A importância da eficiência energética

  • João Guerra
  • 7 Setembro 2023

Um passo essencial para identificar medidas de eficiência energética, é a implementação de um sistema de gestão de energia.

A energia é muito importante na estrutura de uma organização, não é apenas um custo financeiro, mas também ambiental. Empresas que são eficientes do ponto de vista energético, otimizam o consumo e reduzem despesas e impactos. Isto é uma vantagem competitiva.

A eficiência energética deve ser encarada como um pilar essencial para a descarbonização dos setores de atividade económica. As empresas fornecedoras e gestoras de energia, têm de trabalhar com os seus clientes, otimizando consumos e menorizando custos operacionais, conseguindo assim aumentar a competitividade e diminuir o impacto no planeta.

Todos os setores são elegíveis para a aplicação de medidas de eficiência energética, desde o retalho, o turismo ou a grande indústria. No entanto, os setores com o maior potencial de otimização de consumos são aqueles que utilizam energia térmica nos seus processos (vapor, água quente, etc.), refrigeração, climatização ou utilização de ar comprimido.

Qual a importância da gestão de energia para a eficiência energética?

Independentemente de ser uma indústria com maior ou menor operação, um passo essencial para identificar medidas de eficiência energética, é a implementação de um sistema de gestão de energia. Com a instalação de sistemas de gestão de energia é possível a recolha de dados e realizar a monitorização de consumos. Desta forma existe uma real noção de como a energia é consumida nos diferentes processos industriais. Isto é um passo importante pois, de acordo com um estudo da Agência Internacional de Energia, cerca de 30% do consumo energético nas empresas corresponde a desperdício, seja ele por ineficiência dos sistemas técnicos, ineficiência operacional ou por erro humano.

Com a gestão de energia é possível as indústrias terem uma política energética bem definida, com objetivos e planos de racionalização quantificáveis e alcançáveis no tempo. Esta é uma ferramenta essencial para a tomada de decisões de gestão, visto que quanto mais informação for recolhida, menos a empresa decidirá com base em estimativas e mais certezas terá na hora de avançar com os investimentos certos para obter maior retorno.

Fábricas com mais anos de operação VS Fábricas mais recentes

É importante separar fábricas com mais anos de operação (idade superior a 20 anos), onde existe maior potencial para executar projetos de eficiência energética, isto porque tipicamente dependem de equipamentos e tecnologias “desatualizadas” que são menos eficientes em termos de consumos energéticos, em comparação com formatos mais recentes. Muito provavelmente essas máquinas podem estar amortizadas ou em final de ciclo de vida e é fácil elaborar um plano de negócio que justifique a implementação de novos equipamentos. Ao tomar esta decisão, as empresas vão usufruir de redução nos consumos energéticos, diminuição de custos operacionais e minimização de impactos ambientais.

Substituir equipamentos pode representar algum grau de complexidade pois estamos a interferir no processo produtivo, mas existem iniciativas que são simples de realizar e que têm um impacto positivo na redução da fatura energética, como por exemplo o relighting – ou seja a substituição das lâmpadas por tecnologia LED. Uma iluminação mais eficiente tem uma vida útil mais longa e pode economizar até 65% de energia. A iluminação pode representar em média cerca de 15% do consumo elétrico de uma instalação industrial.

Instalações mais antigas também podem ter a necessidade de substituir as coberturas – sendo que existe uma percentagem significativa com coberturas em fibrocimento. Esta decisão pode ser conjugada com a implementação de uma central fotovoltaica na cobertura. Desta forma existem vários benefícios: Caso a cobertura seja em fibrocimento, existe a eliminação de um fator de risco de saúde pública, o amianto; Melhoria da iluminação natural com a colocação de material translúcido; Melhoria da componente térmica, por exemplo com a aplicação de painéis sandwich; Instalação de central fotovoltaica para autoconsumo.

Fábricas mais recentes já devem ser projetadas e implementadas com considerações de eficiência energética, tanto em termos de edificado, climatização, assim como de processos produtivos. Obviamente existe sempre espaço para desenvolver e implementar medidas de eficiência energética. É importante perceber que a eficiência energética é um processo de melhoria contínua.

E quais são os ganhos obtidos com a eficiência energética?

Determinar a percentagem média da economia gerada por projetos de eficiência energética é um desafio. Isto porque os projetos podem variar bastante conforme a sua tipologia, a indústria, o equipamento, a tecnologia. Da experiência acumulada que temos, podemos partilhar os seguintes números: no segmento industrial há ganhos na ordem de 15 a 30%; Hospitais e hotelaria têm um perfil de ganhos com eficiência energética semelhantes; nos prédios comerciais e centros comerciais, os ganhos são da ordem dos 10 a 20%.

Portugal está no bom caminho para atingir as metas europeias de eficiência energética?

Portugal tem feito progressos significativos na área da eficiência energética nas últimas décadas, fruto de legislação que remonta ao final da década de 80 (no seguimento dos choques petrolíferos e do peso da fatura energética na balança de pagamentos, num país de parcos recursos). Portugal está adiantado nesta área face à maioria dos países europeus, e tem expertise técnica para reforçar o pilar da eficiência como um dos pontos mais relevantes do desafio crescente da transição energética.

O Conselho Europeu de 23 e 24 de outubro de 2014 deu o apoio a uma meta de 27% em matéria de eficiência energética ao nível da União para 2030. Portugal, através do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), compromete-se com uma meta de eficiência energética de 35% na próxima década, com uma incorporação de 47% de renováveis no consumo final de energia. Existem atualmente vários instrumentos de financiamento que visam estimular a aplicação de medidas de eficiência energética, como por exemplo o Fundo de Eficiência Energética (FEE) que financia programas e medidas previstas no Plano Nacional de Ação para a Eficiência Energética.

O que é necessário fazer para acelerar a sensibilização nas empresas?

No decorrer da guerra na Ucrânia, em 2022 houve um “choque” de preços que obrigou muitas empresas a olhar para a energia de outra forma. Esta necessidade urgente, associada a esquemas de apoio do PRR e outros apoios criaram uma dinâmica muito interessante no mercado. A necessidade de implementar medidas de eficiência energética foi transversal a todos os setores, mas teve principal incidência em indústrias que não conseguem eletrificar a totalidade da sua cadeia produtiva, como por exemplo cerâmica e siderurgia. O desafio neste momento será não deixar esmorecer esta “onda”, que teve origem na escalada de preços. Todos os intervenientes devem aproveitar essa experiência recente para sublinhar a necessidade de trabalhar a componente energética de forma permanente e com os parceiros certos. Apenas desta forma as empresas podem estar mais preparadas para volatilidades no mercado e igualmente para garantir segurança no fornecimento (por exemplo através da implementação de projetos de autoconsumo solar).

O setor do turismo é um bom exemplo de um setor que está a implementar medidas no sentido da promoção da eficiência e neutralidade carbónica. A Estratégia Turismo 2027, elaborada pelo Governo, pretende estimular que Portugal seja um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis no panorama mundial. Dessa forma, no Plano Estratégico para o Turismo 2027 estão identificadas medidas que devem ser implementadas para permitir a redução do consumo energético, assim como medidas que estimulam a utilização de fontes de energia renovável em detrimento de fontes de origem fóssil. A implementação destas medidas contribui para as metas nacionais definidas no Plano Nacional de Ação para a Eficiência Energética.

  • João Guerra
  • Diretor de Marketing e Comunicação da Helexia em Portugal:

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