Líder do PCP diz que processo Tutti Frutti descredibiliza o sistema político
"Independente do desfecho sobre o caso, chegando-se ou não a uma conclusão, isso não tem nenhuma consequência na vida das pessoas", afirmou o secretário-geral comunista.
O secretário-geral do PCP considerou esta terça-feira que as suspeitas de combinação entre PS e PSD nas autárquicas de 2017 em Lisboa descredibilizam o sistema político, mas vincou que qualquer que seja a conclusão não afeta os portugueses. “Independente do desfecho sobre o caso, chegando-se ou não a uma conclusão, isso não tem nenhuma consequência na vida das pessoas”, afirmou o secretário-geral comunista, Paulo Raimundo, em declarações à agência Lusa.
Em Évora, onde participou numa sessão sobre a Capital Europeia da Cultura em 2027, o dirigente do PCP pediu que se esclareça “o que há para esclarecer”, porque o caso “cria uma situação de descredibilização completa do próprio sistema político”. “Investigações judiciais, investigações internas, tudo o que há para se investigar que se investigue”, insistiu, defendendo, no entanto, que é preciso resolver “os problemas que os portugueses enfrentam no seu dia-a-dia”.
“Se nos concentrássemos todos nos reais problemas das pessoas, isto estaria certamente melhor do que está”, salientou. Esta semana, algumas figuras do PSD – como o antigo deputado Sérgio Azevedo, o atual parlamentar Carlos Eduardo Reis ou o presidente da Junta de Freguesia da Estrela Luís Newton – viram o seu nome envolvido numa série de reportagens da TVI/CNN Portugal.
As reportagens dão conta de que, no âmbito da Operação Tutti Frutti, foram intercetadas escutas e comunicações que apontam para um alegado “pacto secreto” entre PSD e PS para cada partido manter a liderança de determinadas juntas de freguesia de Lisboa nas eleições autárquicas de 2017.
Na sua intervenção na sessão pública sobre Évora Capital Europeia da Cultura em 2027, o líder comunista criticou o Governo do PS por considerar que o país tem seguido o “rumo de desvalorização” do setor da cultura. “Mais de 100 estruturas culturais que cumpriam os critérios estabelecidos pela DGArtes [Direção-Geral das Artes]”, que foram avaliadas positivamente e que, mesmo sendo elegíveis, por falta de orçamento, não receberam apoio”, deu como exemplo.
Raimundo afirmou que o orçamento para o setor da Cultura “é baixo e não responde à mais que justa necessidade e aposta estratégica que é necessário e urgente levar por diante”. “Se há estruturas sem apoio, e há-as, isso deve-se exclusivamente à opção do Governo, da sua submissão a outros interesses que não os do acesso, fruição e produção cultural”, acusou, sublinhando que “não é um problema de falta de dinheiro”.
Lembrando o anúncio de um reforço de 79 milhões de euros para o ciclo do Programa Apoio Sustentado às Artes 2023/2026, o líder do PCP referiu que, ainda que seja preciso “ver para crer”, este aumento “não resolve as necessidades de financiamento”.
“Os 79 milhões são pouco mais de metade do valor que o Governo decidiu dar de mão beijada às concessionárias das autoestradas no início deste ano. Foram 140 milhões de euros que saíram dos nossos bolsos diretamente para os cofres da Brisa e outras brisas, mas 79 milhões é o valor que a banca abotoou em lucros nestes últimos sete dias”, comparou.
Passando em revista algumas das propostas do PCP para o setor, Paulo Raimundo concluiu que o país podia estar agora numa situação “bem diferente e bem melhor”, caso as medidas apresentadas pelo partido tivessem sido aprovadas. “Mas também aqui não foi essa a opção do Governo e do PS, nem dos partidos à sua direita. Mais uma vez, PS, PSD, Chega e IL se uniram e não nos acompanharam: são eles os responsáveis pela difícil situação de muitas estruturas culturais”, acrescentou.
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