Bolsas entraram em bull market, mas os touros podem despedir-se em breve
Os principais índices dos EUA e da Europa acumulam ganhos acima dos 20% desde os mínimos de outubro. Mas os receios de uma recessão e a inflação podem voltar a expulsar os touros das bolsas.
As ações europeias e norte-americanas entraram, tecnicamente, em terreno de bull market. O sinal é dado pelo desempenho dos índices acionistas Stoxx 600 Europe e do S&P 500, que agregam as maiores empresas dos dois lados do Atlântico, e que acumulam valorizações acima dos 20% entre o mínimo histórico alcançado a 13 de outubro do ano passado e esta quinta-feira.
Na Europa, só desde o início do ano, entre as seis centenas de empresas que compõem o Stoxx 600 Europe, contam-se 10 ações com ganhos por cada 6 com perdas. Entre o leque de vencedores de 2023 estão 128 empresas com ganhos acima dos 20%.
Um desses casos é a portuguesa Jerónimo Martins JMT 0,44% , que atualmente está a negociar em recordes históricos, com as ações a transacionarem perto dos 26 euros, acumulando uma valorização de 27% desde o final do ano passado e 40% desde 11 de outubro do ano passado, quando atingiu o valor mais baixo do último ano.
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No entanto, o bull market nas ações europeias e norte-americanas pode ser sol de pouca dura. “A postura energicamente contracionista da Fed e do Banco Central Europeu ameaçam abrandar significativamente a economia nestes dois blocos económicos, podendo mesmo culminar numa recessão“, refere Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.
E é isso mesmo que a inflexão das curvas de rendimentos dos EUA e da Alemanha estão a antecipar atualmente, com as obrigações de curto prazo a apresentarem yields mais elevadas que as praticadas pelas obrigações de longo prazo. “Assim sendo, a atual alta acentuada dos mercados acionistas poderá ser apenas um bear market rally se uma recessão ainda estiver para acontecer, tal como é antecipado pela inversão da curva de rendimentos norte-americana e germânica.”
Touros à espera que nuvens de recessão desapareçam
Os analistas contactados pelo ECO acreditam que o espaço para os touros voltarem a tomar conta das bolsas está dependente de a economia entrar ou não em recessão.
Na Zona Euro, a economia da moeda única encontra-se numa recessão técnica, após dois trimestres de contração do PIB. Nos EUA, os dados do primeiro trimestre revelam um abrandamento da economia norte-americana no primeiro trimestre, com o PIB a registar uma taxa de crescimento real homóloga de 2%, face aos 2,6% do último trimestre de 2022.
“Podemos afirmar que estamos em bull market no curto prazo”, refere Vítor Madeira da XTB, notando que “o mercado tem mostrado um comportamento de bull market, principalmente no que toca à baixa volatilidade e a máximos e mínimos crescentes.”
No entanto, o analista da XTB salvaguarda que, “ainda assim, é necessário cautela, pois as valorizações futuras podem ser comprometidas com os dados macroeconómicos que aí se avizinham.”
Isso significa que mesmo numa situação de não recessão, as bolsas podem vir a ser prejudicadas por conta da política monetária dos principais bancos centrais na procura de trazer a taxa de inflação para a meta dos 2%.
“Se a recessão não acontecer no curto/médio prazo e a inflação se mantiver persistentemente acima da estabilidade de preços nos 2%, e tanto a Fed como o BCE não abdicarem desse propósito de ancorar novamente os preços, então novas altas dos juros são esperadas e, consequente, penalização dos mercados acionistas”, refere Paulo Rosa.
Fugir à onda recessiva que alguns anteveem no horizonte e à onda inflacionista nos EUA e na Zona Euro são assim os grandes desafios para os touros e para os investidores nos próximos anos. Mas, se estas barreiras forem derrubadas, Vítor Madeira recomenda seguir o popular slogan “follow the trend, trend is your friend” (segue a tendência, a tendência é tua amiga).
“O setor com maior potencial será o tecnológico, sendo que o mesmo já deu o sinal”, refere o analista, destacando que “devemos sempre seguir o mercado e, neste caso, o mercado está a apontar para essa direção.”
Lisboa ainda longe das subidas europeias
Ao contrário do que se tem notado nos EUA e na Zona Euro, os touros não se têm feito sentir com tanta força na Euronext Lisboa. Desde 13 de outubro, quando bateu no valor mais baixo dos últimos dois anos, o principal índice acionista da bolsa portuguesa (PSI) acumula uma valorização de 15,9% – mas já chegou a acumular ganhos de 22%, quando a 27 de abril alcançou o valor mais elevado desde outubro de 2022.
Entre as 16 empresas que compõem o PSI, há quatro com ganhos acima dos 20% desde o início do ano. Destaque para as ações da construtora Mota-Engil EGL 2,15% , que desde a primeira sessão do ano acumula uma valorização de 92%. No entanto, há nove empresas que estão a acumular perdas.
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“O PSI pode ainda ter espaço para subir mais uns 5% a 6% até ao final do ano”, antecipa Vítor Madeira, analista da XTB. Porém, o analista refere que “esse potencial pode ser anulado caso os nossos parceiros europeus sofram quedas nos seus índices acionistas (como o CAC40, EU50, DAX30) ou a conjetura económica portuguesa/global se deteriore.”
Mário Martins, analista da ActivTrades, lembra que o PSI tem uma forte componente de empresas ligadas à energia e que, por isso, o desempenho do índice “dependerá como se comportarem os preços dos ativos energéticos, petróleo e gás natural”.
Além disso, Mário Martins assinala também que “o aumento dos custos financeiros poderá condicionar os ganhos nos setores não financeiros, com a banca a ter potencial para registar uma boa performance nos próximos meses.”
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