Marques Mendes assume disponibilidade e “coloca pressão” na corrida presidencial, dizem politólogos
O antigo líder do PSD está a "marcar terreno" ao admitir disponibilidade para se candidatar à Presidência da República em 2026, numa altura em que começam a surgir vários nomes para a corrida.
Ainda faltam dois anos e meio para os portugueses irem às urnas escolher o próximo Presidente da República, mas os candidatos já se começam a posicionar. O ex-presidente do PSD Luís Marques Mendes sinalizou que admite candidatar-se à mais alta figura de Estado, numa espécie de “apuramento de mercado eleitoral” que acaba por “colocar pressão” na corrida, como apontam politólogos ao ECO, depois de Pedro Santana Lopes dar sinais de que poderia encaixar no perfil. À esquerda, também já começam a surgir alguns nomes.
As presidenciais só se vão realizar em janeiro de 2026, mas Marques Mendes “está a fazer o apuramento de mercado eleitoral e a tentar perceber se internamente há interesse por parte do partido”, aponta Paula Espírito Santo ao ECO. “Está a transmitir uma mensagem interna para o partido, no plano de candidato presidencial, e também perante a opinião pública”, nota.
Esta “manifestação de interesses” também não está desassociada das recentes declarações de Pedro Santana Lopes, que tem falado do perfil necessário para a Presidência da República. “Sendo expressa, acaba por colocar o partido perante uma circunstância em que tem de definir a posição nos próximos meses e indicar expressamente se apoia ou não” as figuras que se chegam à frente, salienta a politóloga. Entretanto, Santana até já comentou as declarações de Marques Mendes apontando que não foi uma surpresa e que o comentador “está a seguir uma receita já conhecida”, numa comparação com Marcelo Rebelo de Sousa citada pelo Público.
Marques Mendes está assim “a tomar a dianteira e a colocar-se como possível candidato de forma clara e expressa e sobrepor-se a outras eventuais intenções de figuras que não se manifestaram”, acrescenta a politóloga. Além disso, há também que ter em conta o momento: “O ex-Presidente do PSD apareceu publicamente na Festa do Pontal do PSD, pelo que a associação pública ao partido do qual foi líder trouxe a questão, novamente, para cima da mesa”, aponta Hugo Ferrinho Lopes ao ECO. “O timing também lhe é útil, porque marca a rentrée política”, acrescenta.
De facto, a Festa do Pontal foi o mote para a pergunta de Clara de Sousa que deu origem a esta declaração de Marques Mendes. Ainda que tenha desvalorizado a aparição, 16 anos depois da última, dizendo que foi convidado, admitiu que uma candidatura é uma possibilidade. “Se eu vir que tem alguma utilidade uma candidatura minha, e que tenho o mínimo de condições para o concretizar, sou franco: tomarei essa decisão”, disse o comentador político.
Apesar disso, salientou que nunca falou com Luís Montenegro sobre uma possível candidatura ou campanha. Mesmo assim, “a sua aparição junto ao atual líder do PSD sugere que gozará de maior simpatia por parte da direção do partido para que seja ele o escolhido pelo PSD”, salienta o politólogo. Para Ferrinho Lopes, “assumir a sua eventual disponibilidade a sensivelmente dois anos do início da pré-campanha presidencial pode ser uma forma de marcar terreno para o surgimento de outros possíveis interessados dentro do seu espaço político”, destaca.
“Por outro lado, ao deixar claro que pondera candidatar-se mesmo sem apoios partidários é uma forma de colocar pressão para outras escolhas por parte do partido ou de candidatos”, nota, sendo que “ao dividirem o espaço eleitoral do centro-direita, aumentariam as probabilidades de uma derrota”.
Pedro Santana Lopes tem dado entrevistas onde admitiu voltar a ser militante do PSD e falou sobre o perfil de um próximo Presidente da República. O antigo líder social-democrata, que chegou a criar o seu próprio partido – o Aliança –, já tinha dito em abril que não via “ninguém com melhor currículo” que ele para exercer a função de Presidente, ainda que não tenha sinalizado que vai avançar. Apesar de não ter estado presente da Festa do Pontal, é de destacar que Santana Lopes foi mencionado pelo próprio Montenegro numa das iniciativas pelo país, onde disse estar “convencido” de que Santana “vai regressar a casa”.
Se formos pelas sondagens, Marques Mendes está com um avanço sobre Santana Lopes. No último barómetro da Intercampus, de julho, Marques Mendes e Paulo Portas tinham cerca de 3% das intenções de voto cada. O nome mais bem posicionado à direita é Pedro Passos Coelho, no terceiro lugar (13,3%), atrás de António Guterres e António Costa, sendo que o chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, contabilizava 7,9% das intenções. Já Santana Lopes agregava 1,9% das intenções dos inquiridos, ficando apenas à frente de Augusto Santos Silva, possível candidato do PS.
Tendo em conta este desempenho mais desanimador do atual Presidente da Assembleia da República, já começaram a surgir notícias de que os socialistas estão à procura de alternativas. Segundo o jornal Nascer do Sol, Mário Centeno é uma das opções que se pensam enquanto reserva. Este posicionamento de possíveis candidatos à direita pode também “obrigar a que se façam contas nos outros partidos” sobre os potenciais candidatos, aponta Paula Espírito Santo, tendo em conta a oposição. A corrida começa assim a ganhar forma, num campo que tem já outro candidato assumido: Tim Vieira, empresário e antigo “tubarão” do programa Shark Tank.
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