Mitsotakis reeleito primeiro-ministro grego e admite voltar às urnas
A Nova Democracia, partido de direita e no poder desde 2019, venceu as eleições gregas deste domingo. O primeiro-ministro reeleito Kyriakos Mitsotakis admitiu a possibilidade de uma segunda volta.
Os cerca de oito milhões de eleitores gregos apostaram no domingo pela permanência no poder dos conservadores do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, e rejeitaram a viragem à esquerda proposta pelo líder do Syriza, Alexis Tsipras.
Com cerca de 93,7% dos votos escrutinados, a Nova Democracia (ND, direita e no poder desde 2019) tinha 40,8% dos votos expressos e garante 20 pontos de vantagem face ao Syriza, que apenas conquistou 20,1%, muito abaixo das previsões das sondagens. A ND obtém 145 dos 300 lugares do Parlamento — ou seja, ficou a cinco da maioria absoluta — enquanto o Syriza 71 lugares.
O primeiro-ministro conservador grego, Kyriakos Mitsotakis, reivindicou a vitória nas legislativas ao referir-se a um “sismo político” e admitiu a possibilidade de uma segunda volta para tentar formar Governo sozinho, sem necessidade de recorrer a uma coligação. O novo escrutínio poderia ser realizado em junho ou julho.
“É a prova que a Nova Democracia tem a autorização dos cidadãos para governar sozinho”, disse, defendendo ser necessário um segundo escrutínio para tentar garantir uma maioria absoluta e constituir “um Governo estável”.
Estes dados colocam Mitsotakis à beira da maioria absoluta, mas com menos 11 lugares que os alcançados nas legislativas de 2019. O primeiro-ministro grego tem afirmado que pretende ser reconduzido no cargo por mais quatro anos, e excluiu a possibilidade de formar uma coligação.
Em 2019, a ND tinha obtido 39,9% – garantindo maioria absoluta devido a uma lei eleitoral entretanto revogada mas que voltará a vigorar no próximo escrutínio e que concede um bónus suplementar de 50 deputados ao partidos mais votado – e o Syriza 31,5%.
Em terceiro lugar surgem os sociais-democratas do Pasok-Kinal com 11,6% (8,1% há quatro anos), assegurando 43 deputados, seguidos pelo Partido Comunista da Grécia (KKE) com 7% (5,3% em 2019), ou seja 25 lugares, e a formação de extrema-direita Rumo à Liberdade (Plefsi Eleftherias), com 4,5%, com 16 assentos.
Com 2,6%, o partido de esquerda MeRA25 , do ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis, fica fora do Parlamento ao não superar a barreira dos 3% para garantir presença no hemiciclo com 300 deputados.
Em comunicado, e numa reação aos resultados eleitorais, o partido de Varoufakis considerou que “a Erdoganização e a Orbanização do país estão completas”, numa referência aos regimes em vigor na Turquia e na Hungria, atribuiu a vitória por “esmagadora maioria de Mitsotakis Ltd” à atuação da liderança do Syriza, ao não aceitar “uma convergência pré-eleitoral numa frente comum a favor da rutura”.
O resultado eleitoral constitui um claro apoio à gestão económica conservadora e liberal protagonizada por Mitsotakis nos últimos quatro anos, e estas eleições foram as primeiras desde que a economia grega deixou de estar sob estrita supervisão dos credores internacionais que forneceram avultados empréstimos (fundos de resgate) durante a designada crise da dívida que em 2010 colocou o país à beira da falência e se prolongou por uma década, assinala a agência noticiosa Efe.
Apesar de permanecer um dos países mais pobres da União Europeia (UE), a sua economia cresceu em 2021 e 2022 8,4% e 5,9%, respetivamente, percentagens muito superiores à média europeia.
Os investimentos estrangeiros aumentaram significativamente, e a recuperação económica permitiu a Mitsotakis baixar impostos, subir pensões e o salário mínimo.
Nenhum dos partidos ou coligações conseguiu garantira percentagem de 45% necessários para assegurar nestas eleições uma maioria absoluta. Caso a ND insistia em não formar coligações com outras formações, serão convocadas novas eleições que segundo os ‘media’ helénicos podem decorrer entre finais de junho e inícios de julho.
“Temos de protagonizar mudanças mais radicais para reduzir o terreno que nos separa da Europa” e isso não pode ser feito com alianças “inseguras”, insistiu Mitsotakis.
Os eleitores gregos castigaram o Syriza, o principal partido da oposição, que é liderado pelo ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras, o maior derrotado da noite ao regredir 11 pontos face a 2019.
As formações da esquerda grega surgem mais fragmentadas e debilitadas destas eleições, e Tsipras não conseguiu convencer o eleitorado sobre as “grandes mudanças” que prometia, com muitos a recordarem as dolorosas reformas que aceitou aplicar no país para garantir um terceiro resgate financeiro em 2015.
Na Grécia ainda permanecem vivas as recordações desse período de polarização após a convocação de um referendo contra a austeridade imposta pelos credores internacionais, com a população a recusar as medidas da ‘troika’ e com Tsipras de seguida a aceitar o novo resgate, que permitiu ao país permanecer na zona euro.
“Falei com Mitsotakis e felicitei-o pela vitória”, disse Tsipras numa mensagem vídeo na qual admitiu a derrota do seu partido.
A oposição não conseguiu beneficiar eleitoralmente do elevado custo de vida, um dos temas da campanha, do crescente autoritarismo do Governo, ou de diversos escândalos, para além do grave acidente ferroviário que vitimou 57 pessoas e desencadeou uma massiva vaga de protestos.
A taxa de participação situou-se nos 60,6%, três pontos acima do registado em 2019.
A reforma do sistema eleitoral impulsionada em 2016 pelo Syriza reduziu a idade mínima para participar em eleições, dos 18 para os 17 anos, com 430.000 jovens entre os 17 e os 21 anos a poderem votar neste escrutínio pela primeira vez.
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