É preciso mais mulheres na mesa das negociações climáticas

  • Flávia Lima
  • 14 Dezembro 2023

Apesar da diversidade de atores a fazer diplomacia climática, os acordos e negociações tendem a não refletir esta pluralidade. há uma associação positiva entre o nível de representação das mulheres no

No dia 30 de novembro, teve início mais uma Conferência das Partes (COP), este ano no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Durante duas semanas, negociadores de mais de 196 países reuniram-se para debater como diminuir o impacto das alterações climáticas que já colocaram 2023 como o ano mais quente da história. A prioridade foi manter o Acordo de Paris vivo, isto é, garantir que os países tenham metas de descarbonização das suas economias que limitem o aquecimento global em até 1.5 ºC em comparação com os níveis pré-industriais.

Como em todas as edições anteriores da COP, para possibilitar este resultado e um acordo benéfico para todos, é necessária a articulação entre os relevantes atores cuja diversidade contribui para o debate sobre as alterações climáticas – governos, organizações não-governamentais, empresas e academia – um acordo benéfico a todos. A esta articulação chama-se diplomacia climática, que implica priorizar a ação climática em relações com parceiros em todo o mundo, moldando agendas de política externa e construindo parcerias que abordam simultaneamente o clima e outras agendas de políticas externas como a construção da paz ou o fortalecimento do multilateralismo. A diplomacia climática, contudo, não está restrita à diplomacia tradicional, mas a todos os atores que promovem um efetivo combate às alterações climáticas. Seja na negociação de um acordo mais equitativo na COP, na promoção de educação e consciência dos desafios climáticos, ou na criação de políticas públicas nacionais, a diplomacia climática possui diversos formatos.

Apesar da diversidade de atores a fazer diplomacia climática, os acordos e negociações tendem a não refletir esta pluralidade. O número de chefes de delegações mulheres nas COPs, por exemplo, é historicamente baixo, bem como o número de delegadas mulheres que participam nas conferências. E, entretanto, o historial de liderança política das mulheres é significativo para a política climática e para a elaboração de políticas públicas. O artigo da Columbia School of International and Public Affairs mostra que há uma associação positiva entre o nível de representação das mulheres no órgão legislativo de um país e o rigor das suas políticas climáticas, resultando diretamente na redução das emissões de dióxido de carbono. As mulheres em papéis de liderança também tendem a ter e manter melhor acesso às redes comunitárias locais, o que pode garantir o melhor entendimento de questões específicas e o desenvolvimento de acordo bem-sucedidos.

A baixa representatividade de mulheres no fórum de debate ajuda a ampliar a desigualdade de género, mas também a desigualdade económica. Atualmente, 70% das pessoas vivendo em situação de pobreza extrema no mundo são mulheres. Elas também são chefes de família de 40% dos agregados familiares mais pobres nas áreas urbanas. Não incluir mulheres na discussão sobre as alterações climáticas é também limitar a conversa sobre uma transição justa.

A Secretária de Estado Para Clima e Energia, Ana Gouveia, partilha desta opinião e, a 4 de dezembro, assinou a Carta Compromisso – Manifesto Mulheres Pelo Clima – que visa colocar as mulheres no centro das políticas climáticas. “É fundamental reconhecer no desenho e concretização das políticas públicas que as alterações climáticas, a degradação ambiental e as catástrofes naturais afetam desproporcionalmente as mulheres e meninas em zonas vulneráveis”, afirmou a Secretária na sua intervenção.

Incluir ativamente as mulheres em todas as fases das políticas ambientais, promovendo a igualdade de oportunidades e fortalecendo o seu papel de liderança na ação climática, é essencial para se garantir uma maior participação das mulheres nas negociações climáticas, alargando a perspetiva do grupo de negociação e conduzindo, assim, a resultados mais positivos. Pensar numa diplomacia climática, em todos níveis, que seja mais representativa é essencial para garantirmos um acordo que de fato diminua o impacto das alterações climáticas.

Flávia Lima é membro do Future Energy Leaders Portugal e “Mulheres na Energia”, ambas iniciativas da Associação Portuguesa da Energia. Atualmente, trabalha como Adida de Energia e Clima para a Embaixada do Reino Unido em Portugal.

  • Flávia Lima
  • Energy and Climate Officer da Embaixada Britânica em Lisboa

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