“Aqueles que procuram casa não têm solução e isto vai piorar e muito”, diz ex-presidente do IHRU

Com o preço dos imóveis a aumentar a um ritmo médio anual de 10% desde 2019, sem que o rendimento das famílias aumente na mesma proporção, são cada vez mais os portugueses com dificuldade em comprar, mas também em arrendar casa.

“De 2017 para cá temos vindo a assistir a uma coisa absolutamente louca de cavalgada de preços, quer do arrendamento quer na compra, com um progressivo encolhimento de oferta”, refere Victor Reis, presidente do Instituto para a Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) entre 2012 e 2017, em entrevista ao ECO.

Parte significativa desta subida de preços é explicada por uma forte contração da oferta de casas na última década, que foi acompanhada de um aumento crescente do número de transações de imóveis por todo o país.

Mas a crise na habitação gera-se quando a esta dinâmica se alia uma economia assente em rendimentos baixos. “De que adianta fazer mais construção se não houver arrendamento”, questiona Victor Reis. “As pessoas não têm dinheiro para comprar casa”, diz.

O mercado habitacional é constituído em 98% por propriedades privadas. A oferta de casas em Portugal é marcadamente feita pelo lado dos privados e, segundo Victor Reis, são esses que podem solucionar a crise habitacional. Porém, para que isso aconteça, o ex-presidente do IHRU refere que é preciso haver confiança no Governo e nas políticas públicas que, segundo Victor Reis, não existe.

“Quem precisa de sentir segurança ao colocar uma casa sua em arrendamento tem de ter confiança em quem nos governa. Veja-se as medidas do Mais Habitação que condicionam o aumento de rendas, limitam o alojamento local, … andaram a incentivar os vistos gold e agora é para acabar com os vistos gold. Tudo isto é uma coisa sem sentido” refere Victor Reis, questionando-se: “Como é que alguém que é atraído para fazer um investimento ou num visto gold num alojamento local, pode agora confiar em quem, dois, três, quatro, cinco anos depois muda de opinião?”

Quando olhamos para os anos desta governação, conseguiram fazer cinco vezes menos casas do que no tempo da troika. Espantoso!

Por uma questão de falta de confiança dos proprietários e dos investidores no atual Governo, o ex-líder do IHRU antecipa que a falta de casas no mercado não será revertida de forma significativa. A confirmar-se as suas previsões, estas são más notícias para quem quer comprar ou arrendar casa. “Quem precisa de casa e quem procura casa, em especial os mais jovens, estão tramados. Não vão encontrar resposta para os seus problemas”, vaticinando ainda que as “as coisas vão piorar.”

Victor Reis lembra que existem cerca de 1,8 milhões de casas desocupadas no país, o equivalente a 30% do parque habitacional, que tornam Portugal num recordista nesta matéria. “Estava aqui uma oportunidade fantástica para dar sequência à política iniciada com a reforma do ordenamento urbano de 2012, a chamada Lei Cristas, que colocou no mercado mais de 140 mil casas.”

Victor Reis acusa o Governo de andar a “brincar às casinhas” há vários anos, lembrando a promessa feita em 2016 de o Fundo Nacional para a Reabilitação do Edificado construir 7.500 casas em dez anos. “Passaram sete anos, nem uma fizeram”, diz, salientando ainda que, apesar de todas as promessas feitas, “o mais anedótico de tudo é dizerem que pretendem fazer com que o parque habitacional suba de 2% para 5% nos próximos 10 anos.”

Nas contas de Victor Reis, isto traduz-se na construção de mais 170 mil a 180 mil casas. “Mas quando olhamos para os anos desta governação, conseguiram fazer cinco vezes menos casas do que no tempo da troika. Espantoso!”