Bye, bye meu calhambeque

  • Daniela Simões
  • 27 Outubro 2023

Enquanto se promove a renovação da frota automóvel com este tipo de incentivos, é também crucial que o nosso governo mantenha os apoios e incentivos à aquisição de veículos elétricos.

Um dia, até o calhambeque do qual guardamos tantas histórias acaba por ceder. Recentemente, foi introduzida uma medida que incentiva o abate de veículos com mais de 16 anos como condição para receber benefícios financeiros. Será esta medida útil para que os portugueses avancem na jornada de transição para uma mobilidade mais sustentável?

Ao longo dos últimos anos, tenho sido uma defensora da implementação de medidas que promovam a renovação da frota automóvel em Portugal. Olhando para esta medida, sabemos que os veículos com mais de 16 anos tendem obviamente a ser mais poluentes, menos eficientes em termos de consumo de combustível e, frequentemente, mais propensos a avarias. Retirá-los da estrada poderá sim ser uma forma eficaz de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e de melhorar a qualidade do ar, contribuindo assim para a transição energética e as urgentes mudanças climáticas tão necessárias. Além da componente ambiental, creio que estaremos também a aumentar a segurança nas estradas portuguesas, não só para os passageiros do próprio veículo, como para os peões, dado que os auxiliares de condução têm sido francamente desenvolvidos e permitem antecipar colisões, manter distância de segurança, entre muitos outros.

Contudo, é fundamental que esta medida seja implementada de forma justa e equitativa, e englobada uma estratégia abrangente. Para garantir que as pessoas com menos recursos não sejam desfavorecidas, o governo deve considerar a implementação de programas de apoio ou incentivos para a compra de veículos mais recentes. É importante que os cidadãos tenham acesso a incentivos justos e a alternativas acessíveis para que possam fazer esta mudança.

Além disso, a medida agora anunciada pelo governo, e que destina 129 milhões de euros para incentivos ao abate de veículos com mais de 16 anos deve ser, também, acompanhada de esforços para garantir a expansão da infraestrutura de transportes públicos e a promoção de meios de transporte mais sustentáveis, a chamada mobilidade suave que potencia a utilização de bicicletas ou mesmo a realização de uma caminhada. A acessibilidade a opções de transporte alternativas desempenha um papel fundamental na eficácia destas políticas.

E, enquanto se promove a renovação da frota automóvel com este tipo de incentivos, é também crucial que o nosso governo mantenha os apoios e incentivos à aquisição de veículos elétricos. Já não existe qualquer dúvida de que a transição para carros elétricos desempenha um papel crucial na redução das emissões de carbono e na promoção de uma mobilidade mais sustentável em todo o mundo. Portugal tem feito progressos significativos nesta área, a rede está a crescer a olhos vistos e não podemos perder esse impulso.

A manutenção dos apoios aos veículos elétricos é essencial para incentivar os consumidores a adotarem tecnologias mais limpas e a diminuírem a dependência de combustíveis fósseis. A redução ou eliminação destes apoios poderia prejudicar a transição para a mobilidade elétrica, desencorajando os consumidores a fazerem esta mudança.

A questão da equidade também se aplica aos veículos elétricos. É importante garantir que a transição para a eletrificação seja acessível a todas as camadas da sociedade. Políticas de subsídio, isenções fiscais e incentivos financeiros não só para as empresas, mas também para o consumidor podem ajudar a tornar os veículos elétricos mais acessíveis, contribuindo para uma transição mais inclusiva.

Despedirmo-nos do nosso calhambeque é uma medida inevitável. Mas a estratégia de mobilidade sustentável de um país na construção de um futuro mais limpo deve também incluir o incentivo à transição para veículos elétricos, com foco na equidade e acessibilidade das medidas implementadas como forma de garantir que todos os cidadãos possam participar na construção de um futuro mais verde e sustentável.

  • Daniela Simões
  • CEO da miio

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