Preços do transporte marítimo entre China e Europa já estão a subir após ataques no Mar Vermelho
Desvio de rotas para evitar ataques de grupos rebeldes no Canal do Suez estão a aumentar o tempo das travessias e a fazer disparar os preços no transporte marítimo, afetando as empresas portuguesas.
Os preços do transporte marítimo entre a China e a Europa já estão a dispararar, numa altura em que os gigantes do transporte marítimo global são forçados a desviar navios devido aos ataques dos militantes Houthi no Mar Vermelho. As novas rotas podem representar um acréscimo de dez dias à travessia.
“O preço da rota do Mediterrâneo está a subir agora”, disse Xia Xiaoqiang, um transitário baseado em Tianjin, citado pelo South China Morning Post. “A taxa de frete do início de janeiro pode dobrar face à do início de dezembro”, acrescentou o mesmo responsável.
Os desvios têm como objetivo evitar os rebeldes houthis do Iémen. O grupo tem vindo a envolver-se no conflito entre Israel e o Hamas, visando nos últimos meses e com cada vez maior frequência os navios que atravessam o Mar Vermelho.
As principais empresas de transporte de mercadorias, incluindo a europeia CMA CGM, a Maersk e a Mediterranean Shipping, bem como a gigante estatal chinesa Cosco e a taiwanesa Evergreen Marine, suspenderam o tráfego através do Canal do Suez do Egipto. Ao invés, optam por seguir pelo cabo da Boa Esperança.
Este caminho diferente acrescenta cerca de dez dias às viagens no sentido oeste na rota Ásia-Norte da Europa e pode levar a novos picos nos custos de transporte, sinalizam os especialistas. Além do aumento do tempo de viagem, segundo fontes do setor ouvidas pelo ECO, têm de passar numa zona com “maior risco de sinistro” e com “alto risco de pirataria” (Golfo da Guiné).
“Acessoriamente, e desde o início do ano 2023, [também] os tempos de passagem no canal do Panamá têm vindo a aumentar em virtude dos baixos níveis de água no canal e bacias de reposição da água do mesmo, e os impactos da guerra na Ucrânia no mercado das mercadorias a granel”, sublinha Mário de Sousa, CEO da Portocargo.
Quais as principais consequências face a esta nova disrupção que afeta as grandes transportadoras de contentores, como a Maersk, a Hapag-Lloyd ou a MSC, com a entrada de navios em zonas de guerra e possíveis ataques de pirataria? Possíveis danos em mercadoria perecível, aumento dos custos no transporte e atrasos na entrega das mercadorias. Isto além de danos por navegação em condições atmosféricas adversas, perdas de exploração e produtos fora de época e “eventual aumento de sinistro por avaria grossa”, responde Mário de Sousa.
Seguros já começaram a subir
Também os seguros estão a disparar, sendo que foram identificadas novas zonas de perigo para a navegação pela The Joint War Committee (JWC). A reunião da JWC estendeu a zona de aviso de 15 graus para 18 graus Norte no Mar Vermelho (aumento de cerca de 330 kms na latitude), mas ainda juntou a Guiana em consequência do conflito territorial que opõe este país à Venezuela. Em África, a zona de risco da Eritreia subiu 3 graus para norte e os limites já estabelecidos para Cabo Delgado e as costas de Moçambique e Tanzânia foram ajustados.
Ainda na sequência dos ataques, os prémios de seguros subiram do normal risco de guerra de 0,03% do valor do navio para 0,05 ou mesmo 0,1% pelo tempo habitual de contrato de uma semana. Em números, pode significar que apenas pelo casco, sem carga, o prémio passou de cerca de 20 mil euros para um valor de até 70 mil euros.
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