Salário médio sobe para 1.041 euros mas perde 13 euros para a inflação

Aumento de 30 euros ou de 2,97%, no ano passado, não chega para compensar a escalada dos preços que, ainda assim, abrandou para 4,3%. Fosso entre homens e mulheres escalou para 179 euros.

O salário médio mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem, em Portugal, subiu, no ano passado, 30 euros para 1.041 euros, o que corresponde a um aumento de 2,97%, face ao vencimento médio de 1.011 euros de 2022. Mas não chega para compensar a inflação média de 4,3% registada em 2023, segundo as contas do ECO com base nos dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Ou seja, mesmo com um incremento de 30 euros, o ordenado médio líquido, já depois dos descontos para a Segurança Social e da retenção na fonte em IRS, perdeu 13,47 euros pelo impacto do agravamento dos preços. Para neutralizar este efeito, era preciso que o vencimento médio mensal aumentasse 43,47 euros para 1.054,47 euros.

No ano passado, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, afirmou por diversas vezes que os salários estavam a subir em torno dos 8%, sobretudo pelo impulso dado com o avanço do salário mínimo em 7,8%, de 705 euros para 760 euros. Só que a governante estava a usar o valor bruto, ainda sem as contribuições sociais e os descontos em sede de IRS. Ou seja, analisando o valor líquido, o INE mostra uma subida bem mais modesta do ordenado médio.

Tendo em conta a série estatística do INE, que remonta a 2011, o salário médio praticado em Portugal no ano passado, de 1.043 euros, traduz uma subida de 232 euros ou de 28% face ao vencimento médio do primeiro ano da troika, que estava em 811 euros.

Salário médio mais próximo do mínimo

Em comparação com o salário mínimo nacional de 2023, que era de 760 euros, o ordenado médio, de 1.041 euros, está 283 euros acima, o que corresponde a uma variação de 37,24%. O gap entre os ordenados médios e o salário mínimo é agora menor em relação há uma década. Em 2011, o diferencial era de 326 euros entre o salário mínimo de então, de 485 euros, e o ganho médio mensal líquido, de 811 euros.

Esta evolução revela uma aproximação cada vez maior entre os dois indicadores, muito por força da subida continuada do ordenado mínimo nos últimos anos. Desde 2016, primeiro ano da governação socialista de António Costa, e até ao ano passado, a retribuição mínima garantida deu um salto de 230 euros, avançando de 530 euros para 760 euros mensais, o que traduz uma variação de 43,4%.

Fosso entre homens e mulher agravou-se para 179 euros

Analisando os ordenados por género, verifica-se que o fosso salarial entre homens e mulheres agravou-se, no ano passado, em 13 euros para 179 euros face à diferença de 166 euros registada pelo INE em 2022.

Assim, no ano passado, uma trabalhadora ganhava, em média, e já depois das contribuições sociais e impostos, 955 euros, enquanto um trabalhador conseguia tirar um vencimento médio líquido de 1.134 euros por mês.

Isto significa que os ordenados dos homens subiram mais do que os das mulheres. Em 2022, os trabalhadores auferiam 1.098 euros e agora podem contar com 1.134 euros: são mais 36 euros no bolso. Já as trabalhadoras, que recebiam, há dois anos, 932 euros por mês, passaram a ter um vencimento de 955 euros, o que representa um incremento de 23 euros.

Maiores aumentos para as Forças Armadas. Técnicos e gestores de topo penalizados

Quanto à variação do ordenado médio líquido mensal por grupos de profissões, o INE indica que a classe das Forças Armadas foi a que beneficiou de um maior incremento salarial, que ultrapassou largamente a inflação de 2023 (4,3%). Este grupo, que auferia, em 2022, 1.176 euros por mês, deu um salto de 103 euros para 1.279 euros, no ano passado, o que traduz um aumento de 8,76%.

No ranking dos maiores aumentos, surge, em segundo lugar, a classe de operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem que viram o salário médio subir 57 euros, de 865 para 922 euros, o que corresponde a um aumento de 6,59%, também acima da variação do índice de preços.

A completar o pódio, na terceira posição, estão os agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta que passaram a ganhar 752 euros, ou seja, mais 42 euros face ao vencimento médio do ano anterior, de 710 euros. Esta variação de 5,92% também suplantou a inflação.

Os trabalhadores não qualificados também tiverem um incremento acima do índice de preços (5,47%). Em termos absolutos, o salário médio subiu 34 euros, de 622 para 656 euros. De salientar, contudo, que este valor fica cerca de 20 euros abaixo do ordenado mínimo nacional líquido de 2023. No ano passado, aquele montante era de 760 euros mensais brutos. Descontando os 11% para as contribuições sociais e excluindo retenções na fonte porque esta remuneração está isenta, o salário mínimo líquido deveria ficar nos 676,4 euros e não em 656 euros.

Os aumentos médios para os administrativos também superaram a inflação: tiveram um ganho de 5,45% que, em termos nominais, se traduz em mais 46 euros por mês na conta. O vencimento saltou dos 844 euros para 890 euros.

Lídia Leitão

 

De sublinhar que os professores e médicos, que se enquadram no grupo dos especialistas das atividades intelectuais e científicas, tiveram aumentos praticamente em linha com a evolução do índice de preços junto do consumidor. No ano passado, o vencimento médio líquido deste grupo profissional subiu 59 euros, de 1.389 para 1.448 euros, o que corresponde a uma variação de 4,25%.

Os trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices ficaram pouco abaixo da linha da água. A remuneração média líquida desta classe profissional beneficiou de um incremento de 35 euros, saltando de 841 para 876 euros, o que representa uma subida de 4,16%.

Em sentido inverso, os grupos mais penalizados foram os técnicos de nível intermédios e os gestores de topo de empresas e representantes do poder legislativo, como deputados ou membros do Governo, que tiveram aumentos residuais de 1,28% e 1,61%, respetivamente.

No ano passado, o ordenado médio dos técnicos de nível intermédio, onde estão os programadores ou educadores de infância, subiu 14 euros para 1.111 euros face ao vencimento médio de 1.098 euros registado em 2022.

Os gestores de topo e os representantes do poder legislativa ganharam mais 28 euros, passando de um vencimento médio líquido de 1.737 euros para 1.765 euros. Ainda assim, é preciso sublinhar que esta categoria profissional é a mais bem remunerada, segundo os dados do INE.

O vencimento deste grupo de trabalhadores é mais do dobro do ordenado médio mais baixo, de 656 euros, pago aos trabalhadores não qualificados. A diferença entre o vencimento dos gestores de topo, de 1.765 euros, e o ordenado dos não qualificados é de 1.109 euros, o que corresponde a um fosso de 169%.

Fonte: INE

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