Savannah identifica 60 potenciais parceiros de negócio para a exploração de lítio em Portugal

Diogo da Silveira, administrador não executivo da Savannah, garante que não está em cima da mesa uma proposta de venda do projeto em Boticas.

A Savannah Resources foi a primeira empresa em Portugal a receber uma luz verde (condicionada) da Agência Portuguesa do Ambiente para a exploração de lítio em Portugal. O administrador não executivo, Diogo da Silveira, adianta ao ECO/Capital Verde que a empresa abriu um processo para avaliar possíveis parcerias, que já conta com 60 candidaturas — e estão abertos a mais.

A Aethel Minium, que foi apontada como possível compradora do projeto, é um dos candidatos a este processo, mas o responsável da Savannah rejeita que a intenção seja a compra. Diogo da Silveira garante que a venda do projeto de lítio em Portugal, apesar de ser uma hipótese, “não é o foco”, e que não existe nenhuma oferta nesse sentido em cima da mesa.

A Savannah está focada apenas em Portugal?

Neste momento está focada só em Portugal. Foi uma empresa que já teve outros projetos, mas neste momento o projeto é Portugal.

Outros projetos… também de lítio?

Não, outros projetos mineiros, não de lítio. Teve dois outros projetos na África do Sul e em Moçambique, mas nenhum foi de lítio. É típico nas empresas mineiras terem um conjunto de projetos e depois, em função do que se vem a confirmar, escolhem e priorizam. E aqui a prioridade clara e única neste momento é a futura mina no Barroso.

Ou seja, os outros dois projetos não chegaram a uma fase tão avançada como o português?

Chegaram, mas foram cedo cedidos.

A venda também é uma hipótese no caso do projeto português?

Não é o foco. Agora, uma hipótese… No mundo empresarial é uma questão de condições. Mas não é esse o foco, claramente. Na altura em que anunciámos que estamos a recrutar um novo CEO, é com certeza para levar o projeto para a frente, senão não se fazia este tipo de investimento. Dito isto, depois há ofertas que são irrecusáveis. Em todos os setores. E aqui também imagino que haja.

Diogo da Silveira, administrador da Savannah Resources PLC, em entrevista ao ECO/Capital Verde - 12SET23
Diogo da Silveira, administrador da Savannah Resources PLC, em entrevista ao ECO/Capital Verde Hugo Amaral/ECO

Mas há alguma de que tenha conhecimento?

Não, não há nenhuma que eu tenha conhecimento e, que eu saiba, não há mesmo nenhuma em cima da mesa. Nós temos neste momento um processo que chamámos de EOI, Expression of Interest, na medida em que estamos à procura de parceiros, sobretudo na perspetiva do offtake. Portanto, pessoas que vão garantir que estão interessados em ficar com uma parte da nossa produção. Quando se tem essas garantias, depois de todo o financiamento, fica mais fácil o financiamento do projeto em si. Portanto, temos um projeto [EOI] que já lançámos há mais de um mês, tem mais de 60 candidaturas. Pessoas que responderam a dizer que estão interessados, uns numas certas condições, outros noutras condições. Isso, de resto, é que poderá ter dado azo a interpretações de que havia alguém a fazer uma proposta de compra. Não há. Neste momento não há.

Está a falar da Aethel Minium?

Isso.

Portanto, não confirma a intenção de compra. Nem é um dos 60 candidatos?

Confirmo que é um dos 60 candidatos.

E de quantos parceiros estão à procura?

Serão vários. Não temos nenhum número a priori. Porque há parceiros muito diferentes. Uns com grandes capacidades para processar lítio, outros que são só financeiros, outros mais estratégicos, outros mais integrados. Não está definido. Fizemos isto justamente para perceber um pouco a procura. Para perceber o que há neste momento. Como sabemos, é um tema que está muito, muito quente, mas depois é preciso perceber melhor, ver mais em detalhe. E temos tido, de facto, um conjunto de propostas variadíssimas.

Mas consegue dividir consoante o tipo de proposta, o tipo de parceria que está implícita?

Como o processo não está terminado, não vou poder partilhar.

Então ainda estão abertos a candidaturas? Quando é que terminam?

Não há nenhum número limite. Definimos um prazo até outubro.

E depois de terem as candidaturas todas recolhidas, quando vão decidir sobre elas?

Temos uma grande flexibilidade. Neste momento temos a produção toda livre, toda disponível, toda do nosso lado. Vai depender muito das propostas que vamos receber. Até temos pessoas que desejam comprar a totalidade da nossa produção, que não é o nosso desejo.

E dentro dessas candidaturas, alguma que se tenha destacado, que lhe pareça uma daquelas “irrecusáveis”, como referiu?

Não. Há muitas propostas interessantes, não há nenhuma irrecusável.

Uma das informações que estava na vossa apresentação é que tinha o objetivo de transportar para uma refinaria em Portugal ou outros clientes da Europa. As refinarias em Portugal são limitadas. Temos o projeto da Lusorecursos, da CALB, da Aurora Lithium, o da Bondalti. Tem mantido especial contacto com algum destes projetos?

Com a Lusorecursos, não. Os outros três nomes fazem parte do processo que está em curso [EOI]. Há a ideia de ter um cluster português, ibérico ou europeu, no mínimo. Há, de resto, uma orientação clara da União Europeia sobre isso. Nomeadamente, um ato recente, de há um par de meses, o Critical Raw Materials Act. E, portanto, queremos ser um elemento chave europeu. A maior probabilidade será a de termos parceiros a operar na Europa.

E em relação a Portugal, estando planeado que comecem a extrair lítio em 2026, terão até lá as parcerias com empresas que operem no país?

Sim, penso que vamos ter as parcerias bem antes disso.

Estes projetos conseguirão acompanhar? Em 2026 estarão prontos para receber o vosso lítio?

Sim, são projetos que em menos de dois anos se põem em operação, com certeza.

Diogo da Silveira, administrador da Savannah Resources PLC, em entrevista ao ECO/Capital Verde - 12SET23
Diogo da Silveira, administrador da Savannah Resources PLC, em entrevista ao ECO/Capital Verde Hugo Amaral/ECO

Planos para terem uma refinaria vossa não existem.

Não. Nós estamos concentrados em extrair espodumena de lítio.

Mas há o risco de o vosso projeto não ter um impacto relevante na economia portuguesa?

É um projeto que prevê espodumena que fabrique 500.000 baterias elétricas por ano, é impossível não ter um impacto gigantesco.

Mas a parte das baterias ainda não está assegurada.

Não está em Portugal, mas há imensas grandes fábricas de baterias que, justamente, não têm lítio suficiente, por isso é que o preço está tão elevado.

Estava a perguntar o impacto, não na Europa, mas em Portugal. Se essas fábricas forem instaladas lá fora…

Se forem lá fora, o impacto será inferior, porque o que é certo é só que haverá em Portugal, com os projetos que já estão em curso, a parte da refinação. Portanto, refinaria vai haver. Do que eu entendo, também vai haver baterias porque nomeadamente o projeto da Aurora, do pouco que sei, está bastante avançado. E o projeto de origem chinesa, da CALB, também. Não está garantido, mas são projetos que estão muito avançados. Portanto, é possível que assim não seja. Mas não é provável que assim não seja.

Como é que vamos explorar isto da forma mais responsável. Queremos fazer isto da forma mais responsável possível. O que eu acho que marca mais as pessoas é como é que isto depois fica. E então, uma das críticas que eu já ouvi foi ‘vocês dizem que isto vai ficar muito bonito, mas vocês depois vão-se embora’. No nosso caso não vai ser assim.

E qual a sua visão sobre como é que está a regulação em Portugal quanto ao lítio? Pensa que precisa de evoluir?

Existe um enquadramento perfeitamente aceitável neste momento, no nosso entender.

Uma das principais críticas dos ambientalistas é que a zona de Boticas não devia ter exploração porque existiu um estudo a nível nacional que definiu seis áreas mais adequadas. E nenhuma é a que está agora em exploração, porque o vosso projeto foi anterior a este estudo. Como responde às críticas que dizem que não é possível haver mineração responsável nesta zona em particular?

Ali há lítio. Não é noutro sítio, é ali. Não consigo transportar. Portanto, só temos duas hipóteses: exploramos ali ou não exploramos, porque é ali que há lítio. Portanto, depois a ideia é: como é que vamos explorar isto da forma mais responsável. Queremos fazer isto da forma mais responsável possível. O que eu acho que marca mais as pessoas é como é que isto depois fica. E então, uma das críticas que eu já ouvi foi ‘vocês dizem que isto vai ficar muito bonito, mas vocês depois vão-se embora’. No nosso caso não vai ser assim.

Temos cinco poços e que são explorados de forma faseada. Ao fim de um ano e meio já vamos estar a reabilitar a primeira corta, porque ela só é explorada durante ano e meio. Tenho uma exploração aqui de 14 anos, mas no segundo ano já vamos estar a reabilitar. E, portanto, a população, a DGEG, a APA, toda a gente vai ver se estamos a fazer de forma adequada. No oitavo ano estamos a reabilitar o segundo poço, o maior. E se não fizermos as coisas como deve ser, vamos parar a exploração – e muito bem. Ao longo do processo vão poder avaliar a nossa maneira de estar.

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