“É frequente” haver projetos solares concluídos mas parados até seis meses

O CEO da Helexia em Portugal reconhece que "tem havido uma evolução positiva, mas ainda há um caminho pela frente" no que diz respeito ao licenciamento dos projetos solares.

O CEO da Helexia, Luís Pinho, diz que “é frequente” que os projetos fotovoltaicos em Portugal estejam concluídos e prontos a operar, mas fiquem parados por “dois, três e até seis meses” à espera da luz verde final por parte das entidades administrativas.

A empresa centra, para já, a sua atividade no desenvolvimento de projetos fotovoltaicos em empresas, numa lógica de autoconsumo, mas espera aumentar o peso de outras áreas nas quais já opera, como a eficiência energética, que está de momento a consolidar, após a aquisição de uma empresa da área, a Ewen. A partir de 2023, a empresa espera alargar a atividade a outras tecnologias e apostar em projetos maiores e na hibridização, isto é, na conjugação de várias energias complementares para maximizar o potencial de cada projeto.

Como se divide a atividade da Helexia atualmente e qual o peso do fotovoltaico?

O fotovoltaico tem peso na casa dos 70, 75%. O resto são serviços, auditorias, certificações, eficiência energética e mobilidade elétrica.

O objetivo é crescer mais nas outras atividades, equilibrando mais o peso?

Sim. Também foi por isso que, no ano passado, fizemos a aquisição de uma empresa, a Ewen, que está focada em eficiência energética e que nos vem trazer essa capacidade que estávamos a construir de uma forma relativamente lenta. O nosso objetivo, nos próximos anos, é termos um equilíbrio de 50/50 entre a pura produção de energia com fotovoltaico e tudo o que seja eficiência energética e mobilidade elétrica.

Luís Pinho, CEO da HelexiaRodrigo Cabrita

No que diz respeito ao fotovoltaico, a Helexia faz a instalação em diferentes setores. Da vossa experiência, o autoconsumo fotovoltaico funciona especialmente bem nalgum setor em particular? Algum em que existam ganhos especialmente interessantes?

O fotovoltaico é interessante em qualquer setor, na medida em que permite a produção de energia descentralizada, local. Gera alguma autonomia e alguma previsibilidade de preços a esse cliente. É tão mais eficiente e tão mais eficaz quanto mais a necessidade energética do cliente se ajustar ao ciclo de produção de energia fotovoltaica. Se tivermos uma indústria, uma unidade que tem paragens durante o dia ou paragens prolongadas ao fim de semana, quer dizer que vão estar a produzir energia em momentos em que não precisam de a produzir. Produzir energia para injetar na rede não é necessariamente mau, mas, economicamente, não é tão interessante. Então há setores onde faz mais sentido. Setores que trabalham com frio, como o setor alimentar, em que as câmaras de frio têm de manter uma temperatura que exige energia numa base regular, seja dia, noite ou fim de semana. Fotovoltaico faz mais sentido nestes clientes. E também clientes que precisam de gerar muita temperatura com fornos, e que, além do gás, usem energia elétrica como coadjuvante a gerar temperatura e que, normalmente, por uma questão de eficiência, não fazem paragens completas durante o fim de semana. É neste tipo de indústrias – indústria cerâmica, indústria alimentar, ou a indústria de processamento de dados, que existem equipamentos a funcionar, independentemente dos dias e horários, e que têm muita necessidade de manter temperaturas estáveis. Esses são os setores que estamos mais focados.

Acontece muitas vezes os projetos estarem, do ponto de vista construtivo, completos, mas não podem entrar em operação porque falta o certificado. Está pronto e não pode começar a produzir porque falta um certificado.

Luís Pinho

CEO da Helexia em Portugal

Cresceram 172% em potência solar em 2022. É significativo. Esta expansão tem sido relativamente fácil, ou ainda existem desafios grandes para que a atividade cresça aqui em Portugal?

Crescer tem muitos desafios. Há o desafio da organização. O principal desafio que sentimos são os recursos humanos. Para além de todas as coisas que aconteceram com o preço de energia e com a logística. Vemos cada vez mais dificuldade em encontrar pessoas com qualificação, e estamos cada vez mais a recrutar pessoas mais jovens.

E em relação ao licenciamento e processos burocráticos relacionados. Tem sentido alguma evolução desde que foi lançado o Simplex?

Há uma dificuldade no contacto com a DGEG [Direção-Geral de Energia e Geologia]. A emissão de certificados de exploração, os processos de inspeção e licenciamento, ultrapassam sempre os prazos que estão estipulados. Portanto, isso obriga a alguma agilidade para gerirmos internamente os projetos e para gerirmos as expectativas dos clientes. Acontece muitas vezes os projetos estarem, do ponto de vista construtivo, completos, mas não podem entrar em operação porque falta o certificado. O projeto está pronto e não pode começar a produzir porque falta um certificado. Isso gera descontentamento, obviamente, do lado do cliente, que ou investiu e está à espera de começar a produzir energia e começar a amortizar o seu investimento, ou não investiu mas tem uma expectativa do projeto, em que nós somos o investidor, e queremos que comece a gerar receita, e o projeto às vezes está parado dois meses, três meses, meio ano… é uma dificuldade.

É frequente?

É frequente. Vem desde o início do autoconsumo, desde 2016. Tem havido alguma evolução ultimamente. A regulação veio agilizar um bocadinho o processo, com os decretos-lei 15/2022 e 30A/2022. Tem havido uma evolução positiva, mas ainda há um caminho pela frente.

Em 2023, que crescimento esperam?

Apontamos para crescer na ordem dos dois dígitos, cerca de 15%. Estamos encaminhados para isso. Chamo-lhe o ano de consolidação, para depois arrancarmos para desafios maiores. 2022 foi um ano de muito crescimento mas também de grande desafio. Agora, estamos a fazer o projeto de integração da empresa que comprámos, mas vai ser o ano para nos preparamos para o que vem a seguir. Temos neste momento em construção cerca de 40 megawatts. O desafio até ao fim do ano é entregar 40 MW de projetos “chave na mão” e juntar-se 7 ou 8 megawatts (MW), idealmente 10 MW, aos projetos em que nós somos investidores.

Afirma que estão a preparar-se para novos desafios. Que desafios são estes?

O que queremos essencialmente fazer, olhando tanto para o fotovoltaico como para a eficiência energética, é ajudar na descarbonização. Ajudar as empresas a ir desde o ponto de não ter nada destas tecnologias até serem descarbonizadas, ou ficarem o mais próximas possível da descarbonização.

Mas ao falar em desafios maiores refere-se a algum projeto em particular, de maiores proporções?

Podem acontecer projetos que saem um pouco do âmbito dos megawatts dos projetos de autoconsumo. Estamos a olhar para algumas oportunidades no mercado. Ainda não está maduro o suficiente para entrar em mais detalhes. Mas estamos a olhar para tecnologias como o armazenamento e o hidrogénio [verde]. Coisas que podem vir a acontecer, mas não em 2023.

Estão então em causa projetos fotovoltaicos e de baterias?

Fotovoltaico é o nosso core mas não é a única solução. Somos um integrador de soluções. Quando temos clientes com curvas de consumo de energia que não encaixam com as curvas e produção de energia fotovoltaica, temos que dar resposta a essas diferenças. E essas diferenças podem ser completadas com armazenamento, hidrogénio, energia eólica… há uma série de coisas. O nosso objetivo é integrar soluções, tecnologias, para que em cada cliente tenhamos uma solução que dê resposta.

Portanto, de 2023 para a frente há uma diversificação das tecnologias.

Sim. Diversificação e ao mesmo tempo integração. Conseguir, num mesmo projeto, integrar tecnologias diferentes, para fazer uma combinação mais perfeita entre a energia que disponibilizamos e a que o cliente precisa em cada momento.

Logo, hibridização.

Sim, hibridização.

E maior capacidade do que estariam habituados?

Sim.

E na importação de painéis solares? Ainda notam dificuldades, depois dos percalços da pandemia?

Foi um problema durante a pandemia, não é mais um problema. Houve falha efetiva de equipamentos, de painéis. Os preços tiveram uma evolução que não era expectável, o que colocou em risco muitos projetos. Neste momento, logisticamente, está estável. Os preços também estão a estabilizar. Portanto não há aqui problema.

Acho difícil que no futuro imediato se consiga produzir na Europa a preços competitivos, comparativamente a painéis que se importam da China ou de outros países asiáticos.

Luís Pinho

CEO da Helexia

Saíram dois diplomas europeus, o Net Zero Industry Act e outro relativo às matérias-primas, com objetivos de produção a nível europeu. Estas orientações são adjuvantes ou dificultam de alguma forma a vossa atividade?

Acho difícil que no futuro imediato se consiga produzir na Europa a preços competitivos, comparativamente a painéis que se importam da China ou de outros países asiáticos, que são os maiores produtores. Dito isto, como europeu, fico contente de ver que haja uma estratégia de reindustrialização da Europa que nos permita uma menor exposição aos de conflitos de leste europeu, ou a ideias menos amigas do comércio internacional, como nos Estados Unidos, que se estão a fechar um pouco. Estamos muito expostos a isto, nós, Europa. E, portanto, a reindustrialização, como europeu, deixa-me contente. Sabendo no entanto que requer investimento, que requer algum tempo para que seja competitivo e espero que, enquanto consumidores, consigamos menos uma visão focada no preço e mais no valor acrescentado.

Tem uma parceria com a Fusion Fuel para a produção de hidrogénio. Em que consiste mais exatamente e quando espera que seja possível a produção de hidrogénio verde nestes projetos?

Com a Fusion Fuel, o que nós estamos a fazer, o primeiro projeto, é fotovoltaico. Estamos a produzir energia fotovoltaica nas instalações deles, que eles vão usar para as suas necessidades de energia, nomeadamente para a produção de hidrogénio verde. O objetivo é nós conseguirmos acompanhar o crescimento deles, instalando mais capacidade. Neste momento, na fase de arranque deles, nós estamos a produzir a energia fotovoltaica. Idealmente, no futuro, queremos ajudar com mais ideias, com mais know how. Mas ainda não há nada desenhado de mais complexo.

Já têm os painéis instalados?

A instalação está a entrar em operação ainda este mês. Em termos de construção, está completo neste momento. Está num processo de certificação, um processo administrativo.

Estão a aliar-se a outros produtores de hidrogénio verde?

Neste momento, não.

Luís Pinho, CEO da HelexiaRodrigo Cabrita

Portugal assumiu o controlo da parte de engenharia de projetos da Helexia, servindo o mercado internacional. O que vai estar nas mãos de Portugal?

Temos uma equipa de sete pessoas a trabalhar em engenharia para as outras geografias da Helexia. Neste momento, o que estamos a fazer é engenharia preliminar fotovoltaica. Ou seja: suporta as equipas comerciais dos vários países a fazerem um desenho e dimensionamento das instalações fotovoltaicas. Numa fase que estamos a preparar, é também para, a partir daqui, fazermos os projetos que suportem a construção em cada um dos países pelas equipas locais.

Porquê em Portugal?

A nossa engenharia dá cartas. Pelo menos somos tão bons como os outros. Somos competitivos e somos eficientes. Fazemos bem. Em segundo lugar, sendo que Portugal é um país geograficamente pequeno, é importante para nós enquanto equipa continuarmos a manter peso no grupo e relevância.

Tem perspetivas de aumentar a equipa?

Sim, essa equipa vai aumentar à medida que nós abrimos outras geografias, outros países. A Helexia está a crescer noutros países também [Roménia, Hungria, Polónia, entre outros]. Para além disso, estamos a constituir também uma equipa para a gestão de ativos. Ou seja: por um lado nós fazemos a engenharia dos projetos, depois cada país constrói, depois é preciso fazer a gestão do ativo, garantir que produz o expectável. Estamos a constituir equipa em Portugal para fazer isso.

E em termos de perspetivas mais concretas do número de trabalhadores?

Estas duas equipas de suporte internacional vão pesar 25 a 30% da nossa força de trabalho. Neste momento temos 55 pessoas. Esta equipa de engenharia vai chegar ao fim do ano com perto de 15 pessoas.

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