Lagarde retira otimismo de cortes das taxas no curto prazo e mercados afundam
Bolsas europeias estão a cair após Christine Lagarde anunciar que os primeiros cortes das taxas de juro só "provavalmente" surgirão no verão, quando o mercado antecipava que pudessem ocorrer em abril.
Em sintonia com outros responsáveis políticos do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde rejeitou esta quarta-feira em Davos, no decorrer do Fórum Económico Mundial, a ideia de que o BCE irá reduzir as taxas diretoras no curto prazo.
A observação expressa pela presidente do BCE numa entrevista à Bloomberg não é uma novidade. No decorrer da última conferência de imprensa após a segunda decisão consecutiva do Conselho do BCE de manter inalterada as taxas (após dez subidas seguidas), Lagarde salientou que o elemento-chave do banco central para baixar as taxas são os “salários”. E esta quarta-feira voltou a sublinhar essa decisão.
“Estamos a observar os salários, as margens de lucro, a energia e as cadeias de abastecimento”, referiu a presidente do BCE, anunciando ainda “ser provável” que a autoridade monetária da Zona Euro possa realizar os primeiros cortes das taxas diretoras no verão.
Atualmente, o mercado está a antecipar que o primeiro corte das taxas aconteça em abril e um segundo corte em junho. Estas declarações de Lagarde, juntamente à ideia de que “há um nível de incerteza e alguns indicadores que não estão ancorados no nível em que gostaríamos de os ver” contribuíram para retirar uma boa dose de otimismo ao mercado, que está a ser espelhado por uma generalidade correção dos principais índices acionistas europeus e por uma subida das yields dos títulos soberanos da Zona Euro.
O português PSI contabiliza atualmente uma correção de quase 2% e praticamente todos os índices da Zona Euro acumulam perdas acima de 1%. No mercado de dívida, a curva de rendimentos de Portugal revela uma subida da yield de todos os títulos de dívida, com as obrigações do Tesouro a dez anos a negociarem no mercado secundário com uma taxa de quase 3% pela primeira vez desde meados de dezembro.
Sem comentar o movimento e o otimismo dos investidores, Lagarde notou apenas que “o otimismo em demasia dos mercados não ajuda o BCE a combater a inflação” e mostrou-se cautelosa quanto ao nível atual das taxas, sublinhando que “o BCE atingiu o pico máximo das taxas, exceto se ocorrer um grande choque.”
“Os mercados estão a antecipar-se, é bastante claro, e o problema para nós é que, no final, isso pode tornar-se auto-destrutivo”, afirmou Lagarde, notando que “estamos otimistas quanto a uma perspetiva credível de regresso da inflação a 2% em 2025, mas muito tem ainda de correr bem para isso acontecer.”
Os mercados estão assim a antecipar que, neste contexto de “incerteza” salientado por Lagarde, parece improvável que se assista a um abrandamento acentuado da política monetária por parte do BCE até abril, uma vez que os dados relativos aos salários (trimestrais) são divulgados com atraso e os números do quarto trimestre não deverão mostrar uma melhoria significativa, como antecipam a maioria dos analistas.
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