Negócio sob pressão, prejuízos e crash: três gráficos que explicam queda da Farfetch na bolsa

A Farfetch afundou 50% na bolsa na sessão desta quinta e está sob pressão do mercado. O negócio, com a margem cada vez mais pressionada, acumula prejuízos. Ex-unicórnio vale menos de 400 milhões.

A Farfetch está sob intensa pressão em Wall Street. As ações caíram 50% nesta quarta-feira (recuperam 12% esta quinta), depois de ter adiado a apresentação dos resultados, mas há muito que estão em trajetória descendente. Apesar da subida das receitas, o negócio está cada vez mais pressionado nas margens. E este ano deverá voltar aos prejuízos, depois de dois anos “atípicos” de lucro.

O momento de tensão já levou um dos principais investidores a declarar que não tem mais dinheiro para investir na plataforma de comércio online de artigos de luxo fundada em 2008 por José Neves. Esta quarta-feira, o grupo suíço Richemont frisou que está a “monitorizar a situação com atenção”, mas lembrou que “não tem quaisquer obrigações financeiras em relação à Farfetch e nota que não prevê empréstimos ou investimentos na empresa”, disse o grupo suíço.

Face à pressão do mercado, José Neves está a avaliar a possibilidade de retirar o ex-unicórnio – já vale menos de 400 milhões de dólares – de bolsa com a ajuda do JPMorgan e da Evercore.

José Neves detém 15% da Farfetch, mas controla 77% dos direitos de voto, graças a uma estrutura acionista de duas classes de ações. Outros grandes investidores além da Richemont incluem a gigante chinesa do e-commerce Alibaba e a Artemis, a holding familiar da família bilionária Pinault.

Faturação sobe, mas cada vez mais difícil fazer dinheiro

A pandemia deu um forte impulso ao comércio online e o segmento dos bens de luxo também beneficiou disso. As receitas anuais mais do que duplicaram entre 2019 e 2022, atingindo 2,3 mil milhões de dólares. O ano de 2023 estará no mesmo caminho, depois de ter faturado 1,13 mil milhões na primeira metade do ano, mas…

O problema está na margem bruta, que corresponde à faturação menos o custo da mercadoria e tem vindo a deteriorar-se de ano para ano. Em 2018, ano do IPO, a margem era de 50%: ganhava metade daquilo que vendia.

Embora as receitas tenham praticamente duplicado desde então, a margem desceu para 44% em 2022 e continuou a descer no primeiro semestre deste ano, mostrando que o negócio enfrenta um mercado muito desafiante.

Para acelerar o crescimento, a Farfetch chegou a um acordo para ficar com uma participação de 47,5% na Yoox Net-a-Porter, uma plataforma de comércio de artigos de luxo online da Richemont. O grupo suíço receberá ações da Farfetch em troca. O negócio aprovação dos reguladores da UE no mês passado. A saída da Farfetch da bolsa pode ter impacto nesta transação.

Acumula prejuízos de 2,5 mil milhões em cinco anos

Nos cinco anos em que está na bolsa, a Farfetch soma prejuízos de 2,5 mil milhões de dólares. Esta quarta-feira deveria anunciar os resultados do terceiro trimestre, os quais agravariam ainda mais estas contas.

Para os investidores, este anúncio foi uma “red flag” depois de um primeiro semestre em que contabilizou prejuízos de 455 milhões de dólares devido ao impacto cambial negativo e a um ambiente de mercado desafiante, sobretudo porque na China ainda se mantinham restrições por causa da Covid e o comércio com a Rússia foi suspenso.

Em 2021, a retalhista online registou o seu melhor lucro, a rondar os 1,5 mil milhões de dólares, à boleia da expansão do e-commerce devido às restrições da pandemia. O ano passado trouxe já uma redução significativa do resultado líquido.

José Neves tem explicado que a consistência dos prejuízos se deve ao facto de a empresa ainda estar em modo de investimento. A Farfetch vende artigos de luxo através da sua plataforma online, obtendo inventário a partir de boutiques independentes e diretamente de algumas marcas de luxo. Adicionalmente, também licencia a sua tecnologia para marcas e lojas, incluindo a Harrods.

Crash na bolsa

Esta quarta-feira, as ações da Farfetch tombaram 50% em poucas horas em Wall Street, mesmo com a notícia de que José Neves está a ponderar tirar a empresa da bolsa. Cada título vale agora menos de 1 dólar, conferindo-lhe um valor de mercado de menos de 400 milhões de dólares – bem longe do estatuto de unicórnio dos mil milhões.

Quem investiu na estreia em bolsa em setembro de 2018 está a perder cerca de 95% do seu investimento.

No seu auge, a Farfetch chegou a valer mais de 23 mil milhões de dólares. Foi em fevereiro de 2021, quando cada ação passou a custar mais de 73 dólares, com a explosão do comércio online de luxo na pandemia. Desde então perde 99%.

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