A tecnologia tem género?

  • Rita Cadillon
  • 8 Março 2024

O género feminino atravessa ainda um caminho sinuoso para alcançar o sucesso no domínio das tecnologias da informação.

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) são uma vertente incontornável da evolução humana no século XXI. E a aposta na modernização das empresas, do Estado, e do quotidiano de todos nós, assente em áreas como a Inteligência Artificial, a automação, a robótica, entre outras, é uma corrente imparável que molda e marca a História Contemporânea.

Mas quem escreve as páginas desta história? Em teoria, num cenário equilibrado, mulheres e homens em igualdade de oportunidades e de esforço. Na prática, o género feminino atravessa ainda um caminho sinuoso para alcançar o sucesso no domínio das tecnologias da informação.

De acordo com dados do Eurostat publicados em 2023, 54% dos profissionais que trabalham em Ciências e Tecnologias em Portugal são mulheres. Mas se reduzirmos o universo de análise aos especialistas nas TIC apenas 20% são mulheres. E, se quisermos olhar para outro universo linguisticamente próximo do nosso, Angola, são 9,1%, segundo o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Portanto, respondendo à questão colocada no título, a palavra tecnologia, gramaticalmente, é de género feminino. Mas na prática, no mercado laboral, o seu género é predominantemente masculino.

As causas são diversas: a da disparidade de salários, em que as mulheres ganham 12,7% menos do que os homens na UE e 11,9% menos do que os homens em Portugal (Eurostat, 2023), no mercado; o abandono da carreira para abraçar a vida familiar, na ordem dos 7% (Eurostat, 2023) ou os 25% das mulheres referem a ausência de equilíbrio vida-trabalho como uma razão principal para desistir de uma carreira na área da Tecnologia (Mackinsey, 2022). Mas, mesmo em termos educativos, o estímulo às jovens estudantes no domínio tecnológico é bastante menor que noutras áreas ligadas às ciências exatas.

O que há a fazer quanto a estes números e ao desequilíbrio da realidade? Estimular cada jovem mulher a ultrapassar eventuais crenças limitantes, preconceitos sociais e até as probabilidades. O futuro, o nosso amanhã enquanto sociedade, é natural e decisivamente tecnológico. E a necessidade de mão de obra qualificada, mesmo com o avançar da Inteligência Artificial, vai continuar a ser elevada. Por isso se torna tão necessário equilibrar a força de trabalho no domínio tecnológico.

As empresas, aqui, têm uma grande responsabilidade. Mais de 63% das empresas da Fortune 500 na Europa assumiram um compromisso com a igualdade de género por meio da adoção do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável n.º 5 das Nações Unidas. Esperemos que muitas outras lhe sigam o exemplo. Para que a palavra tecnologia seja, efetivamente, uma palavra cada vez mais feminina.

  • Rita Cadillon
  • Head of people & culture na Cegid em Portugal e África

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