Há uma mão cheia de concelhos onde o preço das casas disparou mais de 20% ao ano. Saiba quais são
O Algarve agrega os municípios com as maiores subidas de preços das habitações desde 2021. Por razões distintas, também a região da Margem Sul do Tejo tem assistido a uma forte pujança do mercado.
O mercado imobiliário nacional está a crescer, mas um ritmo mais moderado do que anteriormente. Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) publicados na quinta-feira, há três trimestres consecutivos que o preço mediano dos alojamentos familiares em Portugal está a abrandar.
Porém, entre os 54 municípios analisadas pelo INE, apenas dois (Matosinhos e Paredes) apresentam uma subida de preços abaixo da média do índice de preços no consumidor nos últimos dois anos (6,7% por ano).
Entre as regiões mais pujantes está destacadamente o Algarve, que há sete trimestres consecutivos que regista taxas de variação homóloga de dois dígitos dos preços. No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, o preço mediano de alojamentos familiares na região aumentou 16,6% face ao primeiro trimestre de 2022, segundo dados do INE.
Em quatro anos, o preço mediano da habitação no Algarve aumentou 57%, passando de 1.658 euros por metro quadrado no primeiro trimestre de 2019 para 2.609 euros no primeiro trimestre deste ano. Trata-se de 10 pontos percentuais acima da média do mercado nacional e apenas comparável com a subida de 59% dos preços na área metropolitana de Lisboa no mesmo período.
“Os preços têm aumentado nos últimos anos porque existem menos casas a entrar no mercado e há uma procura crescente todos os anos”, refere Rui Cristina, consultor da Remax Mercado, em Faro, ao ECO. E no centro do crescimento dessa procura têm estado os estrangeiros, sobretudo os norte-americanos. “Há mais estrangeiros a comprarem do que antes e este último ano tem-se sentido mais americanos a procurarem o Algarve, quando antes eram sobretudo brasileiros e chineses“, refere Rui Cristina.
Essa dinâmica fica bem espelhada nos números do INE: entre os 54 municípios analisados, os cinco que apresentaram maiores subidas do preço mediano das habitações nos últimos dois anos (terminados no primeiro trimestre deste ano) estão localizadas no Algarve, com todos a registarem subidas de preços acima dos 20% por ano.
É disso exemplo Vila do Bispo, no barlavento algarvio, que entre o primeiro trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2023 contabiliza uma subida do preço mediano de 38% ao ano, cerca de três vezes acima da média nacional — e, nos últimos quatro anos regista uma subida anual média de 23%.
“Grande parte dos clientes que tenho tido procuram moradias a partir dos 350 mil euros, mas não casas de milhões de euros”, confessa Rui Cristina, destacando também que há cada vez mais “microcomunidades de amigos” que acabaram por sair dos seus países e decidiram viver no Algarve.
O crescente interesse por Portugal não é de agora. Tem vindo a crescer paulatinamente e a ganhar cada vez maior dimensão. “Não precisamos mais de vender Portugal no estrangeiro. Portugal já é bem reconhecido lá fora pelas suas qualidades”, referiu Patrícia Barão, responsável pelo mercado residencial da JLL Portugal, na quinta-feira numa conferência com especialistas do setor em Lisboa, organizada pela Lantia.
Patrícia Barão reforça esse argumento não apenas pelos prémios e pelo buzz que Portugal tem merecido além-fronteiras, mas sobretudo com base no peso que os estrangeiros têm ganho no mercado português: se em 2020, cerca de 5,3% dos imóveis transacionados foram realizados por estrangeiros, no primeiro trimestre de 2023 essa percentagem subiu para 7,2%.
A mesma tendência tem-se sentido no volume de negócios, com quase 13% das transações realizadas entre janeiro e março deste ano a terem o cunho de estrangeiros, quando há três anos não chegava aos 10%.
Construção nova e pressão de Lisboa puxa pelos preços na Margem Sul do Tejo
O Algarve e particularmente o barlavento algarvio destaca-se entre as regiões que têm assistido a maiores subidas no preço dos imóveis nos últimos anos. Porém, esta não é uma tendência isolada. A região da Margem Sul do Tejo tem também sentido uma forte subida dos preços nos últimos anos.
“Há zonas em que há dois ou três anos havia moradias à venda por 200 mil euros e já estava caro, e hoje estão por 400 mil euros”, refere Marta Valle da KW, dando como exemplo o mercado da Quinta do Conde, no município de Sesimbra.
A Moita e o Barreiro são dois casos que, nos últimos quatro anos, registaram uma subida média anual do preço mediano da habitação de 18% e 16%, respetivamente. Trata-se de uma variação bem acima dos 10% ao ano da média nacional. “É uma consequência dos mercados envolventes”, justifica Marta Valle, referindo-se ao facto de as famílias terem procurado estes concelhos em virtude da manutenção de preços elevados em mercados circundantes, como Lisboa e Almada.
Na Moita, por exemplo, apesar de o preço mediano ter subido 44% nos últimos dois anos, passando de 1.003 euros por metro quadrado no primeiro trimestre de 2019 para 1.440 euros no final do primeiro trimestre deste ano, os preços das habitações permanecem 37% abaixo da média dos valores médios praticados na área metropolitana de Lisboa.
Marta Valle revela que grande parte deste crescimento tem sido alimentando pelo aumento da construção nova em muitos dos concelhos da margem sul do Tejo, como Montijo, Barreiro, Pinhal Novo e Moita. “As pessoas procuram soluções que agreguem qualidade e preço, e estas zonas oferecem isso, sobretudo em comparação com Lisboa”, destaca a consultora.
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Há uma mão cheia de concelhos onde o preço das casas disparou mais de 20% ao ano. Saiba quais são
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