BRANDS' CAPITAL VERDE APREN distingue melhores teses de mestrado e doutoramento em energia
Quatro investigadores portugueses foram galardoados na passada sexta-feira, numa cerimónia em que se debateram os desafios da transição energética. Conheça os vencedores do Prémio APREN 2023.
O diagnóstico é conhecido e os objetivos estão definidos: Portugal deve atingir a neutralidade carbónica até 2045. Para lá chegar, porém, será preciso manter e reforçar a aposta na produção de energias renováveis, aumentar a capacidade geradora do país e assegurar uma transição justa. Neste caminho, a inovação é uma aliada inquestionável e deve ser desenvolvida em parceria entre a academia e as empresas, numa relação que se pretende benéfica para ambas as partes: as universidades produzem conhecimento e testam soluções, enquanto as organizações vêm os seus desafios endereçados.
Este foi, de resto, o tema do debate que antecedeu o anúncio dos vencedores do Prémio APREN 2023 e que juntou Luís Seca, administrador-executivo do INESC-TEC, Sofia Simões, investigadora do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN, e José Carlos Matos, responsável de energia eólica do INEGI.
De facto, como reconhece José Carlos Matos, “a ligação com a academia é muito importante” para alavancar a inovação e fazer avançar os esforços para a transição energética. Habituado a trabalhar com empresas no INEGI, diz existirem “muitos e bons exemplos” da relação de colaboração com a indústria, mas defende que deve ser criada uma situação de “co-dependência” para aprofundar essa parceria. E exemplifica. “O grande desafio é haver chão comum. Vamos ao MIT [nos EUA] e as empresas têm sedes lá dentro, os business angels estão lá dentro”, sugere.
O líder da APREN não só concorda, como vai mais longe e afirma que Portugal precisa de seguir o exemplo norte-americano no que respeita ao financiamento.
"O que falta é o investimento muito mais massivo em cooperação com as universidades e com os centros tecnológicos para criar conhecimento a taxas muito mais elevadas do que as que temos hoje. Este é o instrumento essencial para conseguir criar um modelo de competitividade com base no conhecimento para Portugal e para a Europa.”
O investimento em ciência no país continua abaixo da média de países mais desenvolvidos e abaixo da meta dos 3% do PIB definidos pelo Governo para 2030. Em 2023, o valor empregue em investigação e desenvolvimento não foi além dos 1,7% do PIB, sendo que a larga maioria teve origem em fundos privados. No entanto, um dos desafios da relação entre academia e empresas prende-se com a velocidade da produção científica. “Os timings das empresas não são os da investigação, que deve poder ser feita de forma descontraída”, acrescenta Luís Seca.
A par com o financiamento e com a definição de uma política estratégica que aproxime a academia da sociedade, alimentar a inovação para acelerar a transição energética depende sobretudo de talento. E também nesse campo há obstáculos a ultrapassar em território nacional. “Não só temos de trazer talento de fora, como não queremos que o nosso vá embora. Pode e deve ser feita mentoria dos alunos por parte das empresas”, sugere ainda a investigadora Sofia Simões.
Pedro Amaral Jorge insiste que é necessário implementar em Portugal “estruturas para financiar estes projetos em toda a cadeia de valor”, incluindo o surgimento de startups no setor energético. “Precisamos de tentar potenciar o capital de risco na Europa para darmos estes saltos. A Google e o Facebook cresceram em universidades e depois deram um salto”, aponta o presidente da APREN.
Talento reconhecido no setor energético
Como já é hábito, a APREN distingue anualmente as melhores dissertações académicas realizadas em universidades portuguesas e cujo foco seja a eletricidade ou as energias renováveis.
"Verificámos uma elevadíssima qualidade de todas as teses, sem exceção. Não apenas pela sua qualidade académica e gosto científico, mas sobretudo pela atualidade dos assuntos.”
Segundo os membros do júri, os quatro trabalhos premiados (dois de mestrado e dois de doutoramento) cruzam-se nos temas que abordam e apresentam visões importantes sobre o setor energético e a sua necessária descarbonização. “A visão multidisciplinar e capacidade de inovação que estas teses demonstraram são absolutamente críticas para o setor, numa altura em que enfrentamos nesta área desafios sem precedentes”, continua a eurodeputada.
Maria da Graça Carvalho, cujo mandato no Parlamento Europeu está a chegar ao fim, lembra que “temos 70 meses para chegar a grande parte destes objetivos” de neutralidade carbónica. Importa agora agir e investir na inovação que servirá de base a um mundo mais verde e mais sustentável.
LISTA VENCEDORES PRÉMIO APREN 2023
Mestrado
1º lugar: Leonardo Vidas, do Instituto Superior Técnico, com a dissertação “Optimal Sizing of Solar/Wind–to–Hydrogen Systems in a Suitable Site Selection Geospatial Framework: The case of Italy and Portugal”
2º lugar: Luís Rodrigues, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com a dissertação “Predicting Surface Properties from Atomic Force Microscopy Nanoindentations using Artificial Neural Networks”
Doutoramento
1º lugar: António Coelho, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com a dissertação “Network-Secure Participation of Aggregators of Multi-Energy Systems in Multi-Energy Markets”
2º lugar: Luís Barros, da Universidade do Minho, com a dissertação “Smart Power Conditioners for Electric Railway Power Grids”
Estou convencido de que a transição energética ainda vai ser mais revolucionária do que foi a transição digital nos anos 90, perspetiva Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN.
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