estado sair do capital da TAP, assegurando obviamente condições de venda adequadas e, provavelmente, mantendo a questão do ‘Hub’, quanto mais depressa isso acontecer, melhor.
Há três candidatos potenciais e um já a trabalhar no terreno, a IAG, que tem a Iberia. Esse consórcio seria um problema para a Iniciativa Liberal?
Não é só uma questão de ser um problema para a Iniciativa Liberal, o próprio ministro da Economia já esteve no Parlamento e já disse que foi de facto a Madrid a fazer a promoção da venda da TAP, mas que seria um problema…
O ministro António Costa Silva disse duas coisas, uma em Madrid e outra em Lisboa.
Espero que os espanhóis não acompanhem a ARTV… Temos que olhar sempre para os valores em causa, para as garantias que cada uma desses consórcios dá, [mas] parece-me a pior das soluções. Precisamente pela questão do ‘Hub’, parece mais provável que um grupo que tem a Iberia e que tenha interesses no aeroporto de Madrid direitos que tenha depois o distanciamento necessário para garantir a continuidade. Parece que a pior do pior cenário para eles.
A escolha da localização do novo aeroporto está em curso. Está convencido, face ao que foi conhecido há dias, que haverá uma decisão até ao final do ano, como foi prometido pelo primeiro-ministro?
Espero sinceramente que sim. O que está em causa é muito importante, basta passarmos junto ao aeroporto, há um contador que diz quanto é que Portugal está a perder por cada dia de atraso da solução do novo aeroporto. Qualquer solução, mesmo tomada de decisão política, poderá demorar sete a oito anos. O Bastonário da Ordem dos Engenheiros disse uma coisa muito interessante: Espero que o processo administrativo não demore mais do que a própria construção a partir de agora. Por muito que, politicamente, pudesse fazer sentido até atacar agora a Comissão Técnica Independente, porque eram três ou quatro localizações, temos todos de ter a responsabilidade de não a atacar. Temos de acreditar que a comissão técnica, por muito que em algum momento seja questionável o caminho, vai fazer um bom trabalho técnico e vai apresentar uma solução equilibrada. Aquilo que temos que desejar é que apareça exatamente no momento em que foi prometido que aparecesse. Portanto, no final deste ano.
A escolha da nova localização pode condicionar a venda da TAP?
A localização condiciona muitas coisas e provavelmente também quem está está a olhar para a TAP, mas espero que não seja tão relevante assim, porque se é verdade que o processo de decisão política vai prolongar-se até ao final do ano do ponto de vista técnico, espero que a TAP tenha condições para ser privatizada e não estar à espera dessa decisão.
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“A venda da TAP à Iberia parece-me a pior das soluções”
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