Ex-CEO da TAP diz que qualquer decisão judicial não repara “enormes danos reputacionais”

Decisão judicial não irá "reparar integralmente os enormes danos reputacionais e pessoais que sofri e continuo a sofrer", diz a ex-CEO da TAP, que vinca que foi o Governo a convidá-la para o cargo.

A ex-CEO da TAP salienta que qualquer decisão dos tribunais no processo contra a companhia aérea não vai apagar os danos causados por uma demissão que considera abrupta e injustificada, apesar de mostrar “confiança na justiça”.

“Espero que seja reposta toda a verdade. Infelizmente, qualquer decisão que venha a ser tomada não poderá reparar integralmente os enormes danos reputacionais e pessoais que sofri e continuo a sofrer. Ninguém deveria passar pelo que passei, nem pessoal, nem profissionalmente”, afirma Christine Ourmières-Widener.

Estas são as primeiras declarações da ex-CEO da TAP, numa nota enviada à Lusa, depois de ter dado entrada com um processo contra a TAP a reclamar 5,9 milhões de euros, para o qual a gestora francesa tem uma lista de 15 testemunhas, segundo a informação a que o ECO teve acesso.

A gestora aproveita para vincar que foi o Governo que “convidou uma gestora internacional, com uma carreira ascendente”. “Não fui eu que procurei a posição de CEO da TAP. Foi o Governo que me convidou. Convidou uma gestora internacional, com uma carreira ascendente, garantiu o pagamento de um bónus que foi decisivo para a minha aceitação e decisão de mudar toda a minha família para Portugal, assinou um contrato por 5 anos, que foi abrupta e injustificadamente interrompido”, refere.

Christine Ourmières-Widener reitera ter agido “sempre com total transparência” e de “boa-fé” na liderança da companhia aérea e recorda os resultados financeiros “nunca antes obtidos”.

“Acredito na justiça, seja em Portugal, seja no estrangeiro. Tenho mantido o silêncio, em respeito à TAP e aos seus trabalhadores, pelo que lamento, uma vez mais, a reação pública do Governo sobre o processo”, sentencia.

Christine Ourmières-Widener avançou esta terça-feira com o processo legal contra as duas empresas do universo TAP – TAP SA e TAP SGPS – contestando a sua demissão pelo Governo, que considera ter sido “ilegal”.

O ECO sabe ainda que o pedido de 5,9 milhões de euros diz respeito à sua saída da TAP sem direito à indemnização, bónus e subsídio de não concorrência e ainda por danos reputacionais e de publicidade pela forma como foi despedida – em direto, através das televisões, com o anúncio de Medina e Galamba com base num parecer da IGF sobre a forma como Alexandra Reis saiu da companhia com uma indemnização de 500 mil euros (verba que já foi devolvida).

Questionado pelo ECO, o ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, não quis comentar o processo. Também os ministérios das Finanças e o das Infraestruturas se recusaram a comentar. A TAP acompanha o silêncio.

Mas no briefing do Conselho de Ministros desta quinta-feira, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse que “o Governo tomou uma decisão com base num relatório que é absolutamente inequívoco”. “Estamos muito confortáveis com a decisão tomada”, acrescentou, ressalvando, ainda assim, que todos têm o “direito” de se defender.

Na audição na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, a 4 de abril, a ex-CEO tinha avisado que tinha de recuperar a honra e a reputação de 30 anos na indústria da aviação e que rejeitou demitir-se, como sugerido em reunião com Medina, porque nada tinha feito de errado. “6 de março foi o pior dia da minha vida, por isso, sim, vou tentar reparar a minha honra, com a reputação global que tenho nesta indústria”, afirmou Christine Ourmières-Widener.

A antiga CEO da TAP foi então perentória: “Ter dois ministros a demitir-me com justa causa está a arruinar a minha reputação, perante a minha família, os meus filhos e amigos. Tenho de o fazer”.

A demissão da gestora foi anunciada no dia 6 de março pelos ministros das Finanças, Fernando Medina, e das Infraestruturas, João Galamba, durante a conferência de imprensa em que foram divulgadas as conclusões da auditoria da IGF ao processo de saída da antiga administradora Alexandra Reis, mais tarde nomeada secretária de Estado do Tesouro. Na mesma ocasião foi anunciado o seu sucessor: o atual CEO, Luís Rodrigues, que era na altura o CEO da SATA.

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