Dissidente do PSD assume-se como “rosto” do programa macroeconómico do Chega
Rui Rio chegou a encarar a saída do ex-autarca como um favor e o PSD retirou-lhe a confiança. Chega atribui créditos também a Pedro Arroja mas economista desmente. "Deve haver algum engano".
“O programa eleitoral foi um trabalho feito por todos, feito em equipa“, garantiu ao ECO um dos novos rostos do Chega, mas familiar entre os deputados da bancada do PSD. Eduardo Teixeira, eleito pelo círculo de Viana do Castelo, regressa ao Parlamento, dois anos mais tarde, mas desta vez como membro da equipa de André Ventura.
Ao ECO, o deputado garante ser “um homem livre” e que a mudança de equipa não se deveu nem a “motivos pessoais”, nem por “melhores oportunidades dentro do [novo] partido”, tendo sido apenas motivada pela “necessidade de participar numa mudança da direita”. “Há que construir essa alternativa“, explicou.
Mas dentro do PSD — mais concretamente da parte do ex-líder Rui Rio — a saída de Eduardo Teixeira para o Chega foi até encarada como um favor. “Já não sabíamos como nos havíamos de ver livres do dr. Eduardo Teixeira e o Chega levou-o, prestaram-nos um enorme serviço“, disse o ex-presidente do PSD, citado pela Sábado. O partido retirou-lhe a confiança.
O deputado acusou Rui Rio “de guardar rancor por não o ter apoiado na última eleição interna“.
Além de ser um dos 48 deputados do Chega, tendo sido eleito com 26.635 votos, terá sido também um dos economistas ouvidos pelo partido aquando da elaboração do programa macroeconómico. Fonte oficial do Chega confirma-o ao ECO, mas Eduardo Teixeira não assume os louros. “Quem fez o programa foi o Chega, enquanto partido. Foi um trabalho feito por todos, feito em equipa. Eu apenas e só fui o rosto da apresentação do programa na convenção“, diz-nos, o também diretor bancário de 51 anos, formado em Economia e Gestão Financeira.
Mas antes de chegar ao Parlamento, Eduardo Teixeira também foi vereador da Câmara Municipal de Viana do Castelo, vice-presidente do International Club of Portugal (ICPT) e membro do Conselho Diretivo do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários.
Na altura da apresentação do programa durante a convenção do partido, em janeiro último, precisamente em Viana do Castelo, que Eduardo Teixeira revelou ser “amigo de longa data” de Ventura, tendo assistido de perto (e da bancada ao lado) às intervenções do líder do partido, desde do tempo em que era apenas o único deputado. “Sou admirador de Sá Carneiro, sou admirador de André Ventura“, afirmou perante os militantes.
Fonte oficial do Chega confirmou ao ECO que José Pedro de Almeida de Arroja, mais conhecido por Pedro Arroja, voltou a fazer parte da equipa macroeconómica do partido. No entanto, contactado pelo ECO, o economista desmente frisando não ter tido “qualquer interferência na elaboração do programa do Chega” e, detalhando não estar, sequer, familiarizado com Eduardo Teixeira. “Deve ser algum engano”, diz.
Pedro Arroja já fez parte da equipa económica do Chega no passado. Em 2022, foi quem apresentou o programa macroeconómico do Chega (na foto), e no início deste ano, numa entrevista ao Sol, chegou mesmo a prestar esclarecimentos sobre a proposta do Chega de igualar as pensões ao nível do salário mínimo nacional. “Fui o autor da estimativa“, diz. Mas a sua participação no partido fica-se por aqui.
Ao ECO, fonte oficial do Chega reconhece que “uma das principais ideias do programa, o aumento das pensões para um patamar mínimo, foi trabalho pelo Pedro Arroja, como aliás ele próprio o assumiu“, mas não presta mais esclarecimentos sobre o assunto.
Outrora professor na Universidade do Porto, cronista no Jornal de Notícias e comentador no Vida Económica, programa da rádio TSF, Arroja nunca se acanhou de partilhar opiniões polémicas. Em 2015, enquanto comentador regular no Porto Canal, considerou as deputadas do Bloco de Esquerda como “meninas esganiçadas“, e isso valeu-lhe uma queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
Mas a sua voz polémica não começou aqui. No passado, Arroja já tinha saltado para a ribalta quando partilhou visões ultraconservadoras sobre o papel da mulher, a adoção homossexual e a própria existência de Deus. E, numa entrevista à Visão, em 2007, chegou mesmo a admitir que “o Portugal de Salazar, a Espanha de Franco e o Chile de Pinochet foram exemplos de milagres económicos”.
Mesmo envolto em polémicas, o economista de 70 anos, nascido em Lisboa — formado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (1977), de Ottawa (1979) e doutorado pela Universidade de Carleton (1986) onde mais tarde foi docente — foi apelativo para o partido de André Ventura. Numa entrevista à Visão, em 2021, o também gestor de ativos, admitiu nunca ter-se sentido “tão próximo de um partido”, admitindo tornar-se militante.
Deixar de crescer “poucochinho”
Feitas as apresentações, olhemos para o programa macroeconómico do Chega.
A proposta coloca a redução da carga fiscal, combate ao desperdício orçamental e fiscalização da economia paralela como três das principais prioridades da próxima legislatura. Segundo o programa, as medidas inscritas permitiriam tornar o país “mais competitivo” e alcançar um crescimento do produto interno bruto (PIB) anual superior a 3%. A meta é superior àquela traçada pela Aliança Democrática, que prevê um crescimento de 3,4% até ao final da legislatura e do PS (2%).
Eduardo Teixeira explica que a ambição prende-se com a necessidade de “meter o país a crescer mais”. “O país tem que deixar de crescer poucochinho. Tem que ter um crescimento robusto“, explica ao ECO o deputado.
A peça chave é, no entanto, o combate à economia paralela, algo que, segundo Eduardo Teixeira, permitiria o país crescer ainda mais do que os 3% anuais previstos. A estratégia, indica o plano, passa por uma simplificação fiscal e de um aumento “significativo da fiscalização”, com o objetivo de recuperar 20% por ano. Segundo as contas do partido, serão cerca de 89 mil milhões de euros ano.
De que forma? “Não é muito difícil, há estudos que apontam para milhares de milhões de euros perdidos na economia paralela. É preciso fiscalização e uma vontade absoluta”, explica Eduardo Teixeira, recusando fazer uma avaliação sobre o que foi feito nesta matéria em legislaturas anteriores. “Estamos focados no presente e no futuro”, disse.
Em sede de carga fiscal, o Chega propõe que a redução passe pelo desagravamento da taxa de IRC para 15% nas empresas com sede social nos concelhos do interior e por um aumento do limite de isenção de IVA para Trabalhadores Independentes e Empresários em Nome Individual (ENI). Ademais, propõe ainda o desagravamento fiscal das “empresas que utilizam o lucro gerado para o reinvestimento no negócio e para a criação de emprego”. Tudo isto, afirmam, permitira aumentar o investimento e crescimento do tecido empresarial.
Sobre a redução da dívida — tanto PS como AD projetam um rácio próximo dos 80% do PIB em 2028, nos seus programas eleitorais — o Chega não tem nenhuma meta prevista, tendo apenas inscrito o objetivo de a reduzir “em montante face ao PIB”, explica Eduardo Teixeira. “Com os governos socialistas, a dívida ultrapassou os 120%. Há neste momento uma redução da dívida percentual, face ao PIB, mas não em montante. Essa é a nossa meta”, garante.
Notícia atualizada às 12h01, de 14 de março de 2024, com o desmentido de Pedro Arroja sobre a participação no programa macroeconómico do Chega e esclarecimentos do partido.
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