Web Summit regressa ensombrada por abandonos e crise política
Cimeira 'tech' abre hoje em Lisboa, mas deverá ter menos impacto que edições anteriores após a saída do CEO, fuga de gigantes e crise política. Inteligência Artificial vai ser o tema central.
A oitava edição da Web Summit no Parque das Nações arranca esta segunda-feira, precisamente um mês depois do polémico tweet do fundador e CEO da cimeira sobre o conflito no Médio Oriente ter abalado a confiança no evento que chegou a ser apelidado de ‘Davos para geeks’.
A 13 de outubro, Paddy Cosgrave escreveu na sua conta da rede social X (ex-Twitter) um post a classificar a reação de Israel ao ataque de Hamas como “crimes de guerra“. O irlandês ainda chegou a emitir um pedido de desculpas mas não conseguiu conter uma onda de retiradas de empresas e oradores.
A seguir ao natural abandono da participação israelita, um rol de grandes tecnológicas norte-americanas bateram com a porta da cimeira – Google, Meta, Microsoft, Amazon, IBM, Siemens e Intel, por exemplo. Celebridades como a atriz Gillian Anderson também reagiram em protesto.
Paddy Cosgrave não resistiu à debandada e a 21 de outubro demitiu-se, dizendo que os seus comentários pessoais tornaram-se uma distração para o evento, adiantando que a despedida não punha em causa um evento que aguarda 70 mil visitantes, o mesmo número que em 2022.
A 30 de outubro a Web Summit nomeou Katherine Maher, antiga responsável pela Wikipedia Foundation, como CEO. “A nossa tarefa imediata é voltar o foco para o que fazemos de melhor: promover o diálogo entre todos aqueles conectados com o avanço tecnológico”, disse a nova líder da cimeira, citada em comunicado.
A organização, entretanto, salientara que alguns dos parceiros que estavam a deliberar voltaram a bordo e reverteram a sua decisão, mas sem avançar com os nomes. Apesar do exercício de controlo de danos, um olhar à lista de oradores mostra que o número de nomes sonantes é bastante menor do que em edições sonantes.
Os parceiros estatais portugueses demoraram a reagir. Carlos Moedas, autarca de Lisboa, foi o primeiro, dizendo a 24 de outubro, de forma vaga, que o evento não é sobre geopolítica, sem comentar a demissão de Cosgrave e a insistir que o evento é importantíssimo para a cidade. Do lado do Governo, no mesmo dia o ministro da Economia, António Costa Silva sublinhou que a Web Summit tem condições para decorrer “com normalidade”.
A 2 de novembro, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a polémica que levou à saída do CEO foi “a melhor publicidade” para esta edição da cimeira tecnológica, em que prometeu aparecer “de surpresa”.
E quanto ao futuro? O acordo assinado em 2018 para garantir a realização da Web Summit em Lisboa durante 10 anos, o Estado português e a Câmara Municipal de Lisboa podem rescindir o contrato com a Connected Intelligence Limited (CIL) – entidade organizadora do evento -, mas devem avisar 18 meses antes e têm de pagar tudo até 2028, noticiou o Expresso a 3 de novembro.
Crise política pode ter impacto
Se em edições passadas as sessões de abertura contaram com as presenças do Presidente da República, do primeiro-ministro António Costa, a agenda da Opening Night de hoje conta com Costa Silva como representante do Governo. A par do ministro, deverão estar em palco Katherine Maher, Jimmy Wales (fundador da Wikipedia), Cristina Fonseca (managing partner da Indico Capital), Vasco Pedro (CEO da Unbabel) e Carlos Moedas.
O presidente da Câmara Municipal deverá, aliás, ser um dos políticos portugueses com maior visibilidade no evento que decorre até dia 16, com pelo menos uma participação diária, seja em conferência de imprensa ou painel. Do Governo, além de Costa Silva a única participação ministerial prevista é de Ana Catarina Mendes, ministra dos Assuntos Parlamentares, num painel sobre inclusão na quarta-feira.
Num evento que habitualmente atraia vários governantes, a crise política que entretanto estalou em Portugal com a demissão do primeiro-ministro e a convocação de eleições para 10 de março, a edição deste ano poderá ser uma que os membros do Governo demissionário poderão querer evitar, numa altura de enorme de tensão política.
Confiança e IA
A organização continua a mostrar confiança nos números do evento de decorre na FIL e na Altice Arena: 70 mil participantes, mais de 2.000 jornalistas, mais de 800 investidores, mais de 300 parceiros, pessoas de 160 países, uma equipa de 300 pessoas no staff, 6.000 empreiteiros e voluntários e mais de 250 startups de impacto (10%).
A Inteligência Artificial (IA), o grande debate tecnológico de 2023, irá naturalmente estar em destaque com dezenas de painéis sobre o tema, cobrindo as vertentes das aplicações, do impacto, da regulação, do financiamento entre muitas outras.
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