Ex-CEO da TAP acusa Fernando Medina de “chantagem” e companhia aérea de mentir
Christine Ourmières-Widener afirma em entrevista à TVI que a resposta da TAP ao seu processo "estava cheia de mentiras, ataques e insultos".
A ex-CEO da TAP acusa o ministro das Finanças, Fernando Medina, de a chantagear para que apresenta-se a demissão do cargo. Em entrevista à TVI/CNN Portugal, Christine Ourmières-Widener acusa ainda a companhia aérea de a retratar como um “monstro” na resposta ao seu pedido de indemnização de 5,9 milhões de euros.
A gestora francesa, que liderou a companhia entre 2021 e 2023, afirma, como já tinha feito na Comissão Parlamentar de Inquérito, que teve uma reunião com Fernando Medina na véspera da sua demissão, em que o ministro das Finanças lhe transmitiu que “não fez nada de mal”, mas que a tinha de afastar por “motivos políticos”. “Ele aconselhou-me veementemente a demitir-me por causa da minha reputação. Chamo a isso chantagem e estar a ameaçar-me e foi o que ele fez“. Reiterou que é “o bode expiatório de uma história política“.
A demissão, com justa causa, da ex-CEO foi anunciada a 6 de março de 2023 pelos ministros das Finanças, Fernando Medina, e das Infraestruturas, João Galamba. A decisão foi tomada na sequência da divulgação da auditoria da Inspeção-Geral de Finanças que considerou ilegal o processo de rescisão de Alexandra Reis, por iniciativa de Christine Ourmières-Widener, que resultou na atribuição de uma indemnização bruta de 500 mil euros à antiga administradora. Montante, entretanto, já parcialmente devolvido.
Como se pode confiar em alguém que nos pede para nos demitirmos. Que ameaça a nossa reputação. Senti-me humilhada, insultada. Foi horrível.
“Quando nos demitimos perdemos todos os direitos”, disse na entrevista a ex-CEO, justificando porque não aceitou. Segundo a gestora francesa, Fernando Medina disse-lhe que “podia receber um bónus que podia ser discutido após a minha demissão”. “Como se pode confiar em alguém que nos pede para nos demitirmos. Que ameaça a nossa reputação. Senti-me humilhada, insultada. Foi horrível”, acrescentou.
Resposta da TAP “cheia de mentiras”
A CEO da TAP tem-se mantido em silêncio desde a sua demissão formal. Decidiu quebrá-lo por causa da resposta da TAP ao seu pedido de indemnização. A defesa da companhia aérea, avançada em primeira mão pelo ECO, aponta várias irregularidades ao contrato e salário de Christine Ourmières-Widener e à sua gestão, incluindo a suspeita dos alegados crimes de “tráfico de influência, de oferta indevida de vantagem ou mesmo de corrupção”.
“A razão porque convenci a minha advogada a deixar-me falar hoje, é porque queria falar após a resposta da TAP ao meu processo. E a resposta da TAP estava cheia de mentiras, ataques e insultos“, justifica a ex-CEO.
Sou um mostro para eles. Um verdadeiro monstro. A questão é como acreditam sequer que isso é verdade.
“Estão a tentar destruir a minha reputação, destruir o meu passado. Dizem todo o tipo de coisas a meu respeito que não são verdade, que não tive nada que ver com o sucesso da empresa e com os resultados positivos”, aponta. “Estão a tentar convencer as pessoas de que o meu percurso na indústria está repleto de fracassos e que não sou uma pessoa honesta”, acrescenta.
“Sou um mostro para eles. Um verdadeiro monstro. A questão é como acreditam sequer que isso é verdade”, diz Christine Ourmières-Widener, acrescentando que “durante o tempo que tive na TAP só tive felicitações de todas as partes, incluindo daquele que me despediu“.
Gestora admite acordo judicial
A ex-CEO deu entrada em setembro com um processo contra a TAP, contestando a sua demissão, onde pede uma indemnização de 5,9 milhões de euros.
“Acho que é um valor alto, mas que serve também para realçar todas as dificuldades porque tive de passar e os danos à minha reputação são enormes. E também me prejudicaram a mim, à minha família e a todos os meus amigos”, justifica. “As pessoas nem se apercebem como esta experiência foi difícil. Não o desejo a ninguém nem ao meu pior inimigo“.
Christine Ourmières-Widener não afasta a possibilidade de um acordo amigável para resolver o processo. “Acredito na justiça. Pessoas razoáveis poderão ter uma discussão produtiva. Vamos ver”, diz.
“Faço isto pelos meus filhos. Espero que a minha reputação seja limpa. Isso é o mais importante para mim”, afirma a CEO, acrescentando que “não tem nada contra Portugal. É um grande país”.
A maior lição deste processo: “Nunca mais trabalhar para uma companhia aérea do Estado”.
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