Crescimento económico? “Perdemos largo” para os países do Leste europeu, reage Montenegro
Apesar da subida de 3,4% em 2023, líder da AD diz que economia continua com “crescimento muito limitado”. Montenegro critica eleitoralismo de Pedro Nuno Santos e equipara-o a Sócrates antes da troika.
Poucas horas depois de o Instituto Nacional de Estatística estimar que a economia portuguesa escapou a um cenário de recessão técnica, ao crescer 0,8% em cadeia no quarto trimestre – e que cresceu 2,3% em 2023) acima das estimativas do Ministério das Finanças e de instituições como o Banco de Portugal –, Luís Montenegro preferiu alargar o âmbito temporal da análise para diagnosticar que o país está a “viver um período de estagnação económica”.
“Se nos abstrairmos dos efeitos anuais, positivos ou negativos, que são extraordinários e integram pequenos ciclos influenciados por alguns acontecimentos, desde 2000 temos um crescimento médio anual de 0,8%. (…) É um crescimento muito limitado, que não compete verdadeiramente com os países que são comparáveis connosco”, indicou o líder da Aliança Democrática (AD), em referência aos países de Leste que aderiram à União Europeia duas décadas depois de Portugal.
Durante uma intervenção num almoço organizado pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), num hotel do Porto, Luís Montenegro atestou que, do ponto de vista do rendimento per capita, o país está “cada vez mais na cauda da Europa”, “muito pior” do que no início do século” e “mais pobre”, desvalorizando os dados publicados esta manhã pelo Eurostat, que mostram que Portugal registou a maior subida em cadeia no final de 2023.
“Os tais Estados que se juntaram à UE tiveram índices de desenvolvimento muito superiores. De nada nos vale dizer que estatisticamente temos um crescimento maior do que a média europeia quando isso está influenciado negativamente pelo comportamento das grandes economias, como Alemanha, França e Itália. Se formos comparar com todos os países de Leste que aderiram à UE e que estão no espaço da coesão, nós perdemos – e perdermos largo”, resumiu o líder da AD.
No programa económico apresentado na semana passada – e que, “do ponto de vista comunicacional “perturbado” pela crise política na Madeira, reconheceu –, a aliança entre o PSD, o CDS-PP e o PPM prevê chegar ao final da próxima legislatura, em 2028, com uma taxa de crescimento próximo dos 3,5%. E, acrescentou, crescer sempre na casa dos 4% numa legislatura completa “não é um sonho ou irrealizável”.
“Na década de 1985 a 1995 tivemos esse comportamento. Podemos aspirar a ter uma década ou duas décadas de desenvolvimento económico que seja duradouro e robusto. Não temos tido nem uma coisa nem outra: nem robustez nem durabilidade. Os ciclos têm sido muito pequenos, quase anuais”, ilustrou Luís Montenegro, que recusou prestar declarações aos jornalistas, mantendo o silêncio, que dura há cinco dias, sobre a crise política na Madeira.
“Regresso ao socratismo”. Montenegro ataca “eleitoralismo” de Pedro Nuno
Falando a uma plateia de empresários e gestores, Luís Montenegro aproveitou para denunciar o “eleitoralismo” de algumas propostas que têm sido lançadas pelo principal opositor nas legislativas de 10 de março, falando num contexto em que “os sonhos que pareciam ontem irrealizáveis agora são muito fáceis”.
“De um momento para o outro, para muita gente passou a haver dinheiro nos cofres do Estado para retribuir todas as reivindicações e até para prescindir de taxas de portagens” nas antigas SCUT, destacou o líder da AD. Promete manter as contas públicas equilibradas e “não entrar em loucuras”, alertando para aquilo que diz ser o “regresso do socratismo (…) e de uma política que trará fatalmente desequilíbrios orçamentais no futuro”.
“Ouvindo algumas narrativas políticas, diria que estamos em 2009, quando se prometeu de uma assentada, na véspera das eleições, fazer aumentos salariais com fartura, uma diminuição de impostos e perspetiva de facilidade. Isso acabou num défice de 11,2% e com uma troika que nos condicionou durou muito tempo. Há alguma similitude entre protagonistas e discursos políticos, do ponto de vista do espírito com que estão a intervir e a apresentar soluções”, criticou.
Há alguma similitude entre protagonistas [Pedro Nuno Santos e José Sócrates] e discursos políticos, do ponto de vista do espírito com que estão a intervir e a apresentar soluções.
Durante o mesmo almoço, ao qual chegou acompanhado pelo cabeça-de-lista da AD no Porto, Miguel Guimarães, o líder social-democrata criticou Pedro Nuno Santos pela ideia, transmitida no congresso do PS, de que “o Estado tem a obrigação de fazer escolhas quanto aos setores e tecnologias a apoiar”. Algo que, para Montenegro, “corresponde à velha visão socialista, influenciada pelo marxismo e do trotskismo, de que a capacidade produtiva deve ter prioridades escolhidas pelo poder político”.
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“É muito sintomática a proposta do secretário-geral do PS de dizer que as ajudas públicas, o que os poderes públicos podem disponibilizar aos agentes económicos, devem ser [dirigidos] a setores específicos da atividade económica. O Estado decide o que cada empresa vai fazer em termos de investimento? Há quem ache que isto crie mais riqueza; nós achamos precisamente o contrário, [defendemos] a livre iniciativa, dentro das regras do mercado. O país sabe que tem estas duas opções em cima da mesa e terá de optar por uma delas”, concluiu.
Nesta iniciativa da CCP, Montenegro propôs, por outro lado, “travar a forma como se concebem os Orçamentos de Estado em Portugal”, que diz serem uma “manta de retalhos e de transformação da legislação fiscal”. E, caso lidere o próximo Governo, vai avançar com estímulos fiscais às fusões e aquisições de empresas, para que obtenham ganhos de escala, notando que “o país será tão mais desenvolvido quanto mais grandes empresas tiver”.
(Notícia atualizada às 15h50)
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