Empresas do futuro, o poder transformador da sustentabilidade

  • Maria João Coelho
  • 7 Julho 2023

Alcançar a sustentabilidade é um desafio para todos os setores, público e privado, governos, centros de investigação e cidadãos. Mas o papel das empresas é crucial.

Uma barragem destruída na Ucrânia e populações e animais submersos e/ou deslocados; vidas devastadas, culturas agrícolas afetadas, ecossistemas e biodiversidade perdidos. Incêndios no Canadá e poluição do ar nos EUA; saúde pública em risco. Acontecimentos atuais que colocam em evidência a interdependência dos temas ambientais, sociais e de governança e, dessa forma, sinais de insustentabilidade do planeta, das pessoas e da sociedade como a conhecemos.

Olhando sob o conceito de limites planetários do Centro de Resiliência de Estocolmo, 6 dos 9 processos que regulam a estabilidade e a resiliência do sistema terrestre já foram ultrapassados (dados de 2022). Um estudo recente da revista Nature propõe que 8 limites do sistema terrestre sejam seguros para todos, integrando a perspetiva da justiça, concluindo que 7 foram também já ultrapassados.

Alcançar a sustentabilidade é um desafio para todos os setores, público e privado, governos, centros de investigação e cidadãos. Mas o papel das empresas é crucial. Em Portugal, 65% da riqueza criada na agricultura, indústria, comércio ou noutros serviços tem origem nas empresas e, para além disso, são responsáveis por 88% dos empregos no país.

Se é verdade que as empresas têm um especial papel na disponibilização e acesso a bens e serviços de que muitos de nós usufruímos, é também inegável que são responsáveis por muitos dos desafios de sustentabilidade que enfrentamos, como a perda de biodiversidade, as alterações climáticas, as desigualdades. As empresas afetam direta ou indiretamente, ou dependem, dos valores ambientais e sociais.

As empresas são, assim, tanto parte do problema, como recai sobre elas uma grande expectativa quanto ao seu papel na solução. De acordo com o Edelman Trust Barometer 2023, as empresas são as instituições geradoras de maior confiança. E é também esperado, em particular pelos colaboradores, que os seus CEO tenham uma participação ativa na mudança. A contribuição das empresas é, pois, fundamental, quer num trajeto de maior eficiência e redução dos impactes, quer especialmente devido ao seu potencial de inovação e transformação.

E o que é possível observar, já hoje, é que empresas mais sustentáveis têm tendencialmente maior valor de mercado, assim como há um apetite crescente por investimentos sustentáveis. Deste modo, empresas sustentáveis estarão em melhores condições para aceder a financiamento.

Para apoiar as empresas nesta trajetória, existem atualmente muitas ferramentas e instrumentos à disposição das empresas, como a análise de ciclo de vida; ferramentas de medição e promoção da circularidade; certificações e sistemas de gestão; referenciais de reporte. Estas ferramentas implicam o envolvimento das suas cadeias de valor e dos stakeholders, assim como uma maior transparência e prestação de contas. Mas proporcionam, sobretudo, uma grande oportunidade estratégica para as empresas refletirem sobre o seu modelo de negócio e na geração de valor no longo prazo.

Assim, as empresas devem olhar para o futuro e traçar o caminho a seguir, perspetivando a sua competitividade futura, baseada na preservação e regeneração da natureza; em emissões zero; em colaboradores satisfeitos e realizados, com noção de propósito; na fidelização dos seus clientes; numa melhor gestão do risco; e em relações mais fortes com os seus stakeholders. A Carta de Princípios do BCSD Portugal e a Jornada 2030 são ferramentas que podem apoiar as empresas nesta transição para a sustentabilidade, levando-as do compromisso à prática, nas operações do dia-a-dia.

Enfim, as empresas do futuro serão organizações mais resilientes, mais competitivas porque criam valor partilhado com os seus parceiros, cadeia de valor e comunidades locais, gerando maior confiança e acedendo com maior facilidade a capital público e privado. Mais do que procurar integrar a sustentabilidade no business as usual, a mudança de paradigma só acontecerá se procurarmos transformar os negócios sob a lente da sustentabilidade.

  • Maria João Coelho
  • Head of Sustainability Knowledge

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