Novo partido alemão anti-imigração desafia coligação de Scholz

  • Joana Abrantes Gomes
  • 23 Outubro 2023

A Aliança Sahra Wagenknecht - Pela Razão e Justiça (BSW) será a base para um novo partido na Alemanha, a ser formado em janeiro de 2024, para participar nas eleições europeias de junho do próximo ano.

Nasceu um novo movimento político na Alemanha. Sahra Wagenknecht, deputada do partido da esquerda Die Linke, que entretanto decidiu abandonar, anunciou esta segunda-feira a Aliança Sahra Wagenknecht – Pela Razão e Justiça (BSW), marcada por uma forte mensagem anti-imigração, embora combine também ideias tradicionais de esquerda.

Numa conferência de imprensa em Berlim, que o Financial Times disse estar lotada, a política alemã sublinhou que o BSW se destina às pessoas que pensam votar no partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), “por fúria e desespero, mas não por serem de direita”.

Sahra Wagenknecht é uma das personalidades mais conhecidas da Alemanha, sendo presença assídua em talk-shows na televisão e autora de livros líderes de vendas. Uma sondagem do Insa, divulgada no domingo, mostrava que 27% dos alemães considerariam votar num partido liderado por ela.

Será difícil classificar o BSW no espetro político, já que defende ideias tradicionais de partidos de esquerda, como um imposto sobre a riqueza, avultados investimentos do Estado na Educação e oposição à NATO, ao mesmo tempo que, à semelhança da direita, rejeita a imigração irregular – tema que está no topo da agenda política do país, devido ao crescimento do número de refugiados.

“O nosso país está completamente sobrecarregado”, disse Sahra Wagenknecht, acrescentando que a Alemanha carece de 700 mil apartamentos, de dezenas de milhares de professores e de lugares em creches. “Permitir a imigração maciça numa situação destas é simplesmente irresponsável“, reiterou.

Além da oposição à imigração, cujas opiniões vieram à tona pela primeira vez em 2015, em plena crise de refugiados, a política alemã tem-se mostrado contra o apoio à Ucrânia e às sanções económicas aplicadas a Moscovo, apelando a uma solução diplomática para o conflito – embora se defenda de acusações de ser pró-russa. Durante a pandemia de Covid-19, apoiou os antivacinas e rejeitou o uso da máscara.

Forte crítica do governo alemão, que considera ser o “pior da História do pós-Guerra”, o lançamento deste movimento surge pouco depois de os três partidos que formam a coligação governamental (SPD, Verdes e FDP) registarem um fraco desempenho nas eleições regionais da Baviera e de Hesse, que, pelo contrário, tiveram um enorme aumento do apoio à AfD.

“Decidimos formar um novo partido porque estamos convencidos de que não podemos continuar assim. Caso contrário, provavelmente não reconheceremos o nosso país daqui a 10 anos”, afirmou.

O movimento lançado esta segunda-feira, que será a base para um partido a ser formado em janeiro, coincide com a decisão de Wagenknecht de abandonar o Die Linke, após anos de tensão entre ela e os líderes do partido de esquerda que emergiu de dissidentes do SPD (partido de Scholz) e do antigo Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED).

A sua saída pode ser um desastre para o Die Linke, cujo grupo parlamentar era liderado por Wagenknecht. Vários dos seus 38 deputados disseram que iam sair para o BSW, o que significa que o partido perderá o seu estatuto de bancada parlamentar e será reclassificado como um simples “grupo”, com menos direitos.

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