O presidente do IST, Rogério Colaço, alerta que a trajetória de aumento do custo de vida em Lisboa poderá ter impacto na capacidade de atração das instituições de ensino superior
Nem os alunos estrangeiros a estudar no Instituto Superior Técnico (IST) parecem estar imunes ao aumento do custo de vida no País. Rogério Colaço, presidente do IST, admite que na faculdade de engenharia “já começa” a ser tema junto da população estudantil internacional: 1.500 alunos de um total global de mais de 11.000 estudantes, sobretudo, estudantes de pós-graduação.
“Se continuarmos nesta trajetória de aumento do custo de vida na cidade de Lisboa, de facto, poderá ter impacto na capacidade de atração e internacionalização das instituições de ensino superior no centro da cidade, nomeadamente”, alerta Rogério Colaço.
A faculdade da Universidade de Lisboa já está a trabalhar numa licenciatura ministrada em inglês, para atrair talento internacional para o IST. “A Licenciatura em Ciências Básicas de Engenharia é o primeiro passo para levarmos o Técnico internacionalmente logo na formação básica, captando talento internacional. Uma necessidade que sentimos há quatro, cinco que não tínhamos trabalhado convenientemente e criámos este ciclo de estudo virado para este público alvo”, diz. O arranque está previsto para 2024-2025.
A inflação, o aumento dos custos da habitação, não está a tornar Lisboa menos atrativa para estudantes estrangeiros? Um estudante estrangeiro não pensará duas vezes em vir estudar para o Técnico?
Nos estudantes estrangeiros ainda não se faz sentir com tanta acuidade o impacto do custo de vida. Em geral, os nossos estudantes estrangeiros vêm de países com maior capacidade financeira, têm bolsas de estudo, seja Erasmus ou outro tipo de financiamento. Agora devo dizer que este ano, e a nossa área Internacional deu-me nota disso, que já houve alguns casos de comentários sobre o aumento do custo de vida por parte de estudantes estrangeiros deslocados. Se continuarmos nesta trajetória de aumento do custo de vida na cidade de Lisboa, de facto, poderá ter impacto na capacidade de atração e internacionalização das instituições de ensino superior no centro da cidade, nomeadamente.
É já um tema. É o que está a dizer.
Começa a ser um tema.
E que peso essa população tem no Técnico?
Temos cerca de 1.500 alunos estrangeiros, não portugueses. Cerca de 10 a 12% dos nossos estudantes — IST tem mais de 11.000 alunos — são estrangeiros, quer em programas de mobilidade, quer estudantes internacionais não europeus, que têm um tratamento um bocadinho diferenciado dos europeus nas propinas, depois da lei do estudante internacional. Todos os nossos mestrados as aulas são em inglês sempre que há um estudante internacional, o que, basicamente, significa que nos mestrados todas as aulas são em inglês. No caso da licenciatura, no próximo ano teremos uma licenciatura — está na fase final da aprovação — totalmente em inglês. Uma licenciatura em ciências básicas de engenharia que criamos pensando em atrair estudantes internacionais logo para o primeiro ciclo. A licenciatura depois dá acesso a um conjunto de segundos ciclos do Técnico em diferentes áreas. Estará a funcionar no próximo ano, em 2024-2025.
As escolas de gestão e negócios nacionais há muito apostam na atração de alunos internacionais. Face à qualidade da formação da engenharia em Portugal — fator sempre referido pelas empresas que por cá se instalam — não faria sentido uma estratégia mais concertada do lado da atração?
A internacionalização do segundo ciclo no Técnico, começou há uns 15 anos. Os 1.500 estudantes estrangeiros que referi são, sobretudo, estudantes de segundo ciclo. Se olharmos só para os nossos estudantes de segundo ciclo, entre 4.500 a 5.000, já são uma proporção bastante significativa. A Licenciatura em Ciências Básicas de Engenharia é o primeiro passo para levarmos o Técnico internacionalmente logo na formação básica, captando talento internacional. Uma necessidade que sentimos há quatro, cinco que não tínhamos trabalhado convenientemente e criámos este ciclo de estudo virado para este público alvo
Não receia que este tema do custo de vida, os sinais que já está a ouvir da população estudantil estrangeira, seja um problema para garantir o sucesso dessa aposta?
A resposta é sim, receio, mas no Técnico o receio nunca foi motivo para deixarmos de fazer nada. É esta a nossa cultura. O aumento do custo de vida é uma preocupação, temos que acompanhar isso, que tentar encontrar soluções. A questão das residências e dos quartos é absolutamente determinante. É um projeto mais a longo prazo.
No que toca à atração de talento estrangeiro, já tem mercados definidos?
Estamos a trabalhar com uma consultora parte da nossa rede de parceiros, precisamente no sentido de identificar os públicos-alvo, para os quais o Técnico, com a sua história, com as suas áreas científicas, com a localização que tem na Europa e no País, seja atrativo.
Essa licenciatura abre para quantas vagas?
Não vamos abrir com muitas, será à volta de 50 ou 60. Depois vamos avaliar a situação e, se como esperamos, for atrativa, vamos tentar aumentar o número de vagas em anos posteriores.
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“Estudantes estrangeiros já comentam aumento do custo de vida”
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