Rentabilidade e incentivos serão chave na massificação do armazenamento energético
Na conferência organizada pelo ECO, em parceria com a Huawei, players do mercado apontam a rentabilidade e os incentivos como impulsionadores da aposta em soluções de armazenamento nos próximos anos.
O licenciamento e a burocracia são o “típico calcanhar de Aquiles” que atravessa vários setores, incluindo o do armazenamento energético, que se vê simultaneamente condicionado pelos elevados custos de investimento.
Em Portugal, o mercado das baterias de lítio a nível comercial e industrial ainda está em desenvolvimento. Mas o elevado custo das baterias tem dificultado uma verdadeira massificação desta solução, tal como aconteceu com os painéis solares para autoconsumo ou a venda de carros elétricos, duas indústrias chave para a transição energética.
Perante esta realidade, para o diretor dos serviços energéticos da Construção e Manutenção Eletromecânica (CME) uma coisa é certa: enquanto os preços não baixarem, a aposta nas soluções de armazenamento não vão crescer ao ritmo previsto.
“A rentabilidade económica é o que vai pautar o crescimento das baterias“, alertou Alexandre Cruz durante a sua intervenção na conferência Catch the Sun, promovida pelo ECO em parceria com a Huawei, rejeitando a noção de que compromissos internacionais ligados à descarbonização e neutralidade carbónica, como Acordo de Paris ou o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), sejam veículos que potenciem essa aposta.
Durante a sua intervenção no painel sobre o tema “Armazenamento de energia comercial e industrial”, o responsável apontou que, por esta altura, seria “expectável” que o preço médio dos sistemas de armazenamento já fossem mais baixos. Não sendo ainda o caso, Alexandre Cruz aponta que “a rentabilidade do negócio vai ser o driver absoluto nos próximos anos para a introdução das baterias“, uma vez que estes investidores poderão vender à rede a energia acumulada nos períodos mais caros, rentabilizando, desta forma, o investimento feito.
“A vertente do custo ainda é algo que impede um deployment dos projetos em que se inclua o fotovoltaico e o armazenamento”, admitiu o CEO da Engie Hemera, Duarte Sousa, na sua intervenção, referindo, no entanto, que a gigante francesa tem 200 megawatts (MW) de projetos de baterias já em fase de implementação e outros 700 MW a serem construídos, na Austrália e no Chile. A ambição da Engie Hemera é chegar a 2030 com 1,2 gigawatts (GW) de projetos de armazenamento a nível comercial e industrial instalados, a nível global.
Em alternativa, as empresas podem também recorrer à compra da energia ao invés de investir no sistema. “Existem empresas que permitem fazer o energy as a service“ salientou o CEO da Engie Hemera.
“Para este tipo de soluções, de grosso modo, temos legislação para a implementar, mas a burocracia — o acompanhamento dos serviços que prestam o licenciamento para estas soluções — tarda a ter a eficiência necessária que o ritmo da transição energética pede”, acrescentou.
Por seu turno, Pedro Carvalho, managing partner da Greenvolt Next Portugal, aponta que os incentivos serão um instrumento que, à semelhança dos projetos de painéis solares, poderão fazer disparar a aposta nas baterias.
“Quando começamos com a massificação do fotovoltaico, em 2008, foi muito graças ao apoio dos subsídios, as feed in tariffs. E isso foi importante para desenvolver a tecnologia ao ponto que hoje já não é necessário [subsídios] porque ela já é rentável por si própria. No armazenamento vai acontecer a mesma coisa“, anteviu durante a sua intervenção.
Mas, a agravar os obstáculos, surge também a falta de recursos humanos, mais concretamente em entidades como a Direção-Geral de Energia e Geologia, a Agência Portuguesa do Ambiente e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas que são essenciais para a aprovação de projetos.
“Sinto a necessidade de pessoas, acima de tudo“, refere o responsável da Greenvolt Next Portugal. “Os processos informatizados precisam de pessoas e também temos sofrido imenso com isso”, admite.
Veja aqui a conferência Catch the Sun na íntegra:
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