Turbulência política em Espanha não deve abanar economia portuguesa
Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal e as economias estão integradas economicamente, mas não se perspetivam mudanças significativas derivadas das eleições antecipadas.
Espanha vai avançar para eleições antecipadas já em julho, na sequência de umas eleições municipais desanimadoras para o PSOE. Apesar da proximidade, os economistas ouvidos pelo ECO indicam que é pouco provável que esta turbulência na política espanhola tenha impactos económicos significativos para Portugal.
“A economia portuguesa e espanhola estão muito integradas”, começa por salientar ao ECO o economista José Reis, sendo que Espanha é o principal destino das exportações e também o principal importador de Portugal. “Embora haja significado político nos resultados das eleições, tem poucas consequências para a economia em si mesmo“, considera o professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Espanha foi o principal país cliente de Portugal em 2022 e a tendência mantém-se este ano, sendo que no trimestre terminado em março as exportações para o país atingiram 5,2 mil milhões de euros, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística. No inverso, Espanha foi também o principal fornecedor, com as importações a chegar aos nove mil milhões de euros no primeiro trimestre de 2023.
Balança comercial de Espanha com Portugal
É ainda incerto se as eleições, convocadas para 23 de julho, vão trazer uma mudança de Governo ou não, mas mesmo assim a integração “não se alteraria”, aponta. “Não são coisas que se mudam de um ano para o outro”, acrescenta o economista, sublinhando que “na medida em que a economia espanhola funcione, traduz-se nas nossas exportações mas o inverso também é verdade”.
Quanto a outros dossiês económicos, além do comércio, “alguns são meramente simbólicos como cooperação transfronteiriça”, ou até outros “mais importantes como água”, não se vislumbram efeitos significativos.
A rapidez do processo, com eleições convocadas para daqui a menos de dois meses, é outro elemento que limita a instabilidade política no país, algo que poderia prejudicar a economia. A “coligação de partidos tem-se revelado estável apesar das incidências locais”, aponta o economista, referindo-se aos resultados das eleições municipais, o que “traz alguma estabilidade à governação espanhola”.
Pedro Braz Teixeira também concorda que, apesar de poderem existir algumas alterações, Espanha tem uma “economia suficientemente estabilizada para as eleições não terem um impacto muito significativo”.
“Espanha está enquadrada no contexto europeu, também está a receber o equivalente ao Plano de Recuperação e Resiliência lá, está condicionada na política orçamental, tem a mesma taxa de câmbio e política monetária” que Portugal, enumera o economista. Desta forma, “há muitas variáveis que são parecidas”.
Quanto à orientação política, mesmo que se mantenham os socialistas no poder, os “governos de esquerda em Espanha mantêm no geral uma posição pró-atividade económica, pró-empresas e negócios”, salienta Pedro Braz Teixeira. Assim, “ao contrário de Portugal”, ambos os lados teriam uma postura favorável aos negócios e, por isso, os impactos para Portugal deverão ser reduzidos.
Usando também os mercados como barómetro, a bolsa de Lisboa destacou-se entre as congéneres europeias ao subir mesmo com o sentimento negativo à volta das eleições antecipadas em Espanha.
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