FMI antevê mais pressões para aumentos salariais na Europa
Se, por um lado, o aumento dos rendimentos das famílias está a impulsionar a economia europeia, o FMI alerta para o risco das pressões salariais no curto prazo.
Após dois anos de uma progressiva perda de poder de compra, como resultado da subida das taxas de juro e da taxa de inflação, não é surpreendente que os trabalhadores europeus estejam a exigir aumentos salariais que possam, pelo menos, compensar a subida do custo de vida ao longo deste período.
De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), os salários nominais aumentaram 4,5% na Zona Euro e mais de 10% em outros países da Europa no primeiro semestre deste ano. Há muitos anos que não se assistia a uma evolução tão expressiva da massa salarial no Velho Continente.
Para a economia, essa dinâmica tem-se traduzido em mais consumo interno, alavancando assim o PIB. No entanto, gera também pressões inflacionistas de curto prazo que poderão condicionar o tão desejado controlo de preços no médio e longo prazo, alertam os analistas do FMI no relatório regional sobre a Europa publicado esta quarta-feira.
Em grande parte das economias avançadas da Europa, os salários têm ainda de aumentar antes de acompanharem os preços, o que significa que a pressão para aumentos salariais deverá persistir.
“A recuperação económica da Europa está a receber um impulso muito necessário devido ao aumento dos salários e dos rendimentos. Mas nos países onde o envelhecimento da população está a reduzir a força de trabalho, os decisores políticos poderão em breve enfrentar novos desafios” alertam os analistas do FMI, sublinhando ainda que “as pressões salariais a curto prazo podem combinar-se com a rigidez a longo prazo dos mercados de trabalho para alimentar as pressões inflacionistas.”
O controlo da inflação tem sido um desafio de enorme dificuldade para o Banco Central Europeu, que tem como meta de médio prazo colocar a taxa de inflação em redor dos 2%. Segundo os últimos dados do Eurostat, a taxa de inflação homóloga na Zona Euro fixou-se nos 2,9% em setembro, e tem-se mantido constantemente acima da fasquia dos 2% desde julho de 2021.
No centro das perspetivas do FMI para a Europa está um cenário marcado por uma “aterragem suave”, com a inflação a diminuir gradualmente. As previsões do FMI, que já tinham sido conhecidas com a publicação do World Economic Outlook em outubro, apontam para um crescimento de 1,3% em 2023 na região, contra 2,7% no ano passado, e um crescimento de 1,5% em 2024.
“As economias europeias avançadas, mais orientadas para o setor dos serviços, recuperarão mais rapidamente do que as economias com setores transformadores relativamente maiores, que enfrentam uma procura externa reduzida e estão mais expostas aos elevados preços da energia”, perspetivam os analistas do Fundo.
Os analistas do FMI notam ainda que o crescimento dos salários tem variado de forma distinta consoante os países, evidenciando, por exemplo, que “em grande parte das economias avançadas da Europa, os salários têm ainda de aumentar antes de acompanharem os preços, o que significa que a pressão para aumentos salariais deverá persistir.” Por essa razão, os técnicos do FMI antecipam que “não é provável que as pressões salariais diminuam tão cedo.”
O FMI prevê mesmo que, “embora a fraca procura interna em 2023 e os preços mais baixos das matérias-primas se repercutam na inflação de base, a recuperação prevista dos rendimentos reais e os mercados de trabalho ainda fortes abrandarão o ritmo da desinflação“, antecipando que a maioria dos países europeus não atinja os objetivos de inflação antes de 2025.
“O crescimento sustentado dos salários nominais acima da inflação e das taxas de crescimento da produtividade constitui um risco fundamental para a desinflação, especialmente nas economias europeias de mercado emergentes. A inflação poderá enraizar-se, exigindo um aumento adicional da restritividade das políticas e conduzindo potencialmente à estagflação”, alerta o FMI.
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