Stormharbour negoceia venda de ativos e reestruturação da dívida após prejuízos de 14 milhões

Renegociou os swaps de empresas públicas e assessorou grandes negócios. Após prejuízos de 14 milhões, administradores de insolvência negoceiam a venda e a reestruturação da dívida da Stormharbour.

Outrora uma das boutiques financeiras mais requisitadas no país, a Stormharbour de António Caçorino entrou em processo de insolvência no início deste ano em Londres, após acumular prejuízos de 14 milhões de euros desde 2010. Os gestores de liquidação estão agora em negociações com potenciais interessados para a venda do negócio e dos ativos e para a reestruturação das dívidas.

A Stormharbour ganhou notoriedade nos anos da troika, sobretudo após ter sido contratada pelo Governo para renegociar os famosos contratos de swap ruinosos celebrados por algumas empresas públicas, desde o Metro de Lisboa e Porto, à CP e Carris, entre outras.

Depois disso, tornou-se num dos principais assessores financeiros de grandes empresas nacionais, incluindo a EDP, e esteve em algumas das maiores transações no país, mas foram raros os anos em que obteve resultados positivos na última década. Só por duas vezes registou lucros: em 2013 e 2016 desde 2010, período durante o qual acumulou prejuízos de mais de 12 milhões de libras (cerca de 14 milhões de euros ao câmbio atual).

O ano de 2013 foi mesmo o melhor para a boutique financeira, quando atingiu uma faturação recorde de 21 milhões de libras (mais de 24 milhões de euros) e os lucros foram de 2,5 milhões libras (quase 3 milhões de euros). No ano seguinte também havia de faturar mais de 20 milhões, mas os resultados foram-se agravando desde então. A pandemia da Covid-19 em 2020 ajudou a precipitar este desfecho, mas não só.

Em 2021, o último ano em que apresentou contas e em que já evidenciava dificuldades, com António Caçorino a admitir já nessa altura um cenário de liquidação da sociedade, as receitas ascenderam a apenas 3 milhões de libras, com os prejuízos a atingirem os 2,2 milhões.

O relatório e contas desse ano dá conta de “imparidades significativas em saldos devidos por entidades do grupo”, problema em relação ao qual estavam a ser tomadas medidas para “limitar a exposição futura ao risco de crédito em relação a estas entidades”. A Stormharbour LLP tem como proprietário a Stormharbour Partners LP, em Nova Iorque.

No mesmo relatório, assinalam-se as limitações dos recursos de caixa, que representavam uma “incerteza material que pode lançar dúvidas significativas sobre a capacidade de a LLP continuar em funcionamento. “Além disso, as perspetivas de longo prazo têm-se deteriorado a ponto de os membros considerarem uma liquidação solvente como uma eventualidade possível nos próximos 12 meses, e estão a ser decididos a rever a situação nos próximos meses”, aponta a empresa.

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Venda ou reestruturação da dívida à vista

Com presença nas mais importantes praças financeiras mundiais, desde Nova Iorque a Hong Kong, foram vários os fatores que contribuíram para a queda da Stormharbour, de acordo com o Jornal Económico (acesso pago).

Por exemplo, a saída de quadros de topo acentuou a perda de honorários para a sociedade. Em 2018 tinha 120 profissionais nos sete escritórios a nível global. Um dos quadros mais relevantes era Paulo Gray, responsável pelo negócio na Europa, que constituía a principal fonte de receitas. Saiu da sociedade no final de 2021, quando a sociedade já revelava dificuldades, para a Alantra. Com a redução de receitas, a Stormharbour revelou-se incapaz de baixar a base de custos de forma atempada, o que contribuiu para o avolumar dos prejuízos.

Um relatório dos administradores de insolvência — Henry Shinners e Adam Stephens, da gestora de insolvências Evelyn Partners — aponta ainda para o litígio entre os sócios da casa-mãe americana, que dificultou a tomada de decisões estratégicas e a recapitalização das empresas do grupo, segundo o mesmo jornal.

As perspetivas de longo prazo têm-se deteriorado a ponto de os membros considerarem uma liquidação solvente como uma eventualidade possível nos próximos 12 meses, e estão a ser decididos a rever a situação nos próximos meses.

Stormharbour

Contas de 2021

Antes da insolvência, a 10 de fevereiro deste ano, a Stormharbour esteve envolvida em várias operações de grande dimensão, como a operação de antecipação de receitas do Sporting junto da Apollo (2019,) a venda do Lagoas Park a um fundo britânico por 421 milhões de euros ou o processo de venda da Efacec após o caso Luanda Leaks (ambas em 2020). Chegou ainda a estar na corrida à compra do Banco Efisa.

No último relatório sobre os desenvolvimentos mais recentes do processo de insolvência, os administradores revelam que “têm mantido discussões com partes potencialmente interessadas em adquirir o negócio e o ativo” da Stormharbour, “ou que manifestaram interesse numa reestruturação das dívidas da empresa”.

“A natureza destas discussões é necessariamente confidencial e os administradores fornecerão atualizações adicionais conforme apropriado”, revelam. O relatório é de setembro.

Caçorino na mira da insolvência

O desfecho destas conversações será determinante para o processo de insolvência pagar os créditos reclamados, que totalizam, até ao momento, 700 mil libras (800 mil euros). Os administradores não fazem estimativas sobre o nível de recuperação de dívidas que os credores poderão alcançar neste processo.

“Atualmente, as realizações até à data têm sido insuficientes para declarar dividendos a qualquer classe de credores. Contudo, os administradores continuam a procurar novas recuperações que possam alterar esta posição”, explicam.

A própria conduta da administração da Stormharbour está a ser alvo de investigação da parte dos administradores de insolvência, ao abrigo da Company Directors Disqualification Act (1986) que obriga a investigar os gestores que estiveram na empresa nos três anos anteriores à insolvência.

“Além disso, temos o dever de investigar as transações para determinar se pode haver algum valor a ser perseguido em benefício do credor, por exemplo, em processos judiciais”, explicam. “Continuamos a rever a informação disponível para determinar que ações poderão ser tomadas”, sublinham.

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