Agricultores protestam de norte a sul pela valorização do setor
No dia em que decorre uma cimeira de líderes da UE, agricultores portugueses e de outros Estados-membros protestam pela valorização do setor. Em Portugal, já há estradas cortadas.
Os agricultores estão esta quinta-feira na rua com os seus tratores, de norte a sul, reclamando a valorização do setor e condições justas, num protesto que deverá bloquear várias estradas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.
Em causa está uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, que terá início pelas 6h00.
O protesto decorre um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).
Segundo um comunicado divulgado esta quarta-feira, os agricultores reclamam o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade. O movimento, que se apresenta como espontâneo e apartidário, garantiu que os agricultores portugueses estão preparados para “se defenderem do ataque permanente à sustentabilidade, à soberania alimentar e à vida rural”.
Os agricultores do Alentejo prometeram bloquear com tratores e máquinas agrícolas as três principais fronteiras da região com Espanha, nomeadamente, Caia (Elvas, distrito de Portalegre), Mourão (Évora) e Vila Verde de Ficalho (Serpa, distrito de Beja).
A presidente da Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP), Fermelinda Carvalho, manifestou-se a favor do protesto, adiantando estar a ajudar na sua organização, apesar de ressalvar tratar-se de uma iniciativa espontânea, que não foi convocada por associações ou confederações.
Na região norte, a porta-voz dos agricultores de Trás-os-Montes, Douro e Minho do Movimento Civil Agricultores de Portugal disse que a manifestação surge em resposta ao autismo do Governo e das confederações pelos problemas do setor.
Ana Rita Bivar explicou que sendo um movimento “totalmente espontâneo”, é difícil apontar com precisão os locais onde vão decorrer os protestos. Contudo, apontou, “com mais certeza”, a região de Trás-os-Montes, em Barca d’Alva, Freixo de Espada à Cinta, Bemposta, Miranda do Douro e no IC5.
A responsável indicou que “há grandes movimentações” previstas também para Vila Real, Lamego, Macedo de Cavaleiros, mas disse desconhecer em que local do Minho ocorrerão os protestos.
Também no Algarve os agricultores vão realizar uma marcha lenta entre Faro e Castro Marim. Segundo a informação enviada à agência Lusa pela porta-voz do movimento civil de agricultores no Algarve, Fátima da Rocha, os participantes são chamados a agrupar-se junto ao estádio do Algarve, no Parque das Cidades Faro-Loulé, pelas 5h00, iniciando uma hora depois uma marcha lenta pela Estrada Nacional 125, até Castro Marim.
Já os agricultores do Ribatejo e Oeste vão juntar-se na Ponte da Chamusca, depois da recusa de duas autarquias do distrito de Santarém em autorizarem manifestações nos seus concelhos.
A concentração em que os agricultores vão “mostrar descontentamento” pela demora na reposição de ajudas ao setor será reduzida apenas aos concelhos da Chamusca e da Golegã, ambos no distrito de Santarém, devido ao facto de as autarquias de Barquinha e do Entroncamento “não terem autorizado qualquer manifestação”, explicou Nuno Mayer, porta-voz do Movimento Civil Agricultores de Portugal nesta região.
Apesar do anúncio do Governo, os agricultores decidiram manter os protestos agendados, justificando que os apoios são “uma mão cheia de nada”, tendo em conta que não são definidos prazos ou formas de pagamento.
A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, disse respeitar o direito à manifestação, mas pediu que estas sejam feitas “de forma ordeira e cumprindo os preceitos”, de modo a que não ponham em causa pessoas e bens. A governante assegurou ainda que o Governo vai ter em conta os cadernos reivindicativos apresentados pelos manifestantes.
Protesto de agricultores bloqueia Estrada Nacional 4 em Elvas
A Estrada Nacional (EN) 4 junto a Elvas, no distrito de Portalegre, foi temporariamente cortada ao trânsito, no arranque de um protesto de agricultores que pretende bloquear a fronteira com Espanha.
Os ‘homens da terra’, vindos de vários concelhos dos distritos de Évora e Portalegre, começaram a concentrar-se antes das 5h00, neste local, sob o ‘olhar atento’ da GNR, e, por volta das 6h20, iniciaram o protesto. Com os tratores parados ou em circulação lenta neste troço da EN4, o trânsito ficou bloqueado, constatou a agência Lusa no local.
Os tratores conduzidos por agricultores têm os ‘pirilampos’ ligados e transportam bandeiras portuguesas e faixas com palavras de ordem contra as políticas do Governo para o setor. Entretanto, carrinhas estão a entrar no nó da autoestrada A6 junto à EN4, supostamente em direção à fronteira do Caia. Segundo João Dias Coutinho, da organização do protesto, neste local, estarão cerca de 150 tratores e 100 carrinhas.
Já a dois quilómetros da fronteira de Galegos, em Marvão, também no distrito de Portalegre, o trânsito está cortado, desde as 06h00, mantendo-se apenas uma faixa de segurança, indicou à Lusa a organização do protesto.
Centenas de tratores protestam em Bruxelas em dia de cimeira europeia
Filas de tratores começaram esta quinta-feira a circular, num buzinão, pelas ruas do bairro europeu de Bruxelas ao início da manhã, ao mesmo tempo que decorre uma cimeira de líderes da UE.
Outros grupos de tratores encontram-se desde a madrugada na circular interna da capital belga, dificultando o trânsito, e as autoridades pediram aos cidadãos que utilizem os transportes públicos para se deslocarem na capital.
A polícia rodoviária federal também informou que vários grupos de tratores se encontravam em várias estradas nacionais e circundantes em direção à capital.
A cólera dos agricultores belgas, que iniciaram as ações de protesto no domingo, vai intensificar-se durante o dia em Bruxelas para mostrar o descontentamento do setor aos dirigentes europeus.
Representantes de associações agrícolas de diferentes países, incluindo de Portugal, Espanha e Itália, vão participar numa manifestação no bairro europeu, pela hora do almoço, para explicar as razões do protesto.
As razões do descontentamento dos agricultores, que nos últimos meses provocaram protestos em mais de 15 Estados-membros, incluindo Alemanha e França, não deverão ser formalmente abordadas nesta cimeira.
No entanto, o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse já pretender debater a questão durante a estada em Bruxelas. Macron disse que vai propor à presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, uma série de alterações na política agrícola, nomeadamente nas regras de retirada de terras da produção e na entrada de produtos ucranianos, para responder à crise que Paris enfrenta com os protestos do setor.
Na quarta-feira, a Comissão Europeia propôs a prorrogação por mais um ano dos benefícios comerciais concedidos à Ucrânia para apoiar a economia do país, face à invasão da Rússia, mas introduziu salvaguardas para o caso de os mercados agrícolas de um ou mais países serem afetados.
Além disso, a Comissão Europeia propôs, na quarta-feira, a revogação da regra que obriga os agricultores a manterem parte das terras aráveis em pousio durante todo este ano, uma medida exigida por manifestantes em vários Estados-membros da UE.
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