Conferência PLMJ/ECOseguros: Fundo de Catástrofes Naturais tem de avançar
A Conferência Sismos, Inundações e Incêndios: Riscos e Respostas do Setor Segurador, organizada pela PLMJ - Advogados e pelo ECOseguros, reforçou a urgência em reduzir o gaps de proteção.
Em parceria com a Caravela, Ageas, PLMJ e Tranquilidade, o ECOseguros organizou, nesta segunda-feira, uma conferência que juntou especialistas que debateram riscos e possíveis soluções de mitigação para os efeitos das mudanças climáticas, bem como formas de reduzir protection gaps e aumentar a cobertura de riscos de catástrofes naturais.
A conferência ‘Sismos, Inundações e Incêndios: Riscos e Respostas do Setor Segurador’, que decorreu na sede da PLMJ, participando Joaquim Shearman de Macedo, partner na PLMJ e Margarida Ferraz Oliveira, associate lawyer na PLMJ. contou com a participação de José Galamba de Oliveira, presidente da APS; Paulo Trigo, administrador da Caravela; José Leão, responsável pelas áreas de corretores e parcerias da Ageas Portugal; João Barata, Chief InsuranceOfficer da Tranquilidade/Generali; Rui Esteves, Diretor de Estatística e Estudo Técnicos Não Vida da Fidelidade e Américo Oliveira, Executive Advisor do CEO da Howden Iberia. A introdução de boas-vindas e moderação esteve a cargo de Francisco Botelho, diretor executivo ECOseguros.
As vozes dos especialistas ecoaram as de vários meios e organizações, entre elas a da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), que têm apontado repetidamente que devem ser estabelecidas proteções específicas para eventos catastróficos iminentes, como é o caso de um Fundo para responder a sismos e outras catástrofes naturais.
Joaquim Shearman de Macedo, partner da PLMJ, apontou o aumento, na ordem dos 80%, da frequência de fenómenos climáticos extremos e o facto de Lisboa ser a segunda cidade europeia com maior risco sísmico. O executivo lembrou que as “parcerias com as tecnológicas são inevitáveis” e destacou a importância de elementos agora essenciais para avaliar os riscos, desde a inteligência artificial (IA), a Internet of Things (IOT), a drones, seguros paramétricos e sistemas blockchain.
Margarida Ferraz Oliveira esteve à conversa com Américo Oliveira e Rui Esteves. O especialista da Fidelidade lembrou que as seguradoras estavam habituadas a fazer análises com base num histórico de informações, mas que “tudo isso mudou”. “Vão existir riscos que se vão tornar quase inseguráveis”, sublinhou. Como João Barata havia de apontar, mais tarde na conferência, “uma certeza, algo que é certo, não é segurável. Os seguros são para assuntos incertos”.
Mas para proceder à avaliação, “o primeiro passo é ter dados rigorosos, associar características e observar riscos, e incluir mesmo utilização de IA”. Américo Oliveira, da Howden resumiu: “é essencial uma coordenação de esforços para fazer avaliação em três passos: identificação de alertas, de riscos e mobilização de meios necessários”, disse o executivo. “A geo-referenciação é extremamente importante”, acrescentou.
Ao longo da conferência, ficou claro que a literacia financeira tem um peso determinante no acesso e motivação para adquirir coberturas adequadas para os riscos catastróficos. Américo Oliveira descreveu o que se demonstrou também evidente para os presentes – a necessidade de mutualização.
Francisco Botelho moderou a conversa de João Barata, José Leão e Paulo Trigo, que se centrou na importância de colmatar protection gaps, ou seja, o valor das perdas patrimoniais não suportadas por contratos de seguro. O Chief Insurance Officer da Tranquilidade/Generali destacou que são os fenómenos sísmicos os que mais sofrem de falhas na proteção. “O sismo é o risco que está menos coberto no país. Uma parte significativa do património que não está seguro. Este é um fenómeno [climático] que pode incluir uma parte muito extensa do país”, alertou João Barata. Paulo Trigo destacou que os elevados protection gaps também têm razões sociais, culturais, ligadas ao desenvolvimento do país. “Não estamos num grau de desenvolvimento muito elevado”, apontou.
José Galamba de Oliveira, presidente da APS, referiu o relatório Sigma 1 de 2023, elaborado pela Swiss Re, que destaca que o ano 2022 mantém a tendência crescente desde a década de 80, do século passado, quer quanto ao número, quer quanto à severidade dos eventos catastróficos de origem natural. Lembrou ainda que o setor segurador pagou, nos últimos 5 anos, cerca de 650 mil milhões de dólares em indemnizações causadas por eventos climáticos. Uma média de 130 milhões de dólares, mais do dobro da média do que foi pago no período dos 5 anos anteriores, de 52 mil milhões de dólares. Estes são valores relativos a perdas económicas seguras. As perdas económicas não seguras são muito superiores. “Mas protection gaps variam de geografia para geografia”, destacou o presidente.
A preocupação central e a motivação para a criação de ferramentas de avaliação de protection gaps reside na preocupação de que as alterações climáticas possam vir a condicionar ainda mais a acessibilidade e até a disponibilidade das coberturas de seguros para catástrofes naturais.
O presidente da APS concluiu referindo que atualmente apenas de 25% das perdas totais causadas na Europa, por eventos extremos da natureza estão protegidos por seguros. Existindo evidências científica que a ocorrência de fenómenos extremos da natureza serão cada vez mais frequentes é essencial monitorizar protection gap e sensibilizar a sociedade, incluindo decisores políticos para a necessidade de reagir ativamente. “E assim conseguir uma sociedade mais resiliente”.
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