Investimento imobiliário afunda mais de 55% no primeiro semestre
Desde janeiro que foram fechadas 27 transações que totalizaram um investimento de 360 milhões nos vários segmentos de imobiliário comercial. No ano passado foram investidos 822 milhões.
A subida galopante das taxas de juro, a subida generalizada dos preços e o pacote Mais Habitação têm vindo a travar o investimento imobiliário comercial, que caiu cerca de 56% nos primeiros seis meses do ano, segundo os dados preliminares avançados ao ECO pelas consultoras.
De acordo com a Cushman & Wakefield, desde janeiro que foram fechadas 27 transações, que representam um investimento total de 360 milhões de euros, diz David Lopes, diretor de investimento da consultora, frisando que este “é ainda um valor preliminar para o semestre”, que poderá “sofrer algum ajuste nas próximas semanas”.
Estes dados, ainda que provisórios, revelam que entre março e junho apenas foram concluídas cerca de sete transações de imobiliário.
Também a JLL avança ao ECO que “o montante total de investimento estimado não ultrapassa os 400 milhões de euros”, com Gonçalo Santos, head of capital markets, a dar conta de que os dados provisórios apontam para uma quebra referente ao período homologo acima “de 50%”, quando “foram investidos 822 milhões”.
Entre os vários segmentos, até junho, e de acordo com os dados da Cushman & Wakefield, o retalho colheu 258 milhões de investimento, quase sete vezes acima do valor homólogo, sendo que mais de metade corresponde a um só negócio, os escritórios 47 milhões (menos 69% face ao período homólogo) e a logística 22 milhões (menos 89% que no ano passado). Soma-se ainda 19 milhões de investimento em hotelaria, com uma quebra de 92% quando comparado com o mesmo período do ano passado, e 13 milhões em outros segmentos (menos 16% face ao período homólogo), onde se incluem, por exemplo, imóveis onde estejam instaladas empresas com atividade ligada à saúde.
A JLL acrescenta que o volume de investimento “continua ancorado no setor de retalho com uma representatividade de cerca de 60%, fruto da alienação do portefólio de supermercados ocorrida no primeiro trimestre do ano”, sendo que o Project Amália — o portefólio de supermercados Pingo Doce, que foram comprados pela LCN Capital Partner por 145 milhões de euros — foi a maior transação do semestre. Já o segmento de escritórios está “relativamente em linha” com o desempenho de 2022, diz ainda a JLL.
Mas esta descida do investimento total surge em linha com a tendência já registada no primeiro trimestre do ano, quando as consultoras apontaram para uma quebra homóloga de cerca de 40% no investimento imobiliário que, até março, rondou 225 milhões de euros envolvidos em menos de 20 transações.
Gonçalo Santos diz ainda que este cenário resulta de “um desencontro entre as expectativas de preço dos compradores e vendedores” tendo em conta que os investidores “já ajustaram o perfil de retorno face a subida das taxas de juro, a um maior prolongamento das tomadas de decisão e due diligences mais longas e a um contexto de financiamento e de levantamento de capital mais desafiante”.
Os promotores já tinham apontado que a crise energética, o aumento dos custos das matérias-primas, da mão-de-obra e a subida das taxas de juro estão a fazer com que 2023 seja um dos “anos mais desafiantes da última década do setor imobiliário”, avisou o presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), Hugo Santos Ferreira.
E além deste contexto financeiro, o pacote legislativo Mais Habitação anunciado pelo Governo “paralisou a 16 de fevereiro deste ano todo um setor” que “a todos assustou” tendo em conta que “afugentou investidores, amedrontou proprietários e irritou a população”, com a falta de acesso à habitação, salientou Hugo Santos Ferreira. As medidas anunciadas pelo Governo provocaram “efeitos nefastos em matéria de credibilidade” e de “confiança por parte de quem investe e de quem é proprietário” e, avisa o presidente da APPII, “não sei se alguma vez os voltaremos a ganhar em absoluto” a curto e médio prazo.
Ainda assim, David Lopes da Cushman & Wakefield diz ao ECO que a redução no investimento é “significativamente mais ligeira do que aquela que se verificou nos principais mercados europeus”, e em Portugal foram os americanos, os espanhóis e os ingleses que mais investiram em imobiliário no primeiro semestre do ano.
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