Editorial

Vendam a TAP, e já

Os lucros históricos da TAP têm muito mais que se lhe diga, e escondem aumentos salariais que estão (outra vez) a pressionar as contas. Vendam já a TAP.

Uma das primeiras decisões do novo Governo será a privatização da TAP, processo que foi interrompido com a crise política e a marcação de eleições. Os resultados de 2023 — a leitura fina do que está por detrás do anunciado recorde de lucros — mostram que a reprivatização deve avançar o quanto antes.

Quando a administração da TAP foi anunciando os resultados trimestrais de 2023, ouviram-se muitas vozes a defender que o Governo, afinal, não deveria avançar com a reprivatização. Depois da injeção de mais de três mil milhões de euros, a TAP voltou aos lucros e criou-se a ideia de que tínhamos descoberto um filão. Sem perceberem que o negócio da aviação é de capital intensivo, precisa de escala, tem de ter, como outros, um grande foco nos custos, e depende de um sempre imprevisível desempenho do turismo. Todas estas condições, e o passado histórico, aconselhavam o Governo a manter a pressão na venda, mas os portugueses gostam de ser donos de empresas, mesmo daquelas que são sobretudo problemas (e não gostam muito daquelas que dão lucros, como se sabe).

Os resultados de 2023 são enganadores (e foram bem ‘vendidos’, também). A TAP teve lucros de 177,3 milhões de euros em 2023. O resultado ficou, no entanto, abaixo dos 203 milhões averbados até setembro, com a companhia aérea a voltar aos prejuízos no último trimestre. E onde estão estes prejuízos? A TAP transportou mais passageiros e teve mais receitas no quarto trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Já o resultado líquido teve o comportamento oposto. De lucros de 156,4 milhões de euros em 2023, a companhia passou para um prejuízo de 26,2 milhões. Boa parte da explicação está nos custos extraordinários decorrentes dos novos acordos coletivos assinados pela nova administração com os sindicatos.

Assim, a companhia aérea registou nas contas do quarto trimestre custos extraordinários com pessoal de 54 milhões, que justifica com os novos acordos de empresa, a que somam 25 milhões em custos com pessoal relativos a outros trimestres. Ao todo são 79 milhões de euros que pesaram nesta rubrica, que aumentou 148% entre 2022 e 2023, somando 270,4 milhões. Foi este o custo da paz social.

Como o ECO revelou em primeira mão, o ministro Fernando Medina chamou o CEO da companhia, Luís Rodrigues, e obrigou-o a renegociar o que já fechado com os sindicatos porque a companhia estava a violar o acordo de reestruturação com Bruxelas… e acima de tudo a pôr em causa o valor da venda, que será necessariamente menor por causa destes acordos salariais. O mal está feito.

Os sindicatos, desde logo o dos pilotos, renegociaram em posição de força. Receberam aumentos à cabeça, e estenderam os contratos para lá de 2026, para passar o escrutínio do controlo de Bruxelas, e das Finanças. O último que feche a porta.

É por estas, e por outras, que a venda da TAP deve estar na primeira linha das prioridades, com a garantia de que se protege o hub, esse sim um ativo verdadeiramente estratégico.

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