Ricardo Martinho, presidente da IBM Portugal, defende que salários devem aumentar e os impostos devem descer. Se o país "continuar a ser dos piores pagadores da Europa", terá "piores colaboradores".
O presidente da IBM Portugal, Ricardo Martinho, acredita que a tecnológica vai continuar a crescer, preparando-se para instalar o sexto centro de inovação no país, que ficará na zona Centro e que contará com pelo menos 150 trabalhadores. Mas defende que é preciso continuar a rever os salários em Portugal e baixar os impostos, para aumentar a competitividade do mercado laboral.
Em fevereiro de 2022, pouco depois das legislativas antecipadas, perguntei-lhe como é que via a maioria absoluta do PS. Respondeu: “Se estas eleições vêm trazer estabilidade a Portugal, ainda bem. Se não vêm trazer estabilidade e vêm trazer outra coisa, ainda mal.” Este Governo trouxe essa estabilidade ou veio trazer outra coisa qualquer?
Acho que sim, a estabilidade notou-se. E os próprios resultados da economia portuguesa notaram alguma estabilidade. Foi uma maioria absoluta um bocado instável, mas aí em termos políticos. Em termos de país, acho que trouxe essa estabilidade que nós precisávamos.
Esperemos que se consiga manter e que se consigam estabilizar também internamente as coisas, mas acho que é mais interno e político do que propriamente na conjuntura e naquilo que nos toca a nós, que é a parte económica e a parte social.
Então essa instabilidade política não traz consequências para a IBM.
Para já não. Obviamente que uma instabilidade política que tenha um desfecho como muitos falam de dissolver a Assembleia ou criarmos um novo Governo é algo que nos afeta a nós e a todas as empresas em Portugal. Mas essa instabilidade não nos afetou ainda, diria eu, porque teve algumas consequências mas não teve consequências de maior. Por isso, não tem tido impacto.
Acha que pode vir a ter?
Acho que sim. Acho que pode acontecer e, se acontecer, vai ter muito impacto e vai ser muito mau para todos.
A IBM tem centros de inovação em Tomar, Viseu, Fundão, Portalegre e Vila Real. Em novembro revelou que iriam abrir outro. Já escolheram a localização?
Já temos uma ideia. Eu tinha dito que era na zona Centro. Não podemos ainda anunciar onde é que vamos fazê-lo. Há algumas alternativas. Espero que possamos anunciar muito em breve essa abertura. Vai ser em 2023, como tínhamos estabelecido. Temos tudo pronto do nosso lado. Temos as coisas já estabelecidas internamente e agora estamos a ultimar com as outras entidades.
A estratégia de abrir centros pelo país afora fica por aqui?
Espero bem que não. Para já, fica. Não temos já ideia de abrir um sétimo. Temos de concretizar o sexto, mas espero bem que não fique por aqui. Era bom sinal se nós tivéssemos a necessidade de continuar a abrir este tipo de centros por variadíssimas razões.
Primeiro, porque estávamos a crescer e isto é sinónimo de crescimento. Para podermos investir temos de crescer. É sinal de que tínhamos mais contratos, mais projetos, em áreas novas em que precisamos de recursos e talentos em linha com essas necessidades e portanto é sempre bom sinal alargarmos esse espetro de centros.
O que pode dizer da evolução do número de trabalhadores da IBM este ano?
Aumentámos cerca de 24% a nossa força de trabalho desde o início do ano. É significativo. São 50 pessoas, mais ou menos.
E se incluirmos as outras unidades, como a Softinsa?
Aí aumenta um bocadinho mais em termos do número de pessoas. A média estará mais ou menos próxima: 30% será, mais ou menos, uma média acertada. Mais de 100. Se calhar 150 pessoas.
Temos visto as grandes tecnológicas norte-americanas a despedir nos EUA e a tendência também chegou cá, com despedimentos na Microsoft, só para dar um exemplo. Como é na IBM, incluindo a Softinsa e outras?
Não temos nenhuma política de despedimento, neste momento. Não estamos a pensar entrar nessa vaga. Estamos, ao contrário, a pensar em criar mais postos de trabalho. Esta é a visão da IBM aqui em Portugal.
A abertura deste centro é um exemplo. Aumentarmos entre 150 a 200 postos de trabalho só de uma vez é muito significativo e se juntarmos às contratações típicas que fazemos ao longo dos anos… é natural que podemos depois ver uma redução em termos das contratações típicas e tradicionais, porque ficámos preenchidos com os recursos e com as necessidades que tínhamos. Mas não estamos a pensar nem temos nenhuma política de despedimentos neste momento.
Acredita que podem beneficiar dessa tendência enquanto empresa, porque acabam por poder captar talento que é dispensado por outras empresas?
É sempre um bocadinho difícil, mas claro que sim. Ou seja, se o mercado estiver repleto de pessoas com skills, com experiência e disponíveis, obviamente que a nossa margem de escolha, as nossas fontes de fornecimento de conhecimento são maiores.
Mas o mercado não está repleto, ou está? Não sente escassez?
Sim, sinto uma escassez. Há um problema de recursos, escassez de recursos e capacidade de retenção desses mesmos recursos. Todos nós sabemos: a questão fiscal conta. Temos alguns benefícios para primeiros empregos, mas não temos benefícios para quadros especializados, por exemplo. Reter pessoas com grande talento é, muitas vezes, complicado quando, andando algumas centenas de quilómetros, arranjam se calhar um trabalho em Espanha e têm um benefício fiscal muito considerável. Portanto, nós temos de jogar com isso tudo.
Não temos nenhuma política de despedimento, neste momento.
O teletrabalho criou uma tendência ainda maior para estarmos cá, mas a trabalhar para empresas norte-americanas com salários muito mais elevados…
… mas aí não tem a parte fiscal. Essa preocupa-me bastante, porque é uma coisa que nós podemos fazer também em Portugal e depende de nós, que é ajustarmos as políticas fiscais ao trabalho e termos alguma elasticidade.
Relativamente a este desafio que a força de trabalho e os colaboradores possam ter de outras empresas com esta questão do teletrabalho é algo que nós temos de saber viver com isso. Obviamente que é uma ameaça, porque os salários são diferentes. Eu acho que as políticas salariais têm de ser e têm de continuar a ser revistas.
Não podemos continuar constantemente a ser dos piores pagadores da Europa, porque aí vamos ter dos piores colaboradores da Europa. As pessoas também trabalham para ter a sua independência financeira e serem remuneradas.
O Governo tem dito que vai baixar o IRS sobre o trabalho. Está confiante de que essa reforma fiscal vai acontecer nesta legislatura?
Eu espero bem que sim.
E o que tem sido feito é suficiente?
Não, acho que não. Acho que temos de fazer mais e podemos fazer mais e temos de pensar nisso. Nós temos que ajudar as empresas a poderem ser mais competitivas. E ajudar as empresas a serem mais competitivas não é só obrigar a que produzam mais e tenham cada vez mais resultados.
Isso é a nossa obrigação. Nós temos de apresentar crescimento, temos de apresentar novas áreas, novas matérias, novos centros, novos postos de trabalho… mas também têm de nos dar todas as condições para que nós sejamos cada vez mais competitivos e possamos lutar neste mercado.
Como é que evoluíram os salários na IBM no último ano?
Houve ajustes, aumentos salariais que aconteceram agora. Fizemos o ajuste salarial em maio. Temos sempre uma política de high performance. Estes aumentos salariais não são gerais, tem muito a ver com o que são o desempenho das pessoas e aquilo que fazem no ano anterior e os resultados que atingem. Fizemos essa distribuição salarial. Não temos uma média.
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