Farfetch alvo de ação coletiva nos EUA por “enganar” investidores. Milionário compra 5,1% do primeiro unicórnio português
Farfetch acusada de prestar informações "enganadoras" sobre o negócio. Continua a cair em bolsa, ainda não remarcou apresentação de resultados, mas acabam de entrar novos acionistas (5,1% do capital).
A Farfetch está a ser visada numa ação coletiva nos EUA que argumenta que a empresa, o primeiro unicórnio português, fez “afirmações enganadoras” que prejudicaram os investidores. Apesar de estar a ser penalizada em Wall Street perante todas as notícias, assim como pelos resultados e prejuízos que tem acumulado, acaba de conseguiu obter um novo investidor: Steven Cohen, dono da equipa de basebol New York Mets.
A empresa que opera uma plataforma de moda de luxo tem vindo a desenhar uma trajetória descendente e tem estado sob fogo nos últimos dias depois de ter adiado a apresentação dos resultados, sendo que este ano deve voltar aos prejuízos. Face à pressão do mercado, o fundador José Neves estará a avaliar a possibilidade de retirar o ex-unicórnio – já vale menos de 400 milhões de dólares – de bolsa, com a ajuda do JPMorgan e da Evercore.
As ações da Farfetch estão atualmente a cotar nos 1,18 dólares, sendo que a empresa se estreou na bolsa de Nova Iorque a valer 20 dólares e chegou mesmo a atingir um máximo histórico de 73 dólares, em fevereiro de 2021.
A agravar os problemas da empresa, estão agora a avançar processos nos EUA que acusam a Farfetch de não ter informado devidamente os investidores. Segundo o comunicado do escritório de advogados Levi & Korsinsky, o objetivo desta ação coletiva é “recuperar perdas em nome dos investidores da Farfetch que foram afetados negativamente por suposta fraude de valores mobiliários entre 9 de março de 2023 e 17 de agosto de 2023”.
A denúncia apresentada alega que a empresa fez declarações falsas e/ou ocultou que “estava a passar por uma desaceleração significativa no crescimento nos EUA e na China”; “enfrentou desafios de integração que impactaram o lançamento da sua parceria com a Reebok”; e “minimizou os desafios que enfrentou e/ou sobrestimou a sua capacidade de gestão da sua cadeia de abastecimento e inventário”.
Além disso, é acusada de ocultar que estes fatores estavam a “ter um impacto negativo significativo nas receitas da Farfetch e no crescimento do valor bruto das mercadorias e consequentemente, era improvável que cumprisse as expectativas do mercado relativamente aos seus resultados financeiros do segundo trimestre de 2023 ou à sua própria orientação de receitas para o ano fiscal de 2023″. Quem se sentir visado tem até 19 de dezembro para se juntar a esta ação coletiva, indica o Levi & Korsinsky.
No entanto, segundo avança o portal The Fashion Law, há outros escritórios de advogados norte-americanos que também se estão a envolver neste processo popular, que começou em outubro com uma queixa entregue por Michael Ragan no tribunal de Maryland.
A empresa ainda não marcou uma nova data para a apresentação dos resultados do terceiro trimestre, que estava inicialmente agendada para 29 de novembro. No primeiro semestre contabilizou prejuízos de 455 milhões de dólares devido ao impacto cambial negativo e a um ambiente de mercado desafiante. Sobretudo porque na China ainda se mantinham restrições por causa da Covid e o comércio com a Rússia foi suspenso, sendo esperado um regresso ao “vermelho” em 2023, após dois anos de lucros.
Mesmo perante todo este turbilhão nos mercados financeiros e em termos mediáticos, há ainda quem aposte na empresa de origem portuguesa. A Point72 Asset Management, juntamente com entidades associadas e o investidor Steven Cohen, adquiriram uma participação de 5,1% na Farfetch, segundo foi comunicado à SEC a 30 de novembro.
Fica ainda por saber, como avançou na semana passada a imprensa britânica, se a empresa realmente vai sair da bolsa norte-americana — onde entrou em setembro de 2018 –, bem como quando vai finalmente prestar contas trimestrais.
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