A Menzies Aviation espera concluir a aquisição da Groundforce em abril. O presidente, Hassan El-Houry, revela que gestão contará com dois administradores internacionais para "polir o diamante".
A Menzies Aviation deverá assumir o controlo da Groundforce em abril, culminando o processo de insolvência iniciado em 2021. É essa a expectativa de Hassan El-Houry, o chairman da companhia britânica líder em serviços de handling, que em entrevista ao ECO afirma que gostaria de ter sentido um “envolvimento” do Governo na recuperação de uma empresa com 3.500 postos de trabalho e que é essencial para o turismo em Portugal.
A empresa de serviços de assistência em escala será liderada por dois quadros da Menzies International, que estarão sedeados em Portugal e que “vão trabalhar com a equipa de gestão para levar a empresa para os standards internacionais”. “A Groundforce é um diamante por polir. Fizemos duas contratações para polir o diamante”, diz Hassan El-Houry.
A TAP, a maior cliente, irá manter-se por ora no capital da Groundforce com uma participação de 49,9%. No entanto, o Plano de Reestruturação da companhia aérea fechado com Bruxelas prevê a venda desta posição. Hassan El-Houry não tem indicação de quando isso vai acontecer, mas reitera que a Menzies será o comprador. O preço de aquisição das ações será fixado por um auditor independente.
Hassan El-Houry vive nos EUA, mas Portugal é a “segunda casa”, tendo adquirido já um imóvel no país. Foi CEO da National Aviation Services, do Kuwait, transitando para a presidência da Menzies após a aquisição da empresa britânica pela Agility, grupo de logística também com sede no emirado.
O aeroporto de Lisboa, um dos cinco onde a Groundforce opera, também foi tema de conversa. Hassan El-Houry considera que o Humberto Delgado “pode ser melhor gerido” e diz qual o modelo que defende para uma nova infraestrutura que venha a servir a capital.
O plano de insolvência foi aprovado pelos credores em setembro, permitindo a recuperação total da Groundforce. A documentação final já foi entregue no tribunal. Quando terminará o processo?
O processo começou no meio da pandemia de covid-19 e foi muito complicado. É um processo de insolvência de uma empresa com um grande número de trabalhadores, um grande número de credores, muito politizada. Foi muito longo e penoso.
Agora está a chegar ao fim. Quando é que a Menzies Aviation assume o controlo da empresa?
Na semana passada, submetemos o dossiê no tribunal e esperamos que a documentação seja validada. Há um período de 23 dias em que pode ser apresentado um recurso. Se ninguém tiver um recurso válido, o que esperamos, tendo em conta que chegámos a acordo com todas as principais partes, teremos as chaves da empresa. Estou a apontar para o início de abril.
O pedido de insolvência da TAP entrou em agosto de 2021, há mais de dois anos e meio. Qual a sua opinião sobre a forma como o processo correu, nomeadamente nos tribunais?
Foi certamente um processo demorado. Acho que não foram só os tribunais. A Groundforce fez parte de um processo de insolvência, as ações foram retirados ao dono, também ele insolvente; o outro acionista é uma entidade detida pelo Estado, a TAP, que é também cliente. Temos os sindicatos, os credores que são poderosos e têm a sua visão. É uma transação muito complexa desde o primeiro dia. Se me pergunta o que gostava de ter visto? Mais envolvimento por parte do Governo.
Acelerar e perguntar-nos, como investidores estrangeiros, como nos podiam apoiar e ajudar. Não necessariamente apoio financeiro, mas haver envolvimento.
Para ajudar a acelerar os procedimentos?
Perguntar-nos, como investidores estrangeiros, como nos podiam apoiar e ajudar. Não necessariamente apoio financeiro, mas haver envolvimento. A Groundforce emprega 3.500 trabalhadores, facilita o turismo que é uma parte muito relevante da economia. Não digo que dificultaram o processo, mas dada a importância da Groundforce esperava um interesse em ter a certeza que as coisas estavam a correr bem.
Em tudo correndo bem, a Menzies assume o controlo de 51,1% da Groundforce em abril. Já tem uma equipa de gestão?
A Groundforce está ser administrada pelos gestores de insolvência, Bruno Costa Pereira e Pedro Pidwell, que vão sair. A empresa tem ótimas pessoas e uma ótima gestão, mas a turbulência dos últimos três a quatro anos paralisou-a. Quando assumirmos o controlo da administração, vamos ter os recursos certos e implementar as políticas, os procedimentos e a governance correta para que as pessoas possam atingir o seu pleno potencial.
A administração será composta apenas por pessoas que já fazem parte da Groundforce?
Contratámos duas pessoas da Menzies International que estarão sedeadas em Portugal e que vão trabalhar com a equipa de gestão para levar a empresa para os standards internacionais. Mas quero enfatizar que a Groundforce tem ótimas pessoas, só precisam de ser apoiadas. A Groundforce é um diamante por polir. Fizemos duas contratações para polir o diamante.
Contratámos duas pessoas da Menzies International que estarão sedeadas em Portugal e que vão trabalhar com a equipa de gestão para levar a empresa para os standards internacionais.
A TAP também vai estar na administração?
Sim. Vai continuar a deter 49,9% da empresa e é um cliente muito importante, por isso claro que vão ter uma representação na administração. Estamos ligados à TAP de forma muito próxima. O sucesso deles é o nosso sucesso e vice-versa. Vamos trabalhar de forma muito próxima.
Havia um contrato de prestação de serviços com a TAP que chegou ao fim e foi estendido devido à situação na Groundforce. Vão assinar um novo contrato?
Todos os acordos e contratos com a TAP fazem já parte dos elementos que tivemos de entregar ao tribunal. Há o contrato de assistência em escala, há outro para serviços que é a TAP que presta à Groundforce, há um acordo acionista que regula a nossa relação no conselho de administração… São vários contratos.
Sendo a TAP um cliente tão importante, como é que olha para a privatização da companhia. Um novo dono pode alterar a relação entre a TAP e a Groundforce?
Em termos gerais, a intervenção do setor privado é boa para a economia, para o país e para a companhia. Por isso, a privatização é bem-vinda. Quem comprar a TAP na privatização também ficará com um diamante por polir. Portugal está a tornar-se um hub, um destino, a atrair passageiros em trânsito para outras cidades. Acho que irão adicionar mais voos, mais volume, mais passageiros e carga para o aeroporto de Lisboa.
Mas não receia que um novo dono queira trabalhar com outra empresa de handling?
É sempre uma possibilidade. Os clientes são livres de escolherem quem quiserem. Nós somos a maior companhia de serviços de aviação do mundo em número de países. Providenciamos serviços de elevada qualidade, com níveis de segurança elevados e com um custo adequado. Temos um foco grande na sustentabilidade. Assumimos o compromisso público de ter todo o equipamento elétrico até 2033.
Nós servimos os clientes dos nossos clientes. O meu cliente é a TAP mas também os clientes da TAP, os passageiros. Ao focarmo-nos nisso, entregamos um serviço com valor e os clientes apreciam.
Segundo o plano de reestruturação, a TAP é suposto vender a participação de 49,9% que tem na Groundforce. Tem alguma indicação de quando é que isso pode acontecer?
Sei que faz parte do plano, mas não sei quando o vão fazer. Não é algo que eu possa influenciar ou controlar.
O preço requerido para comprar as ações da TAP já está definido?
Há uma fórmula e concordámos em contratar um auditor independente que irá avaliar a companhia nessa altura. Não somos nós nem a TAP que determina o preço das ações.
No lugar da TAP, eu gostaria de manter alguma influência em relação à Groundforce e à sua gestão. Por outro lado, as companhias aéreas quando avaliam outra companhia não estão interessadas nos serviços acessórios, como o handling, o fuel ou a carga.
A TAP deveria vender as ações da TAP antes da privatização?
É difícil de responder. A TAP depende muito da Groundforce. Se a Groundforce cair, a TAP terá dificuldade em voar. No lugar da TAP, eu gostaria de manter alguma influência em relação à Groundforce e à sua gestão. Por outro lado, as companhias aéreas quando avaliam outra companhia não estão interessadas nos serviços acessórios, como o handling, o fuel ou a carga. Estão interessadas nos direitos de sobrevoo, nos slots nos aeroportos e na frota. Vão-se focar só nisto e desvalorizar os serviços acessórios.
Quando a Menzies for formalmente a dona da Groundforce o que irá fazer? Onde vai investir?
Vamos investir em novo equipamento e vamos reestruturar a empresa.
O que será essa restruturação?
Faremos uma avaliação de todos os ativos da companhia, dos trabalhadores, do equipamento. E depois vamos decidir o que fazer com todos esses ativos. A Groundforce tem hoje 3.500 colaboradores em cinco aeroportos. No último verão, a empresa teve dificuldades com a falta de pessoal para responder aos voos adicionais da TAP e de outras companhias aéreas. Acho que não é uma questão do número absoluto de trabalhadores, mas de ter as pessoas nos empregos certos, treinadas para as funções certas e ter uma utilização cruzada. É preciso alargar as capacidades para que possam fazer mais do que um trabalho, o que tornará a empresa mais eficiente. Temos de investir em formação, procedimentos, sistemas e equipamento.
Será necessário contratar mais colaboradores para este verão?
Se, como esperamos, assumirmos o controlo da companhia no início de abril, será um mês e meio antes do verão. Será demasiado tarde. É a atual gestão que deverá estar a planear o que será feito em junho, julho, agosto e início de setembro. Vamos herdar esses planos e continuá-los. Em setembro, vamos avaliar como correu o verão e, com base nessa análise, definir o que tem de ser feito.
Os resultados de 2023 como foram?
Os resultados são bons. Não conheço os números finais, mas as receitas estão a subir. Finalmente superámos os números de 2019. A rentabilidade está a ir bem, até melhor do que o nosso plano de negócios.
A perspetiva para este ano também é positiva?
Sim, muito. Acho que Portugal vai ter um número recorde de turistas, de voos e de carga.
Mal posso esperar por um novo aeroporto. Espero que seja durante o meu tempo de vida.
O aeroporto de Lisboa está lotado, travando o crescimento da operação das companhias aéreas. A Menzies também gostaria de ver uma nova infraestrutura construída rapidamente?
Temos o aeroporto que temos.
Qual é a sua opinião sobre o aeroporto que temos?
Acho que podia ser gerido de forma muito mais eficiente. Quando cheguei esperei 35 minutos no controlo de aeroportos e depois para sair havia uma longa fila na alfândega, porque as pessoas tem de atravessar uma passagem estreita. Temos de aceitar a realidade, mas vamos torná-lo mais eficiente. Onde estão os constrangimentos? No check-in, na segurança, no controlo de passaportes, na saída do passaporte. É focar nestas quatro ou cinco coisas. Podem, por exemplo, criar uma fast track para o controlo de passaportes e cobrar 50 euros.
Gostava que houvesse um novo aeroporto?
Sem dúvida. Mal posso esperar por um novo aeroporto. Espero que seja durante o meu tempo de vida.
Da experiência da Menzies, como deve ser esse aeroporto. Teme que seja demasiado longe de Lisboa?
Se recuar 30 ou 40 anos, os aeroportos eram considerados indústrias e construídos longe do centro das cidades, porque as pessoas viajavam uma ou duas vezes por ano. Hoje, os aeroportos bem-sucedidos estão integrados dentro das cidades. Para mim, o importante é que o aeroporto esteja integrado em Lisboa, seja por TGV ou uma autoestrada dedicada. Não pode demorar duas horas para lá chegar. Isso reduziria a competitividade de Lisboa para atrair viagens de negócios e passageiros em trânsito. A ideia é a “aeropólis”. O aeroporto é parte da cidade e a cidade é parte do aeroporto.
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Novo dono da Groundforce “gostava de ter sentido mais apoio do Governo”
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